Situação de vôo
O momento por que passa a aviação comercial e, em especial, a aviação brasileira, leva-nos a tentar raciocinar sobre o porque de termos chegado à sua situação de quase insolvência, abrangendo este resultado a quase totalidade das empresas aéreas. Se voltarmos a memória, há duas décadas vamos registrar a falência da Pan Am, a maior empresa aérea mundial, e que não se sustentou diante de um mercado predatório alimentado por política suicida, desregulamentado de forma irresponsável. Já neste século, vimos empresas européias serem socorridas pelos governos com o objetivo de salvá-las da bancarrota. Milhões de dólares reforçaram os caixas dessas empresas agraciadas pelos respectivos governos.
Aqui no Brasil, assistimos recentemente ao encerramento das atividades da Transbrasil, e agora para apreensão e perplexidade dos bons brasileiros, vemos a Varig, a maior empresa aérea da América Latina e, até bem pouco tempo, referência de empresa aérea no mundo, laureada com vários prêmios por entidades e mercados internacionais, atravessando a maior crise de sua história e forçada a aceitar a imposição dos credores. Nada mais normal no mundo dos negócios seria, se os principais credores não fossem empresas estatais. Sim, estatais, controladas pelo governo que deve à Varig, com vitórias da empresa aérea já em duas instâncias, importância suficiente para reforçar o caixa e fortalecer a empresa para novos vôos. A Transbrasil, em ação homônima, venceu e recebeu. São ações interpostas contra congelamentos de tarifas em planos de dois governos, que geraram significativo prejuízo a todas as empresas. A Varig também interpôs.
Ainda sobre a insensibilidade do governo, quantas linhas internacionais improdutivas a Varig manteve a pedido do governo, a fim de incrementar relações comerciais e políticas? As operadas com a África seguramente renderam números vermelhos. Mas este é um dos ônus da empresa de bandeira. E o início das operações com a Coréia? Um ano antes do primeiro vôo, a Varig foi informada da concessão, providenciando instalações e outros tantos investimentos naquele país asiático para, surpreendentemente, ver o governo brindar a Vasp com a nova linha.
O que não pode ficar registrado nesta triste página da aviação nacional é este marketing oportunista, alimentado por pessoas que desconhecem parte desta história, que visam direcionar a opinião pública ao errôneo raciocínio de que somente desmandos ocorreram na administração, esquecendo de que a concorrente TAM, que até bem pouco tempo revelava-se como empresa padrão, também se encontra em situação semelhante, registrando prejuízos, menores, sim, mas proporcionais ao tempo de vida e ao porte do negócio. Feliz o país que tem história e reconhece seus valores.
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