Crônica
sábado, 14 de abril de 2018
O diagnóstico de Cervantes
O diagnóstico de Cervantes “Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamentos, como pendências, batalhas, desafios, feridas, requebros, amores, tormentas, e disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de sonhadas invenções que lia, que para ele não havia história mais certa no mundo.”
sexta-feira, 16 de março de 2018
Dai à história o que é da história e à memória o que ela escolher
Por que se importar com o cotidiano de gente comum que vive a cidade? Uma cidade. Qualquer cidade. O que fazer dessas memórias de um dia a dia que não é história? Fragmentos da vida de gente simples, humilde, que ocupa calçadas com cadeiras e conversa enquanto a Avenida Paulista dá passagem às massas? Que importa?Muito talvez.
terça-feira, 13 de junho de 2017
Dona Maria
Faz tempo que não escrevo sobre coisas minhas. Escrevo muito, é verdade, mas quase sempre sobre assuntos que me tangenciam apenas, sem grandes reflexos interiores. Esse processo ― que costuma travestir-se de objetividade ― obriga-me a certo distanciamento do objeto, esta fórmula que vicia o olhar, de sorte que, passado algum tempo, somem-se as minhas crônicas, os meus contos, os meus dizeres que vêm de dentro. Não há tempo nem espaço para contemplar histórias, pensar o mundo pelo mundo. Parece que só se escreve quando não se tem nada a dizer, um nada cheio de tudo, porém, que parece certo, exato, que se refira a coisas que se deixem medir e pesar. Não há tempo a perder tentando ver o outro.
domingo, 30 de abril de 2017
Uma Kombi de encher olhos
Essa aconteceu com um amigo meu que morou em Paris muitos anos atrás, e agora acabou de voltar pra cidade-luz. A história se passou nos anos 80, durante a primeira temporada dele na capital francesa. Seu pai, riponga na década anterior, era o feliz proprietário de uma Kombi azul por fora e, se bem me lembro do relato, laranja por dentro. Qualquer coisa de impensável nos caretas dias de hoje, mas perfeitamente normal pra psicodélica geração Woodstock.
segunda-feira, 3 de outubro de 2016
O Cachorro e o Dono
Volta e meia recebo mensagens de gente que recém adquiriu um amigo cão. Normalmente quem me escreve o faz porque adquiriu um lhasa apso e está enfrentando o processo de adaptação. Cheiros, xixis, cocôs, coisas roídas. Enfim, é como receber um hóspede que, além de não falar a nossa língua, desconhece nossos hábitos e não acha que exista absolutamente nada de errado em fazer xixi ou coco, os dois até, bem no meio do tapete novinho da sala. E quando, à beira da histeria, reclamamos disso com nosso hóspede, este último nos olha com cara de paisagem, sem atinar com a razão de tanto barulho, e parece até nos dizer: — Afinal, é só um cocô ou um xixi, não é? Todo mundo faz isso! Você também não faz?
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Henrique é o culpado?
Em tempos de tantos tons de cinza, será que homens e mulheres sabem quem foi Henrique? Foi ele, Henrique II, o primeiro homem do planeta a baixar uma calcinha. Porque Henrique II era o rei da França, marido de Catarina de Médici. Logo, coube a ele o privilégio de executar o primeiro abaixamento de calcinha da História da Humanidade. Hoje, efígies na Basílica de Saint-Denis, Catarina de Médici e Henrique II parecem eternos namorados...