Passados quase duzentos anos da sua morte, Napoleão continua a ser fonte de
apaixonada controvérsia, mas que nada tem a ver com o modo como exerceu o poder
e desenvolveu estratégias militares, dominando a Europa com mão de ferro e
coroando a si próprio como imperador. Trata-se antes de um pequeno motivo, mas
que consegue dividir biógrafos e historiadores, alimentar um caudal de artigos
e teorias, umas mais conspirativas do que outras, mas todas à volta de uns,
aparentemente, muito importantes 13 centímetros: media Napoleão 1,57 ou 1,70
metros? E esta disparidade resulta apenas da diferença entre as polegadas
francesa e inglesa? Ou é obra da propaganda britânica que apostava no desgaste
da imagem do líder francês e da contrapropaganda que visava engrandecê-lo?
Talvez nunca venhamos a saber. Surpreendente? Nem por
isso, quando, na atualidade, a altura de Kim
Jong-il, o líder norte-coreano, é tratada como um segredo de Estado, Putin
usa todos os artifícios para iludir a sua baixa estatura, Berlusconi declara
publicamente ser mais alto do que Sarkozy e este passou a usar um saltinho e a
mulher, Carla Bruni, sapatos baixos. Afinal, há casos em que o tamanho conta,
ainda que por aqui continue a prevalecer a sabedoria popular: “Os homens não se
medem aos palmos”
Com o seu 1,57 metros (menos dez centímetros do que o
seu antecessor, Vladimir Putin), o
homem que preside à Rússia desde Maio de 2008, Dmitry Medvedev é o mais recente elemento e provavelmente o mais
baixo de uma apreciável galeria de líderes mundiais de estatura pequena — a
dúvida deve-se a Kim Jong-il: a sua altura nunca foi revelada, estimando-se na
imprensa internacional que se situe entre 1,55 e 1,65 metros, aumentando cerca
de dez centímetros com os sapatos de plataforma.
Já Nicolas
Sarkozy optou, após o casamento com Carla
Bruni — que com o seu 1,70 metros mede mais cinco centímetros do que o
marido — por sapatos com saltos (internos) de sete centímetros e que se vendem,
segundo preços anunciados na Internet, entre os dois mil e os 30 mil euros.
Mais centímetro menos centímetro é a ressalva que
importa fazer, tendo em atenção diferentes fontes de informação e o que diz o
próprio, caso em que Sílvio Berlusconi é
exemplar: o primeiro-ministro italiano afirma que mede 1,70 metros, mas a maior
parte das referências à sua altura diminuem-na em cinco centímetros.
Em causa estão padrões. Quem se afasta da média — para
baixo ou para cima — pode acabar por ser objeto de atenção ou, temendo sê-lo, desenvolver
um complexo. Regressemos ao imperador francês: complexo de Napoleão ou síndrome
de Napoleão são designações para o Síndrome do Homem Baixo ou do Pequeno. Um
complexo de inferioridade que seria o responsável pela maior agressividade comumente
atribuída aos mais baixos, que assim tentariam dominar os mais altos e
sobreviver num mundo hostil.
Uma teoria que, afinal, poderá não passar de um mito, a
avaliar por um estudo realizado há dois anos pelo psicólogo Mike Elsea, da
Universidade de Central Lancashire. “Quando as pessoas vêem um homem pequeno a
ser agressivo tendem a pensar que isso se deve ao seu tamanho apenas porque
esse atributo é óbvio e lhes capta a atenção.” Ao contrário, neste teste à
agressividade foram os homens mais altos a reagir pior.
A História também fornece exemplos: o antigo ditador do
Iraque Saddam Hussein tinha 1,87
metros; Bin Laden, líder da Al-Qaeda, será, segundo o FBI, ainda mais alto. O
tamanho conta? A resposta fica obrigatoriamente em aberto. A única evidência é
que, altos ou baixos, todos são homens.