Baixinhos invocados

domingo, 1 de março de 2009

De Napoleão a Medvedev, a História está repleta de líderes de baixa estatura física, os baixinhos. Há casos em que a altura se torna assunto de Estado.

Baixinhos invocados







Passados quase duzentos anos da sua morte, Napoleão continua a ser fonte de apaixonada controvérsia, mas que nada tem a ver com o modo como exerceu o poder e desenvolveu estratégias militares, dominando a Europa com mão de ferro e coroando a si próprio como imperador. Trata-se antes de um pequeno motivo, mas que consegue dividir biógrafos e historiadores, alimentar um caudal de artigos e teorias, umas mais conspirativas do que outras, mas todas à volta de uns, aparentemente, muito importantes 13 centímetros: media Napoleão 1,57 ou 1,70 metros? E esta disparidade resulta apenas da diferença entre as polegadas francesa e inglesa? Ou é obra da propaganda britânica que apostava no desgaste da imagem do líder francês e da contrapropaganda que visava engrandecê-lo?

Talvez nunca venhamos a saber. Surpreendente? Nem por isso, quando, na atualidade, a altura de Kim Jong-il, o líder norte-coreano, é tratada como um segredo de Estado, Putin usa todos os artifícios para iludir a sua baixa estatura, Berlusconi declara publicamente ser mais alto do que Sarkozy e este passou a usar um saltinho e a mulher, Carla Bruni, sapatos baixos. Afinal, há casos em que o tamanho conta, ainda que por aqui continue a prevalecer a sabedoria popular: “Os homens não se medem aos palmos”




Com o seu 1,57 metros (menos dez centímetros do que o seu antecessor, Vladimir Putin), o homem que preside à Rússia desde Maio de 2008, Dmitry Medvedev é o mais recente elemento e provavelmente o mais baixo de uma apreciável galeria de líderes mundiais de estatura pequena — a dúvida deve-se a Kim Jong-il: a sua altura nunca foi revelada, estimando-se na imprensa internacional que se situe entre 1,55 e 1,65 metros, aumentando cerca de dez centímetros com os sapatos de plataforma.


Nicolas Sarkozy optou, após o casamento com Carla Bruni — que com o seu 1,70 metros mede mais cinco centímetros do que o marido — por sapatos com saltos (internos) de sete centímetros e que se vendem, segundo preços anunciados na Internet, entre os dois mil e os 30 mil euros.







Mais centímetro menos centímetro é a ressalva que importa fazer, tendo em atenção diferentes fontes de informação e o que diz o próprio, caso em que Sílvio Berlusconi é exemplar: o primeiro-ministro italiano afirma que mede 1,70 metros, mas a maior parte das referências à sua altura diminuem-na em cinco centímetros.

Em causa estão padrões. Quem se afasta da média — para baixo ou para cima — pode acabar por ser objeto de atenção ou, temendo sê-lo, desenvolver um complexo. Regressemos ao imperador francês: complexo de Napoleão ou síndrome de Napoleão são designações para o Síndrome do Homem Baixo ou do Pequeno. Um complexo de inferioridade que seria o responsável pela maior agressividade comumente atribuída aos mais baixos, que assim tentariam dominar os mais altos e sobreviver num mundo hostil.

Uma teoria que, afinal, poderá não passar de um mito, a avaliar por um estudo realizado há dois anos pelo psicólogo Mike Elsea, da Universidade de Central Lancashire. “Quando as pessoas vêem um homem pequeno a ser agressivo tendem a pensar que isso se deve ao seu tamanho apenas porque esse atributo é óbvio e lhes capta a atenção.” Ao contrário, neste teste à agressividade foram os homens mais altos a reagir pior.

A História também fornece exemplos: o antigo ditador do Iraque Saddam Hussein tinha 1,87 metros; Bin Laden, líder da Al-Qaeda, será, segundo o FBI, ainda mais alto. O tamanho conta? A resposta fica obrigatoriamente em aberto. A única evidência é que, altos ou baixos, todos são homens.


Autor: Celso Mathias
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