Com a inadimplência de 100%%, quem paga a conta?
Para evitar drásticos efeitos sobre o Brasil, a equipe econômica e o Banco Central, vem elaborando planos de ação com injeções pesadas de recursos públicos, a fim de dar fôlego às grandes e poderosas instituições dos mais diversos segmentos do mercado, seriamente ameaçados pela “marolinha” causada pelo tsunami mundial.
A preocupação maior no momento é corrigir os
desequilíbrios internos do sistema econômico, financeiro, produtivo, com o
propósito de que lá na ponta final, sejam mantidas vivas as galinhas dos ovos
de ouro, no caso, nós, cidadãos honestos, trabalhadores, pagadores de impostos,
atraídos, assediados, estimulados, induzidos e espoliados pelo crédito fácil,
de taxas de juros de até 200% ao ano, responsáveis pelos lucros estratosféricos
dos nossos bancos.
Em termos de alavancagem através dessa farra creditícia
nos mais diversos setores e a enxurrada de papel espalhada por todo sistema
bancário brasileiro, existe alguma diferença do modelo americano que concentrou
mais no mercado imobiliário? Sinceramente, guardadas as devidas proporções, não
vejo nenhuma.
Tivéssemos a oposição de anos atrás, certamente a
classe trabalhadora já estaria mobilizada com lideres sindicais pregando o
calote geral, o não pagamento das extorsivas prestações e até movendo ações de
danos morais contra governantes e banqueiros inescrupulosos, pela forma que
foram atraídos, assediados, estimulados e induzidos a comprometer renda futura
de até 72 meses para adquirir bens de vida útil limitada.
As grandes empresas que perderam bilhões com
especulação na ponta contrária do dólar, que espernearam, ameaçaram tomar
providencias judiciais contra governo e agentes financeiros, de alguma forma já
estão sendo compensadas.
As vísceras dos intermediários financeiros estão
escancaradas e o mundo tem consciência de que as dívidas astronômicas imputadas
a todos consumidores são fictícias, irreais e alavancadas através de cálculos e
projeções mirabolantes com o intuito de favorecer e locupletar governos,
banqueiros, políticos e grandes empresários.
Quem já pagou um terço das prestações contratadas, rolou
os saldos dos cheques especiais e pagou o mínimo exigido pelos cartões de
crédito por cinco vezes, sabe que já quitou a divida muito além do que deveria,
considerando uma taxa de juros compatível com a realidade.
Governos de todo mundo estão gastando rios de dinheiro
para enquadrar suas economias a um novo modelo econômico financeiro de bases
sólidas, confiáveis, reais, praticando por enquanto taxas próximas de zero,
isto até que se chegue ao fundo do poço, pois a única certeza que se tem até
agora é de que “o buraco continua cada vez mais embaixo”.
Na contramão da história e a fim de garantir o “natal
excepcional” que todos merecemos, nossas equipes econômicas acabam de tomar
medidas expansivas do crédito, mantendo as mesmas perversas condições, alimentando
e empurrando com a barriga, este monstro que certamente deverá explodir, ou
parir, no segundo semestre.
Por que ninguém falou até agora ou apresentou uma
proposta para aliviar a parte mais fraca, nós, o povão, as galinhas dos ovos de
ouro, cidadãos honestos, trabalhadores e pagadores de impostos?
Com todos os parâmetros furados, o mundo inteiro
reconhecendo que estava tudo errado e que é vital um novo reordenamento
mundial, por que não renegociar os contratos das pessoas físicas em bases
atuais, ou até que tudo se acalme, anistiar algumas prestações dos endividados,
ficando o governo com parte da conta (nós de novo), deixando o saldo para os
banqueiros, principais responsáveis por tudo isto? E mais, porque não premiar
com descontos significativos aqueles que ainda estão conseguindo pagar suas
prestações e cartões de crédito em dia?
Medo de que os poderosos banqueiros de coração duro mas
que amolecem e pedem arrego jogando a bomba no colo do governo quando o fogo
lhes atinge o rabo, possam causar um problema social sem precedentes com
demissões em massa?
Será que as galinhas dos ovos de ouro sendo obrigadas a
elevar a inadimplência para 100%, não causaria um problema pior?
Ou estas pobres galinhas são fáceis de serem abatidas e
não merecem respeito e credibilidade?
José Abreu é Administrador de Empresa autor do livro “O Último Imbecil do Mercado de Capitais” publicado 1987.