Com os 800.000 dólares. Paul, vendo que
imóveis não paravam de valorizar, comprou três casas em construção dando como
entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares que Paul
recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) pra ele, deu
um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou TV de
plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1634 cuecas. Tudo financiado, tudo a
crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de
crédito.
Em agosto de 2007 começaram a correr boatos
que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o Paul tinha dado
entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham
mais liquidez...
O negócio era refinanciar a própria casa,
usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil... parecia
fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o Paul
pagava começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e o Paul percebeu que seu
investimento em imóveis se transformara num desastre.
Milhões tiveram a mesma idéia do Paul.
Tinha casa pra vender como nunca.
Paul foi agüentando as prestações da sua
casa refinanciada, mais as das três casas que ele comprou, como milhões de
compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos
notebooks, da TV de plasma e do cartão de crédito.
Aí as casas que o Paul comprou para
revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste
momento Paul achava que já teria revendido as três casas mas, ou não havia
compradores ou os que haviam só pagariam um preço muito menor que o Paul havia
pago. Paul se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que
ele morava e das três casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos
ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.
Milhões de Pauls deixaram de pagar aos
bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os
bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Pauls em títulos
negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a
inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer pó.
Bilhões e bilhões em títulos passaram a
nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado,
principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e
asiáticos.
Os preços dos imóveis eram uma bolha, um
ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A
inadimplência dos milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que
perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba.
Acabou.
Com a inadimplência dos milhões de Pauls,
os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de
consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia
crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.
O que começou com o Paul hoje afeta o mundo
inteiro. A coisa pode estar apenas começando. Só o tempo dirá.
Em 15 de setembro passado,o Lehman Brothers
pediu falência, desempregando mais de 26 mil pessoas e provocando uma queda de
mais de 500 (quinhentos) pontos no Índice Dow Jones, que mede o valor ponderado
das ações das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores de New York -
a maior queda em um único dia, desde a quebra de 1929 ...
Esse dia, certamente, será lembrado para
sempre na historia do capitalismo