Várias são as cenas em que, enquanto o
miserável malfeitor era julgado, o patíbulo já estava sendo construído, tanta a
intenção na condenação. E sempre era um julgamento justo e imparcial.
Não é outro o cenário produzido pela Justiça de São
Paulo que levou a júri popular Alexandre Nardoni e Anna Jatobá, acusados pelo
assassinato da menor Isabelle, recentemente realizado e que decidiu pela
condenação do casal. Todos os lances cinematográficos hollywoodianos se fizeram
presentes.
Estavam lá inúmeras câmeras de canais de televisão,
centenas de repórteres fotográficos, sem número de profissionais da mídia
impressa, público sedento de vingança, representantes da acusação e defesa e,
como não podia deixar faltar, os inimigos públicos, os vilões da história,
aqueles que reencarnaram o próprio demônio na Terra. Senhoras e senhores para o
cadafalso o casal Nardoni!
Para que não pairem dúvidas, necessário deixar claro
que tenho ciência que um crime bárbaro foi cometido e, ainda, não defendo a
impunidade; todavia, não se pode esquecer que o encarceramento de qualquer
pessoa exige a certeza inequívoca de sua culpabilidade porque é esta
irretorquível certeza que traz credibilidade ao Tribunal do Júri e à Justiça
como um todo; é o que produz a aceitação de suas decisões.
O que se viu nos cinco dias que durou o julgamento, no
entanto, foge à regra da boa justiça e não dignifica o Tribunal: acusação
alicerçada em suposições emanadas de laudos periciais discutíveis (qualquer
conclusão em qualquer laudo é discutível), corpo de jurados fortemente
influenciados pelo brilhante trabalho desenvolvido pela mídia, populares
endeusando a promotoria e agredindo os profissionais da defesa, enfim uma
pré-condenação digna dos filmes de caubói. Faltou somente a construção da
forca.