A crescente cruzada antitabagista nos Estados Unidos eliminou a possibilidade de se poder fumar em restaurantes, bares, danceterias, lugares públicos, jardins e agora, num ataque sem misericórdia, levou a proibição ao último reduto que ainda restava aos fumantes: a sua própria casa. Num gesto sem precedentes, a administração de um prédio de Nova York proibiu recentemente que novos condôminos possam fumar nos seus apartamentos.
A medida foi tomada no seguimento de várias queixas dos moradores, que alegavam que o cheiro de cigarros da casa dos vizinhos viajava até aos seus apartamentos pelos dutos do sistema de ventilação e aquecimento. O número 180 de West End Avenue, próximo do célebre Lincoln Center, com 452 apartamentos, tornou-se assim o primeiro prédio de habitação própria no país a proibir integralmente o fumo.
Bem-estar – “A nossa preocupação principal é o bem-estar e a segurança dos nossos condôminos. As reações têm sido bastante positivas. As pessoas vêm ter comigo e mostram-se bastante satisfeitas com a medida”, afirma Scott Wechler, atual presidente da administração do prédio.
Mas os críticos consideram a proibição como um sinal exterior de fundamentalismo. E nem todos os que se opõem à medida são fumantes. Edward Hudgins, diretor do Objetivist Center – uma organização que nos seus estatutos advoga a promoção “dos valores da razão, individualidade e liberdade na cultura americana” – nunca fumou, mas encara a decisão do prédio nova-iorquino como um atentado às liberdades individuais dos seus moradores. “Por que razão eles não consideraram outro tipo de medidas, como a instalação de filtros nos sistemas de ventilação? Depois, fiscalizar esta proibição será quase impossível. Será que a administração do prédio vai fazer inspeções de surpresa e obrigar os moradores a abrirem as portas das suas casas?”, interroga Edward Hudgins, acrescentando: “Este é mais um exemplo da crescente cultura americana de paternalismo e intolerância, cujos efeitos na sociedade são bem mais perniciosos e nocivos do que a fumaça do cigarro.”
Lista de restrições – Segundo a decisão do prédio nova-iorquino, a proibição só será aplicada a pessoas que comprem apartamentos no futuro, podendo os atuais proprietários continuar a fumar nas suas casas. Mas nem só de cigarros vivem as proibições decretadas em prédios norte-americanos. A lista de restrições aumenta significativamente no caso dos apartamentos alugados, onde os senhorios possuem um maior espaço de manobra para impor as suas vontades. Em grandes cidades, como Nova York ou Los Angeles, é raro encontrar um apartamento para alugar onde seja permitida a presença de cães, gatos ou mesmo periquitos. Em alguns edifícios, os inquilinos não podem pendurar quadros nas paredes ou fazer qualquer alteração estética aos apartamentos, como mudar o carpete ou pintar a sala.
Segundo os proprietários, a razão principal por trás das proibições aos inquilinos tem a ver com a manutenção dos apartamentos. Mas com as rendas médias em Los Angeles rondando os 1.500 dólares mensais e em Nova York os 2.000, as associações de inquilinos consideram as proibições restritivas demais, tendo em conta o elevado lucro dos proprietários dos imóveis
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Não fumar – a cruzada anti-tabagista nos Estados Unidos chegou à casa das pessoas. Num prédio em Nova York, a administração proíbe que novos condôminos possam fumar dentro de sua própria casa
Animais – as restrições nos Estados Unidos são regularmente estendidas aos animais de estimação. É raro encontrar um apartamento para alugar que aceite a presença de cães, gatos ou mesmos periquitos
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