Aos 79 anos, land mark do Rio de Janeiro, o Copacabana Palace continua atualíssimo e glamouroso
Ao cair da noite, a visão da fachada iluminada do Copacabana Palace leva o espectador a instintivamente admirar o enorme edifício, instalado na mais famosa avenida do Rio de Janeiro, a Atlântica. A fachada do hotel, favorecida por torrentes de luz, impõe-se gloriosamente na noite carioca, úmida e abafada. Talvez seja o cenário envolvente, talvez seja o apelo do Rio funcionando... mas a verdade é que não deve haver muitos hotéis capazes de produzir uma primeira impressão tão forte como este. O porteiro, impecavelmente fardado, faz-nos as honras da casa. Um requinte tropical, parece uma definição justa. Isso vê-se na gentileza descontraída dos empregados, aparentemente comprometidos em provar que um hotel de luxo não tem necessariamente de ser uma coisa formal, rígida, cheia de nove-horas. Afinal, é o Rio de Janeiro.
Boa parte da história do Rio de Janeiro escreveu-se aqui – notadamente nos capítulos da boemia, da intriga política e amorosa, da arte e da elegância –, e é precisamente por isso que o “Copa”, inaugurado em agosto de 1923, tem um atrativo tão grande. É um hotel de charme na verdadeira acepção do termo, começando pela estrutura do edifício, nitidamente inspirada nas do Carlton (Cannes) e do Negresco (Nice). Concebido pelo arquiteto francês Joseph Gire, o “Copa” remete inevitavelmente para os loucos anos 20 e ganha por estar rodeado de prédios altos, modernos e despersonalizados: o impacto visual é enorme, nem que seja pelo contraste. Depois, a frequência: pouso privilegiado da alta-sociedade carioca e do “jet-set” internacional – leia-se reis, rainhas, príncipes, princesas, presidentes, líderes políticos, escritores, cientistas e celebridades do mundo do espetáculo -, o livro de ouro do hotel é uma espécie de ‘Who’s who” do século XX. De Eistein a Bill Clinton, passando por Orson Welles, Marlene Dietrich, Robert de Niro, Mário Soares, Nelson Mandela e Lady Diana, não têm conta as assinaturas e dedicatórias de hóspedes famosos. Gente que ajudou o “Copa” a transformar-se numa fonte internacional de mexericos, gente que construiu, ao longo de sete décadas - com a sua presença, as suas histórias, as suas manias, as suas exigências - o mito do Copacabana Palace.
O escritor peruano Mário Vargas Llosa resumiu na perfeição o que queremos dizer. Escreveu ele, no livro de ouro: “Estou feliz por ter passado uns dias neste belíssimo hotel, desta belíssima cidade, que é também, como demonstra este precioso livro, um pedaço da história do nosso tempo. Se estas paredes, tetos, cadeiras e camas falassem, quantas coisas maravilhosas e terríveis contariam!”
Inaugurado em 1923 por Octávio Guinle, o riquíssimo empresário incumbido pelo presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, de construir em Copacabana um “hotel de categoria mundial”, o “Copa” pertenceu à família Guinle até 1989, época em que foi comprado pelo americano James Blair Sherwood, dono e fundador do grupo Orient-Express. Sherwood decidiu comprar o Copacabana Palace depois de constatar que o projeto desenhado por Gire em 1920 tinha características únicas, irreproduzíveis nos tempos atuais. Amante das coisas belas e decidido a juntar o “Copa” à sua “coleção de jóias” no hemisfério Sul, Sherwood conseguiu, ao fim de três anos de negociações, convencer a viúva de Octávio Guinle a vender-lhe o hotel por 23 milhões de dólares. Conquistada a “Grande Dama”, Sherwood não mediu esforços para lhe devolver o esplendor de outras eras. Custo da empreitada: 40 milhões de dólares (!!!), mas os resultados estão à vista: O Copacabana Palace está novamente na lista dos melhores hotéis de luxo do mundo. O “Copa” ocupa uma área de 12.000m2 e comporta, além do edifício principal (com seis andares, 148 quartos e suítes), um edifício anexo com 11 andares (78 quartos e suítes), uma piscina semiolímpica, dois restaurantes - o Pérgula e o Cipriani - e um “court” de tênis.
Piscina de granito negro - As suítes mais luxuosas ficam no 5º (Executive Floor) e no 6º pisos (Penthouse Suítes). Este último, remodelado em 1996, abriga sete suítes com varandas enormes e uma piscina privada de granito negro. A vista daqui é simplesmente fabulosa. O Executive Floor tem 26 apartamentos e suítes e um centro de negócios repleto de mordomias. A restauração dos quartos – de todo o hotel – foi supervisionada pelo decorador Gerard Gallet. As suítes e os corredores do 5º e 6º pisos foram enriquecidos com mobiliário de autor, mármores de diversas proveniências, carpetes orientais e adereços franceses (Canovas) e italianos (Rubelli). As pinturas decorativas – belíssimas – ficaram a cargo do artista Dominique Jardy, cujo talento está particularmente à vista nas paredes do restaurante Cipriani.
Os quartos dos andares inferiores, embora não tão requintados, são de primeira categoria em qualquer parte do mundo, principalmente os que estão virados para a praia. O bom gosto é a tônica geral.
O edifício anexo, em “cima” da piscina, foi restaurado e insonorizado em 1991, e mantém o padrão do edifício principal. Inaugurado em 1948 no local onde antes existiam “courts” de tênis, o anexo ganhou rapidamente identidade e hábitos próprios – a predominância de clientes brasileiros contribuiu para isso – notadamente o desfrute de certas liberdades impensáveis no edifício principal, como receber visitas nos quartos, por exemplo.
Vaivém de gente bonita - A zona da piscina é, para muitos, a melhor do “Copa”. Numa das suas extremidades fica o restaurante Pérgula, que tem um ótimo “buffet”, esplanada e um ambiente descontraído. É lá que se toma o café da manhã, e é lá que assistimos ao vaivém de gente bonita. Na outra extremidade fica o Cipriani, inaugurado em 1994 e eleito pela revista “Hotels” um dos dez melhores restaurantes hoteleiros do mundo. O chefe Francesco Carli veio do hotel Cipriani & Palazzo Vendramini, de Veneza, e trouxe com ele o melhor da cozinha do Norte da Itália.
Finalize-se com o salão “Golden Room” (no 1º andar), antiga sala de espetáculos por onde passaram, nas décadas de 40, 50 e 60, todos os grandes nomes do “show business” mundial - de Ella Fitzgerald, a Josephine Baker, de Nat King Cole a Amália Rodrigues, de Edith Piaf a Ray Charles. O “Golden Room” acolhia igualmente os célebres bailes de carnaval do “Copa”, mas não resistiu à evolução dos tempos e ao incêndio que, em 1953, o destruiu por completo. Reaberto em 1955, o “Golden Room” nunca mais recuperou o brilho dos anos 40 e teve de se adaptar aos novos tempos. Hoje, é um enorme salão destinado a receber eventos sociais de prestígio - recepções, festas e casamentos
|
|
|