Ferrari Di Montezemolo e o fantasma do “Commendatore”
Sob o consulado de Di Montezemolo, a Ferrari vive anos dourados. Mas estará o novo senhor de Maranello, de fato, inovando?
Um Ferrari é como uma mulher bela que desejamos muito, mas que dificilmente conseguimos convidar para jantar. “A frase é de Luca Cordero Di Montezemolo, o dinâmico responsável pela marca, e exprime a essência do seu plano de batalha para os bólidos de Maranello. E este pode ser resumido em duas premissas: excelência e exclusividade!
O rumo é acertado? Tudo indica que sim. Desde a sua chegada aos comandos da empresa, em 1991, as vendas subiram para mais do dobro. De 1995 ao fim do século, a Ferrari quase duplicou também o seu faturamento, evoluindo de 379 para 600 milhões de euros, sendo, no mesmo período, o fabricante de automóveis a acusar o maior crescimento mundial. A distribuição geográfica das vendas, com a marca presente nos mercados mais interessantes do planeta, está muito bem e recomenda-se: em 1999, vendeu 818 carros nos Estados Unidos, 640 na Alemanha, 446 na Grã-Bretanha e 380 na Itália. A excelência exigida aos produtos da marca encontra-se, igualmente, assegurada e bem patente, por exemplo, no transcendente Ferrari 550 Maranello, um dos modelos mais bem concebidos de sempre. Di Montezemolo vende bastante, portanto, mas - e aqui reside a premissa central da visão do homem de ação do Sr. Agneli - não quer vender demais. A exclusividade é uma das pedras de toque da sua estratégia. Fixou a produção anual em 4.000 unidades e jura que assim se manterá pelo menos durante os próximos cinco anos. A escassez de um bem torna-o mais desejado e acrescenta-lhe valor. A banalização, pelo contrário, mata.
Regresso aos princípios? - Até aqui tudo certo, com os resultados comprovando a validade da tese. Mas estará Di Montezemolo de fato inovando? Ou trata-se, simplesmente, de um sensato regresso aos princípios que fizeram da marca Ferrari um símbolo da identidade italiana?
Para tentar responder a estas perguntas, é preciso evocar o commendatore... como se sabe, paixão, exigência e mistério andaram sempre de mãos dadas na construção da lenda humana que foi Enzo Ferrari. Instintivo e obcecado pela excelência, conseguiu, logo a partir de 1947, sucesso imediato para os seus carros, que eram carismáticos, inovadores e excepcionalmente motorizados.
Se, porventura, um dado modelo resultava menos bem, Ferrari desmontava-o peça por peça e recomeçava, uma e outra vez, passando de uma paixão a outra com a mesma intensidade. Por outro lado, e numa atitude aparentemente absurda, desmantelou e transformou em sucata inúmeros Ferraris de série e esportivos. Como os famosos Grand Prix “Nariz de Tubarão”, que deram cartas em todas as competições em 1961 e que valeriam - a preços atuais - algo como três milhões de dólares a peça... Que procurava, já então, Enzo Ferrari? Qualidade, claro, de uma forma quase obsessiva, e - embora de maneira pouco ortodoxa- raridade para as criações do seu gênio mecânico.
Meio século depois, explorando bem uma poderosa máquina de marketing, apostando forte nas vitórias esportivas e preparando-se para pôr em marcha as sinergias do binômio Ferrari/ Maserati, Di Montezemolo parece, afinal, não ter esquecido a essência das lições do velho mestre. A sombra do commendatore talvez paire ainda em Maranello, no grande escritório com cinco janelas, de onde, pelo que se conta, gostava de controlar todas as entradas e saídas
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