A
aplicação do regime de incentivos das empresas à educação infantil traz
surpresas curiosas. Um professor universitário tentou.
As duas filhas de Joshua
Gans, professor da Universidade de Gestão de Melbourne (Austrália), faziam
parte das “crianças que fazem contas de cabeça”, como ele próprio as
classifica. Já o rapaz, nunca revelou estas competências. Sendo economista,
Gans diz que a delicadeza de ser pai está associada ao fato de “a paternidade
envolver muitas escolhas relacionadas com pessoas/crianças que têm preferências
distintas dos pais”. E é justamente pela existência de diferentes prioridades
que acredita que o sistema de incentivos pode aplicar-se à educação infantil e
a situações como a limpeza dos quartos, o comportamento em viagens, a
realização dos trabalhos de casa ou o consumo de refeições saudáveis.
Foi no dia-a-dia que o professor universitário aprendeu
a lidar com o que chama de “o desafio de ser pai”. “Não é algo que se possa
colocar em andamento e se fique a assistindo à distância, até ver como vai
acabar. Envolve gestão permanente e atenção contínua e pouco conhecimento da
experiência com uma criança pode ser transferido para outra”, afirma Gans.
Talvez por isso, a grande surpresa deste pai-economista tenha sido perceber
como uma das suas duas filhas revelava apetências evidentes para a economia:
“Fiquei muito surpreendido quando percebi que a minha mais velha era uma
economista natural e tinha exata noção do custo das suas ações”.
Ao longo deste processo de aprendizagem mútua e
permanente descoberta, Joshua
Gans assume ter cometido inúmeros erros. “A maior
parte das medidas que adotamos pela primeira vez falham miseravelmente”,
recorda. Um dos episódios mais marcantes no livro é a questão de como treinar
as crianças para a utilização autônoma dos banheiros. “Nunca fomos capazes de
usar as nossas habilitações como pais para ter sucesso neste objetivo.
Dependia, exclusivamente, do que a criança desejava fazer. No nosso terceiro
filho, acabamos por desistir e entregar esta tarefa ao serviços externos (as
educadoras)”, afirma Gans. Tudo porque a responsabilização da filha mais velha
pela missão — atribuindo um prêmio cada vez que esta fosse cumprida — fez com
que ela oferecesse repetidos copos de água à mais nova para que a recompensa
fosse maior!
Como os eventos estudados na Economia, as crianças são
imprevisíveis. Basta pensar na gigantesca crise econômica atual e na crise que
se gera quando uma criança se recusa a obedecer às orientações paternas. Tudo
parece derrapar em direção ao desastre. Salvaguardadas as devidas diferenças,
quando o comboio descarrila, seja na economia, seja com os filhos, não parece
haver otimismo capaz de salvar os envolvidos. “Os economistas também trabalham
com o imprevisto e, por isso, nunca me preocupei se as situações não corriam
como o planejado. Apenas tentava algo diferente”, explica Joshua Gans.
O professor universitário confessa, contudo, que não
existem conexões reais entre a disciplina econômica e a missão de educar. A
única grande semelhança, que justifica a existência do livro, “são as
histórias, contadas de uma perspectiva econômica, que podem ajudar outras
pessoas”, afirma.
Quanto ao sistema de incentivos, Gans, mais uma vez,
aposta no humor para explicar a racionalidade da sua tese: “A regulamentação
bancária é tal qual o exercício da paternidade — trata-se de levar alguém a
fazer algo que não quer. E, se o sistema de incentivos (baseado nos prêmios e
nas punições) é negligenciado, as coisas correm mal”.