“É preciso ter muito cuidado para não incomodar
os artesãos porque eles têm de estar concentrados naquilo que estão fazendo!”,
alerta a guia com os olhos muito abertos aos visitantes dos ateliês de Pantin.
Quase como se estivesse falando com crianças, ela mima o equilíbrio do tronco
que exige a laçada cruzada que eles executam, igual à das selas, ponto a ponto,
em todas as costuras das carteiras Hermès. Em nome da durabilidade, da
resistência e da diferença que a marca representa.
Numa tarde de início de Março, longe do burburinho da
palpitante Madeleine, numa zona não tão central de Paris como o Faubourg St.
Honoré onde se encontra a loja-mãe a
fervilhar de clientela, os ateliês de Pantin acolhem olhos curiosos por
desvendar o coração da “linha de produção” das carteiras Kelly e Birkin. São a
sede de 15 ateliês com uma organização semelhante distribuídos por toda a
França e que empregam dois mil artesãos e cortadores de peles. À distância de
um suspiro, e das luvas de flanela que separam das peças prontas todas as mãos
autorizadas a tocar-lhes, eis a linha de produção de onde saem as respostas aos
desejos dos muitos nomes que enchem as listas de espera daqueles modelos.
Cada carteira
Birkin passa pelo menos 18 horas nas mãos de um mesmo artesão desde que se
abre a caixa com as 28 peças devidamente identificadas de três tipos de couro
diferentes que a constituem e que foram previamente cortadas por um
especialista. Pode-se olhar, longamente até, e chega.
As Kellys e
as Birkins parecem ter nome completo e personalidade própria neste universo
paradoxal que é a casa Hermès. Objetos feitos à mão, ou mesmo à medida,
concebidos para durarem 30 ou mais anos no terceiro milênio? Só a Hermès sabe
quantificar a dose exata de tradição e a de inovação que tornam irresistíveis
as 50 mil referências da sua seleção. Sabem que os clientes são tão variados em status e nacionalidades como as possibilidades que se abrem num mercado
global e ao longo de 2009 têm agendada a abertura de 12 lojas em todo o mundo,
três das quais na China.
Como é que se mantém um cliente fiel? “Sendo cada vez
mais nós mesmos”, diz Guillaume De
Seynes, membro do comitê executivo, diretor-geral dos métiers, bisneto de Émile Hermès e sobrinho de Jean Louis
Dumas, dois homens essenciais na afirmação da marca francesa, fundada em 1837.
Ser cada vez mais como si próprio, explicado a partir do escritório de paredes
de vidro com uma estupenda vista sobre Paris, é transformar a equação "excelência dos materiais,atenção ao detalhe e o rigor na execução",em objetos derequinte e qualidade inquestionáveis.Arremata.