O próspero Município de Euclides da Cunha carrega a triste sina de ter sido mal
administrado nas últimas gestões, exatamente aquelas das quais se esperava
mudanças profundas na educação, saúde, meio ambiente e principalmente na
aplicação dos recursos públicos. Os poucos que se propõem a fazer oposição à
força política dominante são literalmente esmagados pelo trator comandado com
muita astúcia, e a inegável habilidade política do deputado José Nunes Soares.
Filho do coletor Glicério Abreu e de Hilda Campos, a Tidinha, nascido na pequena casa da Rua da Igreja, alcunha da quase desconhecida Praça da Bandeira,
que hoje abriga a sede da FACE,
Associação dos Filhos e Amigos do Município de Euclides da Cunha, da qual é
presidente e um dos fundadores, Ismael Campos de Abreu saiu dali ainda criança,
mas nunca esqueceu a cidade de origem. Por isso, há mais de dez anos vem
investindo no município onde pretende passar parte do seu tempo quando
aposentar-se.
Nesse panorama, as páginas da Revista VidaBrasil vêm abrindo espaço para
artigos que Ismael escreve criticando aspectos da atual administração. Tais
artigos têm gerado muita polêmica e dezenas de comentários, alguns deles
baseados apenas na emoção de quem os produziu. Uns com certa dose de
xenofobismo, como se o cidadão não fosse um “legítimo” euclidense... Alguns
falam em “ódio no coração”, “ego exarcebado”, “vaidade” e outros adjetivos
absolutamente impróprios para definir o Ismael que eu conheço. Embora sem
procuração para falar em nome dele e apenas usando a minha prerrogativa de
editor, gostaria de levar ao leitor um perfil desse cidadão que não abre mão de
ajudar a mudar a face do município onde nasceram além dele, seus irmãos e todos
os seus antepassados.
Diplomado em Ciências Contábeis pela Fundação Visconde de Cairu e com vários
cursos de pós-graduação, inclusive no exterior, Ismael fez carreira na área
tributária e foi ainda jovem, auditor da PricewaterhouseCoopers e da Arthur
Andersen, essa com sede em Chicago. Ao deixar a Price, fundou sua própria
empresa de auditoria, de onde saiu há 14 anos, para assumir um cargo de
diretoria na Odebrecht S/A. No site da empresa, aberto a quem quiser constatar,
pode se ver a posição ocupada pelo executivo euclidense.
Para quem não sabe, A Odebrecht é líder em negócios de Engenharia, Construção,
Química e Petroquímica na América Latina. Atua, ainda, nos setores de Açúcar e
Álcool, Engenharia Ambiental, Óleo e Gás e Empreendimentos Imobiliários. Em
associação com grupos empresariais nacionais e internacionais, participa de
empresas concessionárias de serviços públicos no Brasil, no Peru e em Portugal,
com foco na operação de rodovias e na prestação de serviços de saneamento
básico. Está espalhada por 20 países nos quatro continentes e emprega quase 85
mil pessoas, sendo cerca de metade em solo brasileiro. Modelo de excelência
administrativa, capacidade técnica e principalmente ética, a empresa é o espelho
dos seus executivos.
Mas vamos falar um pouco do homem Ismael Abreu. Casado há 25 anos, é pai de
três filhos, avô de uma neta e leva uma vida familiar reconhecidamente
harmônica. O casal vive num condomínio dentro dos seus padrões
sócio-econômicos. O executivo despacha as segundas e sexta no escritório da
empresa em Salvador, permanecendo de terça a quinta no escritório de São Paulo.
Sábados, domingos e feriados, invariavelmente, o programa é na fazenda em
Euclides da Cunha a 320 km de Salvador após dirigir ele mesmo, durante quatro
horas.
Uma vila no Sul da Itália, uma quinta em Portugal, uma casa em Búzios, Campos
do Jordão ou até mesmo na paradisíaca praia de Busca Vida aqui em Salvador, poderia ser o refúgio de Ismael como é
para muitos outros cidadãos com o seu status. Ele, entretanto, prefere resgatar
suas origens e investir em Euclides da Cunha.
Singular, Ismael e a mulher Vitória, costumam aos domingos pela manhã antes de
retornarem a Salvador, percorrer lugarejos do interior onde vivem parentes humildes
e providenciar para estes, material escolar, alimentos e até instalações
sanitárias, tudo pago com recursos próprios e sem fazer qualquer alarde destes
fatos. Aliás, cometo aqui uma inconfidência... Com justa motivação. Seria este
um cidadão com capacidade para carregar ódio?
Ético como poucas pessoas que conheço, ele é um legalista. Não compra CDs
pirateados ou objetos falsificados. Antítese da “Lei de Gerson,” é também um
obcecado pela qualidade. Em tudo que tem ou faz! Disse-me um dia; “Celso, tenho
apenas dois pares de sapatos. São da melhor qualidade. Mas são apenas dois.
Afinal, calço apenas um par de cada vez”. Em outra oportunidade; “Tenho
na garagem um bom carro. Está com cinco anos de uso. Poderia se quisesse
adquirir um modelo zero quilometro. Mas meu carro, apesar do tempo de uso está
em excelente estado, então penso duas vezes; por que trocá-lo agora? Por
vaidade? Não, não vou trocá-lo”. Seria esse um cidadão vaidoso?
Discreto, frequenta os restaurantes tops de São Paulo em almoços de negócios ao
lado de personalidades importantes dos meios políticos e empresariais do país
com a mesma naturalidade que frequenta os modestos restaurantes de Euclides da
Cunha ao lado de amigos, colaboradores
e prestadores de serviços da sua Fazenda Vitória.
Um episódio digno de registro ilustra bem a postura de Ismael e sua família.
Sua irmã caçula, há 25 anos trabalha em cargo importante, porém em setores
distintos, do mesmo grupo empresarial no qual ele trabalha há 14. Só agora os
donos ficaram sabendo que são irmãos e têm excelente convivência pessoal.
Pois caro leitor, Euclides da Cunha aos poucos está ganhando de volta um filho
vitorioso de muitas batalhas. De menino pobre da Rua da Igreja, órfão de pai aos catorze anos
anos, educado sob a orientação da mãe, dos irmãos mais velhos Zé e João de
Tidinha, dividindo com dez membros da família um apartamento de dois quartos em
bairros humildes de Salvador, a executivo de sólida carreira e cidadão
respeitável pronto a fazer criticas construtivas e a apoiar iniciativas que resultem
em benefícios à cidade que nunca lhe saiu do coração.
"Nesta terra, em se plantando, tudo dá." Foi o que escreveu
Pero Vaz de Caminha na carta que enviou ao rei de Portugal anunciando a
descoberta do Brasil em 1500. O escrivão português pode ter exagerado um pouco,
mas na caatinga do sertão duas espécies estão sempre presentes; o mandacaru e o
umbuzeiro.
Não vou plagiar o presidente Obama e dizer que o Ismael é “o cara”, até porque
não sei se o é. Contudo, se existe alguém em Euclides da Cunha desprendido de
interesses materiais ou vantagens, querendo apenas contribuir com os parentes e
o município, esse alguém é ele. Se eu fosse comparar sua personalidade com
alguma arvore da região, escolheria o umbuzeiro, que diferentemente do
mandacaru, dá sombra, encosto , sua raiz conserva água e produz uma batata, que
em época de grande estiagem, é utilizada como alimento. O umbuzeiro é um
símbolo de resistência.