Há muito tempo que um automóvel não gerava tanta polêmica. Há quem o adore, há quem o deteste. E há, sobretudo, os que primeiro estranharam, mas que pouco a pouco foram cedendo à curiosa personalidade do BMW X6. Mas a celeuma em torno do X6 não é só na questão estética. Também é — pasmem — filosófica, motivando questões pouco habituais. Que conceito é este? Porque é que foi feito assim? Qual é o sentido deste carro?...
Definindo-se entre um cupê e um fora-de-estrada, o X6 embaralha
ainda mais os ciosos da catalogação ao ter 5 portas e apenas 4 lugares. Esta inusitada fusão de conceitos também obriga a uma derradeira questão: para que é
que serve um carro destes? Pode sempre se responder que serve para o mesmo que
os outros, mas, porque não perguntar antes a quem serve? E, nesse caso, teremos
que reconhecer que serve a quem procura algo de diferenciado. Por exemplo, a
quem deseja um compromisso diferente a que nenhum dos outros carros responde.
Neste caso, ao compromisso entre uma personalidade única e as qualidades e
características do modelo que lhe serve de base, o X5. Sim, porque o X6 pode
até não parecer, mas é também ele um SUV. Tem tração integral permanente, uma
altura razoável do solo e foi concebido para uma utilização plural.
A imponência das dimensões do X6 também denuncia esta
sua vocação. Se, por fora, este BMW é o pesadelo de quem cultiva o «low
profile», por dentro, os adjetivos têm necessariamente que ser outros. Ainda
mais espaçoso que o X5, o X6 respira requinte e qualidade por todos os poros. A
posição de condução é perfeita e dificilmente algum dos seus ocupantes terá
razão de queixa do que quer que seja. Nem sequer do equipamento, razoavelmente
generoso e expansível quase aos limites da nossa imaginação. Basta pagar.
Difícil de imaginar é a imensa eficácia deste X6.
Apesar de não fazer concessões em matéria de conforto, nenhum dos seus rivais
fica perto de se aproximar em matéria de comportamento em estrada ou do envolvimento
ao dirigir. Para os que não vão mesmo com a cara deste BMW, lamentamos informar
mas há muito esportivo bem tradicional, com as formas, o peso e as portas
certas que se veria aflito para acompanhá-lo. Como é hábito nos BMW, o X6
guia-se como se fosse tudo menos um carro grande e pesado. Claro que, a exemplo
do X5, este SUV está longe de poder ser levado onde um jipe puro e duro
consegue ir, mas em estrada a sua agilidade é surpreendente, assim como a forma
rápida como responde a tudo o que lhe pedirmos. A culpa de mais este sacrilégio
é sobretudo de um novo sistema estreado no X6, que dá pelo nome de DPC (Dynamic
Performance Control). Fazendo as vezes de diferencial traseiro ativo, o DPC
utiliza uma embreagem de controle eletrônico que permite, através de uma
complexa rede de sensores e de um cérebro eletrônico, antecipar as necessidades
de potência de cada uma das quatro rodas motrizes. O resultado é surpreendente,
com o X6 a redescobrir sozinho a trajetória ideal quando tudo parecia indicar
que teríamos que ser nós a fazê-lo. O DPC é de tal forma eficiente que aquele
que é um dos melhores motores a gasolina do mundo nos parece, por vezes,
demasiado modesto. Pode até parecer estranho, mas não é o X6, afinal de contas,
um automóvel estranho?