Victor Muller alimenta um sonho: devolver à indústria
automobilística e aeronáutica do seu país o antigo lugar de destaque. “Eu
adoraria construir aviões, mas isso pode esperar. No momento, estou voltado para
os carros”. Voltar a pôr de pé a Fokker - que deixou de funcionar há mais de
dez anos - é outro dos projetos de Muller, mas o processo de reabertura da
Spyker - a famosa construtora de carros holandeses que fechou as portas há 74
anos – já consolidou-se. “Eu adoro a Holanda e... adoro carros. E isto é o reviver
da glória holandesa”, afirma Muller, contentíssimo por os seus Spyker C8
(inteiramente artesanal), Spyder e C8 Laviolette serem um sucesso. Muller,
colecionador de carros, 41 anos, dois metros de altura e um olhar de menino,
tem uma “frota” de 40 valiosos veículos, que vão desde o clássico Alfa Romeo
Spider aos Aston Martin, passando por vários Ferraris de corrida. Em 1997,
Victor Muller encontrou o parceiro ideal, Maarten de Bruijn, um designer de
automóveis de 35 anos, que tinha investido todas as economias na construção de
um carro esportivo para uso próprio.
“As vendas são
aquilo que menos me preocupa. Não preciso de marketing, estes carros fazem sua
publicidade por si próprios: já vendo tudo o que posso vender. Agora, quero
construir um veículo de alta qualidade, e sei do que estou falando, pois sou o
seu ‘cliente-alvo’. Todo mundo pode comprar um Ferrari - a sua exclusividade é
muito relativa, pois fabricam-se quatro mil carros por ano. A Aston Martin
fabrica 1,5 mil e está no limite da exclusividade. Nós estamos fabricando um
carro para pessoas que já experimentaram os outros todos e que se dão ao luxo
de ter algo muito especial” - adianta Muller. “Enquanto que um Ferrari se
compra já montado, um Spyker é fabricado de acordo com os gostos e as
orientações pessoais de cada um”- acrescenta.
Sendo, tal como Muller, um grande
entusiasta de automóveis, De Bruijn começou, aos 16 anos, a transformar um
Simca 1100 num carro de corridas, que guiava pelos bosques. “Sempre que olhava
para um Ferrari ou para um Porsche, descobria algum pormenor que gostaria de
modificar. Foi então que, como não conseguia encontrar o carro ideal, comecei a
conceber o carro dos meus sonhos: em 1996, construí o primeiro protótipo do
“C8”, na minha garagem, e comecei a dar voltas com ele, o que me ajudou a
construir este Spyder”, afirmou.
De Bruijn inspirou-se muito em Trevor Wilkinson, que
concebeu o TRV, nos anos 60: “Se Wilkinson, na época, conseguiu concretizar os
seus planos, eu agora também posso conseguir.”
Muitos grandes bancos holandeses recusaram-se a
financiar o design de De Bruijn, convencidos de que, de saída, qualquer
tentativa de construir um carro holandês que fizesse concorrência à Ferrari -
ou a outras marcas - redundaria num fracasso. Felizmente, um dos sócios do
empresário holandês apresentou-lhe Victor Muller, que se dispôs financiar os seus
projetos. Depois, Maarten passou 18 meses aperfeiçoando o seu modelo. Na
Inglaterra, na Coventry Prototype Panels Ltda., a “dupla holandesa” mandou
fazer um protótipo do “C8” original do designer. E resolveram, ainda, alargar e
aumentar o tamanho do suporte das rodas do “C8”.
“Cadillacs” holandeses - Para comercializar o seu novo
“brinquedo”, Muller comprou os direitos da extinta marca Spyker: “Agora, a
Holanda tem uma marca topo-de-linha, que se pode comparar à Rolls Royce, à
Bentley e à Cadillac, uma marca que já existia muito antes da Ferrari”, diz
ele.
O produto resultante foi um carro leve, esportivo, de
dois assentos, com chassis e painel de instrumentos em alumínio - feito à mão,
com portas da frente articuladas e partes dianteira e traseira que abrem
completamente. Está, ainda, equipado com suspensões independentes e totalmente
ajustáveis na frente e atrás, em aço inoxidável, e com um motor Audi,
topo-de-linha, de alumínio. O design das portas e o original sistema elétrico,
descentralizado, foram patenteados separadamente.
Uma fábrica nova foi construída de propósito na cidade
holandesa de Zeewolde. Os chassis são fornecidos pela Polynorm NV, uma
importante fábrica holandesa de pneus que conta, entre os seus clientes, com a
Jaguar e a Mercedes; os painéis de instrumentos provêm da Coventry e a Koni
dispensará amortecedores de Fórmula 1.
Os compradores recebem um número de chassis
personalizado, gravado numa placa, bem como um casaco feito sob medida, da marca
de Muller - a McGregor. Em Zeewolde, cada carro é “seguido” por uma câmara, de
forma que o comprador possa seguir passo a passo a sua produção, no
www.spykercars.com, o site da Spyker