Foi lendo a deliciosa reportagem sobre o centenário de D.Chiquinha, assinada por Jarbas Nogueira, no site da FACE, que me inspirei para traçar essas linhas. Com saudades...
...e sem a pretensão de produzir um documento com datas e informações precisas. São apenas lembranças;as minhas lembranças.
O Educandário Oliveira Brito chegou a Euclides da Cunha em plena administração do “Vaqueiro do Canché”-Antonio Batista de Carvalho. Que homem fino! Fomos, por muitos anos, vizinhos na “Rua dos Ricos”. Nunca vi, daquele cidadão, qualquer gesto de agressividade. Nunca o ouvi levantar o tom de voz. E olha que estou falando de um “vaqueiro”.
Ministro da Educação no governo parlamentarista de João Goulart, o Advogado pombalense, Antonio Ferreira de Oliveira Brito, assinou os papéis que permitiram a fundação do Educandário que, com justeza, ganhou o seu nome.
Para dirigir o Educandário Oliveira Brito, veio de Salvador o ex-quase padre, Prof. Edvard Cabral Costa. Um Lord!Filho do popular João Costa da Padaria, eloqüente autodidata que teve um importante papel na vida da cidade. Foi, também, delegado de polícia e teve pretensões de ser prefeito. O que pouca gente da cidade sabe, é que seu sobrinho, Ramonaval Augusto Costa, nascido no então Cumbe do Major, veio a ser um dos mais brilhantes Economistas do País e catedrático da USP. Quem tiver a curiosidade de checar esse nome no Google vai ter uma surpresa e tanto. Há muito o velho Cumbe vem gerando bons frutos!
Mas voltemos a Francisca da Silva ou D.Chiquinha, como
carinhosamente o Jarbas a nomeia. Nós, meninos endiabrados do Educandário, a chamávamos
de Chica Bode. Foi ela, sim, quem recebeu as chaves e a responsabilidade de
manter limpos e em ordem menos de uma dezena de salas, os dois banheiros, masculino
e feminino, separados por meia parede pela qual nos esgueirávamos para olhar as
meninas ao o espelho e outras coisinhas mais...
Quantas vezes, a zelosa Chica entrava no nosso banheiro de vassoura em punho para nos tirar de cima da parede de onde espiávamos as meninas...
Os professores da época eram o médico Humberto Freire que esbanjava competência e charme. O Pe. Pedro Monteiro dos Campos que era uma simpatia e sempre tinha respostas para tudo, até que um dia, dois moleques tirados a espertos, Zezé da Maria Elisa e eu, inventamos uma pergunta e o Padre tinha a resposta. E como diria o presidente Lula:sifu... O promotor de justiça, Aristides Neves, era o nosso sisudo professor de História. Sabia muito, mas me desculpem os herdeiros,era um chato. Já o professor Teófilo Paiva Guimarães, o “Tiofo Careca” rasgava o “Bonjour” nas aulas de francês e era extremamente complacente com as meninas nas aulas de Desenho. Uma das mentes mais brilhantes que já conheci.
D. Chica era uma batalhadora. Já viúva, carregando uma “penca” de filhos e na idade de se aposentar, consegue o trabalho de zeladora na instituição que acabara de ser inaugurada. Quase cinqüenta anos depois, todos nós temos pouco mais do que a idade que ela tinha à época. A maioria já está aposentada.São doutores, políticos,milionários,bêbados, vagabundos,donas- de- casa,militares..Gente comum, povo.Outros tantos já não estão mais aqui,uns que deixaram saudades ,outros que nos deixaram aliviados ao partir... É verdade. A vida tem dessas coisas.
Pois é, Chica Bode, D.Chiquinha,D.Francisca, parabéns pelo centenário e tenha certeza que todos que hoje a abraçam e a festejam têm a exata dimensão do que você representou para todos nós. Nem aos cem anos é tarde para se reconhecer a importância de uma pessoa. A homenagem que os seus amigos lhe prestaram é a prova incontestável de que o tempo é o senhor da razão