Dia desses, lendo, como sempre uma publicação de
vinhos, reparei numa palavra que chamou a minha atenção: winelover, e é claro
logo pensei, será que sou um desses? Bem,
primeiro teríamos que definir o que é um winelover, um gourmet. É uma pessoa – seja homem ou mulher – que ama
o vinho, assim como outras pessoas amam suas pinturas, esculturas, músicas ou
antiguidades... mas não somente como colecionador, senão com caráter de
“desfrutador”...
O amante do vinho sempre será infiel, pois ele tem
muitos amores, de diferentes nacionalidades, cores e perfumes, e com cada um
deles terá prazeres diferentes. Sempre antes de vivenciar aquele prazer, ele
tenta descobrir tesouros escondidos, procura, investiga e somente depois de ter
percorrido este caminho, é que ele adquire o tão precioso elixir. Mas não pára
por aí, o tratamento é igual ao de uma jóia. Cuida dele, volta para descansar,
escreve o necessário para lembrar dele antes de degustá-lo e principalmente
está muito orgulhoso da sua adega. Esta é a primeira parte do seu grande
prazer.
Pois bem, agora a segunda parte: abrir o vinho,
degustá-lo, desfrutá-lo... ou seja, o conflito. Quando deveremos bebê-lo? E com
quem? Acredito que o ideal é o momento
em que se sente o desejo. O momento em que as papilas gustativas nos dizem que
estamos aptos e preparados. Não existem regras.
Porém, um winelover digno de levar essa condição no peito prepara o
momento de tirar a rolha como prepara a recepção de uma pessoa amada. Com
emoção. Cuidando bem todos os detalhes. Os acompanhamentos são sempre muito
importantes – sejam comidas simples ou sofisticadas –, assim como a
cristaleria, a temperatura do vinho, o decanter... Mas existem três coisas
importantíssimas a levar em consideração: o próprio estado de ânimo, a
companhia e, principalmente, o tempo que vamos dedicar a este precioso
evento.
Do estado de ânimo, alguma coisa já falamos. Temos que
estar predispostos. Mas e quem são os convidados? Se abrirmos um vinho de alto
valor ou de grande estima pela sua fama e excelência? Será que não se perderá
se for oferecido a quem não sabe apreciá-lo? Um convidado que não conhece ou
não tem suficiente sensibilidade – na verdade, pouco importa o conhecimento –,
um convidado muito gripado, alguém que somente bebe vinhos medíocres ou aquela
pessoa que sempre diz que aprecia exclusivamente vinho suave... será que
merecem a abertura de um grande vinho que guardamos com afinco durante esses
longos anos? Convenhamos que não se
trata de egoísmo e sim de bom senso. Então, quando a companhia é daqueles
supracitados, lógico abramos um bom vinho, sem dúvidas, mas reservemos na adega
“aquele” tão especial. Porém, se estivermos entre confrades, meu caro, abramos
logo esse vinho e estabeleçamos uma harmonia perfeita para a comunhão do prazer
degustando a bebida de Baco.
Bem, se nos encontramos a sós com a femme fatale – para
elas um Adônis... Lúculo come na casa de Lúculo! Ninguém é melhor convidado que
os próprios anfitriões. O tempo. Um bom
livro, uma boa tela, a melhor música de câmara não se desfruta apressado. Temos
que nos presentear com o tempo, mas um bom tempo. O vinho certamente o
merece.
Outro assunto é: quando o vinho está pronto para ser
bebido e quanto tempo temos que guardá-lo? Que novamente prevaleça o bom senso.
Temos vinhos jovens excelentes que foram feitos para degustarmos assim, jovens.
Sobretudo porque antigamente os vinhos jovens eram demasiado taninosos e um
pouco ásperos. Mas hoje a tendência é fazê-los jovens, mas com taninos bem
redondos para que possam ser bebidos a qualquer momento. Esses tipos de vinhos
podem ser guardados ou bebidos de imediato, já que sempre nos darão
satisfação.
Por outro lado, existem vinhos com longos anos de
guarda... Que faremos? A minha idéia é aproveitá-los, sentir o prazer. Carpe
diem! Se continuamos a guardá-lo e depois de quatro ou cinco anos temos dúvidas
e assuntos para pensar, por exemplo, qual o momento que consideramos o melhor
para degustá-lo e desfrutá-lo? Será que está bem guardado? Será que evoluiu bem
todos estes anos? Estaremos nós nas mesmas condições de apreciar tão valioso
elixir daqui a uns vinte anos?
Então, amigos, concordemos no seguinte: os winelovers
não são avaros, nem egoístas, são seres extremamente sensíveis que amam e sabem compartilhar seus tesouros com aqueles que vivenciam o ritual da mesma maneira,
sentindo verdadeiro prazer. Concordamos,
não é verdade?