A protagonista da série «Sex ad the city» voltou para casa descalça, sem o seu par de sapatos favorito: umas sandálias de tiras em seda cor-de-rosa que tinha comprado a com 50% de desconto em uma liquidação. Não que fizesse muita diferença: no «closet» tinha 27 mil euros investidos em calçado - pensando que os comprara a uma média de 450 euros o par, ficamos sabendo que Carrie tinha 60 pares de sapatos de «designer» no armário. Imelda Marcos, antiga Primeira-Dama das Filipinas, admitiu possuir 1200 pares. O fascínio por sapatos parece não afetar apenas personagens de ficção em séries televisivas ou mulheres excêntricas do Sudoeste Asiático. Segundo a revista «Forbes», as mulheres americanas gastaram, em calçado de moda, entre Outubro de 2004 e Outubro de 2005, 17 mil milhões de dólares, «Os sapatos tornaram-se objetos de consumo desenfreado, mesmo por parte de mulheres que nunca tinham tido esse fetiche», explicou à «Forbes» Marshal Cohen, analista do grupo NPD, uma empresa americana de análise de consumo. «O vestuário já não é a prioridade nos guarda-roupas das mulheres: carteiras e sapatos tornaram-se itens de assinatura, usados para projetar gosto pessoal, riqueza e estilo», reforça. Em seda tecida à mão e ricamente bordada, em crocodilo macio, cobra rara, avestruz exótica… como dizem os americanos, «new shoes cure the blues» (sapatos novos curam a tristeza). Será? Bem, resultou com a Cinderella. Sem os seus sapatos de cristal, a heroína das histórias infantis não teria encontrado o seu príncipe e ainda estaria a carpir mágoas sentada à lareira. Onde estaria agora se, em vez do desconfortável cristal, os sapatos fossem Manolos, Jimmy Choos, Roger Vivier, Salvatore Ferragamo ou Christian Louboutin? Certamente feliz, divorciada do príncipe e vivendo em pecado com dois jovens de 18 anos. Porque não existe nada mais «sexy» do que as criações dos mais famosos «designers» de sapatos do mundo.
SALVATORE FERRAGAMO
Este italiano «designer» de sapatos acreditava ser o
arco do pé uma das partes mais importantes do corpo, por suportar todo o peso.
Aplicou esta filosofia a cada par de sapatos que criou desde os anos 20, quando
iniciou atividade, tendo rapidamente ficado conhecido como sapateiro das
estrelas - calçou, entre outras, Eva Perón e Marilyn Monroe,Audrey Hepburn(com Salvatore na foto), Tinha apenas nove
anos quando descobriu a vocação: fez o primeiro par para calçar a irmã para a
cerimônia religiosa do crisma. Depois de 18 anos emigrado nos Estados Unidos,
voltou à terra natal, Florença, e aí se estabeleceu. A ele - e à família que
manteve a empresa e em 1995 inaugurou um museu que reúne mais de 10 mil modelos
do «mestre» - se devem alguns dos sapatos mais originais de todos os tempos
CHRISTIAN
LOUBOUTIN
Enquanto estagiário nos camarins das Folies Bergère -
tinha 17 anos -, descobriu que o segredo da proporção e da postura estava nos
sapatos. Bastava observar como se moviam as «showgirls» do cabaré mais famoso
de Paris, carregando enormes ornamentos na cabeça. Desenhou sapatos para a
Chanel e para a Yves Saint Laurent até 1992, ano em que abriu a sua própria
casa. Entre as suas clientes contam-se Oprah Winfrey, Sarah Jessica Parker,
Cameron Diaz e Katie Holmes. Hoje vende em 46 países e tem 14 butiques. Os sapatos
de Louboutin reconhecem-se à distância: têm a sola encarnada. Com um preço
médio de 600 euros, as criações mais ousadas de Louboutin incluem os «trash
shoes», que incorporam bilhetes de metro e recibos de café nos saltos.
Nos anos 90 já era conhecido por fazer saltos
dolorosamente altos e cheios de estilo. Mas este espanhol das Canárias não
seria o que é hoje sem o empurrão da série «Sex and the city». Sarah Jessica
Parker, a «shoe addicted» Carrie, fez pelos sapatos de Blahnik o que Brooke
Shields fez, nos anos 80, pelos «jeans» Calvin Klein. Quando a série arrancou,
em 2004, Blahnik já tinha loja em Nova Iorque (inaugurada em 1980) e muitas
devotas dos seus «sapatos limousine», nomeadamente Candace Bushnell, a autora
do argumento de «sex and the city». Os preços dispararam, as vendas
seguiram-se-lhes - até as de modelos mais caprichosos, como umas botas de
crocodilo de 10 mil euros. Como não é mal-agradecido, em reconhecimento à atriz
e às mulheres de Manhattan, Manolo criou o modelo «SJP»: um «stilletto» de
apertar no tornozelo, disponível em vários materiais e cores.
ROGER
VIVIER
Inventou o salto «stilletto» (usava uma tira fina de aço dentro do salto para suportar o peso do corpo) e desenhou os sapatos que Catherine Deneuve usou no mítico Belle de Jour. Nascido em 1913, o «designer» francês especializou-se em sapatos e durante uma década (1953 a 1963) criou os modelos de calçado elegantes para a Dior. Descrevia os seus sapatos, sempre ricamente decorados, como esculturas. Para os críticos eram os «Fabergés do calçado». Entre clientes habituais estavam Ava Gardner, Gloria Guiness e a Rainha Isabel II. Hoje, a marca é detida pela Tod’s e pela Hogan, e agora com Bruno Frissoni à frente do departamento criativo (Vivier morreu em 1998), o design permanece clássico e a distribuição restrita. Até 2003, para comprar, só marcando uma visita privada ao «showroom» da marca em Paris, no número 29 da rua do Faubourg de Saint-Honoré. Entretanto abriram loja no mesmo edifício, um espaço especial, mobilado ao estilo do século XVIII, com um Picasso na parede, onde as clientes podem tomar um Martini enquanto decidem o que levar. Os preços podem atingir os 15.000 euros.
JIMMY
CHOO
Foi baseado na filosofia de que os sapatos e a carteira certos vingam mais do que roupa e jóias na construção de uma imagem que Jimmy Choo construiu uma carreira de sucesso. Malaio, nascido numa família de fabricantes de sapatos, Choo acabou por ir aprender inglês para Londres, onde conheceu Tamara Mellon, filha de um milionário e, à época, a relações-públicas mais famosa da capital britânica. Com o dinheiro do pai dela e o talento dele fizeram-se sócios e abriram a primeira loja, em 1997. Ele criou os sapatos, ela transformou-os numa marca global, preferida por Catherine Heigl, Victoria Beckham, Jenifer Garner ou Sarah Jessica Parker. Neste glamouroso universo dos sapatos acima de 500 euros, os espinhos vieram ao de cima e a parceria terminou em 2001, quando Choo vendeu a sua parte. Mas mantém o nome e Tamara continua a vendê-los nas lojas por todo o mundo.