Entre os passageiros do avião que acaba de aterrissar no aeroporto de Havana naquele dia 12 de Novembro de 1958, há um para quem está reservado um tratamento especial. Na pista, um automóvel preto aguarda.Na bagagem leva uma missão confidencial: assassinar Fidel Castro, o chefe do movimento rebelde que a partir das montanhas do Oriente está a provocar fortes dores de cabeça à ditadura de Fulgêncio Baptista.
Pouco
depois de aberta a porta da aeronave, um homem desce as escadas e é de imediato
encaminhado para o carro. Lá dentro segue agora o agente do FBI Alan Robert
Nye. Na bagagem leva uma missão confidencial: assassinar Fidel Castro, o chefe
do movimento rebelde que a partir das montanhas do Oriente está a provocar
fortes dores de cabeça à ditadura de Fulgêncio Baptista.
Nye inicia aquela missão pouco tempo após ter sido recrutado
pelo FBI para penetrar nos grupos cubanos emigrados na Florida envolvidos em
conspirações para derrubar Baptista. O Bureau construíra-lhe uma história
segundo a qual este piloto fora expulso da Força Aérea devido a uma denúncia
anônima que o acusava de arquitetar, com os exilados cubanos, o lançamento de
ataques contra objetivos militares na ilha.
Nye instala-se no hotel Comodoro, onde o aguardam os
coronéis Carlos Tabernilla, chefe da Força Aérea, e Orlando Piedra, chefe da
polícia secreta. Além de ter a retaguarda protegida, asseguram Tabernilla e
Piedra, o agente do FBI, depois de posto Fidel fora de combate, teria 50 mil
dólares à sua espera. A 20 de Dezembro, Nye desloca-se para a cidade de Holguin
e quatro dias depois parte para as imediações da aldeia de Santa Rita, uma zona
rebelde. Nessa noite esconde, num local previamente escolhido, uma espingarda
Remington 30.06 com mira telescópica, um revólver de calibre 38 e balas. Balas
para matar Fidel.
A 25 de Dezembro inicia uma caminhada à espera da inevitável
intercepção de uma patrulha rebelde. Em poucas horas é aprisionado, tal como
previra e desejava. Tenta de imediato convencer os captores do seu interesse em
se juntar ao movimento e conhecer Fidel.
Tudo corre mal. O jovem comandante da coluna não se comove
com tanta disponibilidade, revela uma total indiferença face ao voluntarismo do
norte-americano e deixa-o num acampamento destinado ao descanso dos feridos.
Num primeiro momento, Nye acha aquela decisão vantajosa para melhor concretizar
os seus intentos. Teria assim oportunidade de se familiarizar com os
guerrilheiros e mais tempo para que Fidel se apercebesse da sua presença e
importância.
O único problema dos melhores planos é não contarem com a
possibilidade de a roda da História se antecipar a tudo quanto possa estar
previsto. Em 1º de Janeiro de 1959, 49 dias após o seu desembarque em Cuba e 12
dias depois do início da operação no terreno, o agente do FBI é sobressaltado
com a iminência da Revolução. Corre pelos acampamentos a informação de que
Baptista está em fuga e que os revolucionários começam a tomar o poder em
Havana.
Em Abril de 1959, Alan Robert Nye transforma-se no primeiro
homem a ser julgado pelos tribunais revolucionários de Cuba com a acusação de,
ao serviço do FBI e com a cumplicidade da polícia do ditador Fulgêncio
Baptista, ter desenvolvido um projeto de homicídio contra Fidel Castro. Expulso
de Havana é entregue à Embaixada dos Estados Unidos da América.
O episódio é narrado no livro «Objetivo: Fidel Castro»
(editado pela Âmbar), de Fabián Escalante, ex-oficial e chefe da
contra-informação cubana. Escalante procede a um levantamento de todas as tentativas
de atentados identificadas ou como tal imaginadas pelos serviços secretos
cubanos. A parte mais interessante e mais extensa do livro é preenchida por um
grupo selecionado de casos, alguns deles inéditos, cujas ligações à CIA ou à
Máfia norte-americana o autor considera inquestionáveis. Escalante serve-se de
alguns recursos ficcionais para melhor ilustrar o que apresenta como resultado
de investigações e da sua própria experiência visto ter participado em dezenas
de entrevistas a participantes nas tramas urdidas para eliminar o «Comandante».
Não por acaso, Escalante classifica a operação de Nye como o
preâmbulo de uma obsessão que desembocaria em 634 tentativas para destruir
Fidel, com recurso a «venenos letais, poderosos explosivos de plástico, cigarros
com substâncias perigosas, granadas a ser lançadas na praça pública,
sofisticadas espingardas com miras telescópicas (...), agulhas com venenos
mortíferos, tão finas que o seu contacto com a pele não podia ser detectado,
foguetes para bazucas e morteiros, poderosas cargas explosivas em jazigos
silenciosos ou em canalizações subterrâneas (...)».
As frustradas tentativas de assassínio a soldo da CIA ou
engendradas por conspiradores cubanos constituem um dos mais fortes
sustentáculos da mitologia construída à volta de Fidel Castro. Em 1975, na seqüência
do escândalo Watergate, foi criada nos Estados Unidos da América uma comissão
presidida pelo senador Frank Church, destinada a investigar as ações da CIA e
do FBI contra cidadãos norte-americanos e estrangeiros. No final, surgia a
conclusão de que, instigados pelo FBI ou pela CIA, tinham sido arquitetados
oito planos para matar Fidel, alguns dos quais, segundo os investigadores,
nunca teriam passado do papel. Um dos entrevistados pela comissão foi John
Roselli, um ex-membro do bando de Al Capone, identificado em 1947 pelo FBI como
sendo uma das mais relevantes figuras da Máfia. Em 1960, Roselli participou em
conversações com Allen W. Dulles, diretor da CIA, sobre a possibilidade de
assassinar Fidel Castro.
No seu livro, Fabián Escalante(foto) faz um levantamento exaustivo
de todos os projetos homicidas detectados entre 1959 e 2000, desde os que
culminaram com ações práticas até os que foram neutralizados numa fase ainda
incipiente.