O dinheiro não traz felicidade. Mas a sensação é tão parecida que me custa distingui-las... Acoplados a esta gente feliz sem lágrimas estão os simplesmente milionários. Hoje, e ao contrário do que acontecia no século passado, para se ser considerado milionário não basta ter um milhão de dólares. Em 2011, e porque a vida está cada vez mais cara para todos, só é milionário quem possui pelo menos 25 milhões de dólares.Um milhão qualquer malandro amealha.
São estes
que, por ainda fazerem parte da classe laboral, se encontram tão ocupados que
nem sequer têm tempo de organizar os tempos livres. Felizmente, há cada vez
mais ajuda. Allison Braley, porta-voz de uma empresa chamada Concierge e que se
esforça por dar corpo aos sonhos de quem tem muito dinheiro na conta, explica
com simplicidade: «Se alguém nos telefona a dizer que quer ir passar férias em
Moçambique, somos nós que organizamos tudo. É nosso dever dar ao cliente a
certeza de que vai ter acesso aos melhores hotéis, aos melhores restaurantes e
aos melhores guias de safári para observação da melhor vida selvagem», diz ela,
com voz de quem vive em permanente «Missão: Impossível», a organizar expedições
nebulosas para destinos sem oxigênio do outro lado do Cosmos.
A Millionaire’s Concierge, outra empresa que inclui na
ementa serviços que custam entre 30 mil dólares (22 mil euros) e um milhão,
organiza tudo, desde festas na mansão «Playboy» ao arrendamento da «GoldenEye»,
a vila jamaicana onde Ian Fleming inventou o James Bond. A quem preferir um
roteiro menos «rasta» e com mais adrenalina, a companhia pode disponibilizar um
jacto de guerra. O rico vai poder, finalmente, dar uma volta ao quarteirão em
45 minutos - abrange os céus do arquipélago Turks and Caicos. Custam 26 mil
dólares e não inclui o preço da gasolina. Doug Turner, o dono da
Millionaire’s Concierge, tem de satisfazer desejos simples. «Houve um tipo que
me pediu que eu sobrevoasse a piscina dele a bordo de um helicóptero de maneira
a deixar cair na água dúzias e dúzias de rosas.»
Há muitos ricos que são discretos. E há gente famosa
que continua falida. Mas, de vez em quando, dinheiro e fama reúnem-se numa
pessoa só. O Sul da Califórnia, em especial a zona metropolitana de Los
Angeles, apresenta várias espécies dentro desta fauna. «Em Hollywood, o
dinheiro foi feito recentemente. É uma civilização mais empreendedora. Tem mais
cuidado com aquilo que ganha», diz Steve Sims com a voz subitamente silenciosa,
parecida com a de quem se especializou em observar colônias de formigas. Ele é
dono-fundador da Nomad Society, uma companhia muitíssimo seletiva que segue à
risca as regras ambientais quando tenta dar corpo aos sonhos sonhados pelos
mais endinheirados. Imaginem, pois, que existe uma cidade onde a temperatura é
sempre agradável, uma cidade à beira de um oceano pacífico e onde o sol poente
fica mesmo bem a decorar as curvas do Sunset Boulevard. A cidade foi erguida
com a força da criatividade artística e, nos últimos anos, quer ser a capital
mundial do entretenimento. Imaginem que se trata de um sítio em que, por
exemplo, o ator é um dos reis da cidade. Agora imagine se, um dia, o rei está
quase a ser coroado depois de muitos anos a subir a direito em filmes como LA
Confidencial, The Insider, Gladiador e A Beautiful Mind. De repente, porque se
diz por aí que ele é o novo grande talento infalível, o homem decide que, na
noite da coroação pela academia, vai mesmo precisar de duas reservas nos hotéis
mais exclusivos da cidade. Quem é que consegue tirar tão de repente da cartola duas coisas impossíveis de obter como o melhor quarto do Mondrian Hotel e o
«loft» mais caro do Chateau Marmont, em plena época dos Óscares, quando a
cidade está outra vez em festa e superlotada? Seria mais fácil encontrar uma
praia em Marte mas no estúdio que lhe pagou o salário - digamos, a Disney -
toda a gente sabe a solução para tanta angústia: telefonar a uma dessas
empresas que satisfazem as vontades de quem pode, quer e manda. Se o rico
famoso quer certa coisa, é bom que haja por aí alguém que lhe sirva o desejo
numa bandeja de prata. Imediatamente.
«Lido com realizadores, gestores e algumas pessoas
famosas e não é raro pedirem-me que contrate um cantor famoso se, lá em casa,
houver alguém a festejar um aniversário», diz Steve Sims, explicando de uma vez
por todas como é que, há dias, Prince foi contratado para dar um concerto
privado numa residência judaica que festejava a emancipação etária de um dos
meninos. Nestas cimeiras sociais o dinheiro pode não comprar tudo. Mas quem é
que quer usar aquilo que o dinheiro não pode comprar? «A crise tem afetado toda
a gente. Absolutamente. Seja dinheiro novo ou velho, é uma classe que tem muito
dinheiro colocado em ações e todo o tipo de fundos de investimento. Alguns dos
meus clientes estão à frente dos maiores bancos suíços e americanos e claro que
foram afetados, mas, agora, em vez de pedirem a «suíte» presidencial no hotel
mais caro ficam-se por um quarto de luxo num hotel mais conhecido pelo design e
tratamento pessoalizado. Continuam a voar de Palm Beach, onde há muito dinheiro
tradicional, para as festas nos Hamptons. Estão cientes de que há uma crise e
sabem que todos à sua volta, nas festas, andam a passar pelo mesmo. Mas
continuam a viajar de avião privado porque é muito importante mostrar a cara,
como antes.» Crise ou não, para quem tem tenacidade nenhuma estrada é
intransponível.
Felizmente para ela, esta monarquia financeira
encontra-se regida pelas leis do mercado. Se o mercado sente necessidade, haja
alguém no mercado que venda o bem desejado, por preço justo. Uma cliente
telefona de longe e pede que lhe arranjem um pacote de férias no Texas em que
ela se pode apresentar, num baile casual, aos barões do petróleo. Ao telefone
da Bluefish, uma companhia que começou por servir os ricos da Florida antes de
estender os tentáculos à riqueza exibicionista de Los Angeles, chegam os
pedidos mais grandiosos. Um médico endocrinologista, cansado de só conviver em
conferências e congressos com os calmeirões da mesma classe, pede que lhe
organizem uma viagem a Miami de maneira a poder ter acesso a outros círculos
igualmente abastados. O preço da viagem veio com um suplemento de mil dólares,
que garantiram ao dito médico entrada numa festa da indústria discográfica e na
qual compareceram o «mogul» P. Diddy e o jogador de basquete Shaquille O’Neill.
Por 65 mil dólares é possível ter acesso aos recifes australianos e a festas
diárias onde comparecem realizadores, atores e estilistas, os melhores do país
numa maratona de gala e boa conversa que, de fato, transformam qualquer par de
semanas num prazer contínuo. Casais que querem ir ver ao perto o pescoço
vertiginoso das girafas e o Quilimanjaro, de repente exigem que a expedição
ganhe um valor antropológico, mais profundo e menos leviano: será que a agência
pode incluir os nomes dos americanos ricos na agenda social da alta-sociedade
de Nairóbi? É para já, até porque nenhuma viagem de prazer fica completa sem a
troca de «business cards».
Iates. Fórmula 1. Campos de golfe privados. Picos
gelados sem acesso automóvel, onde uma descida de esqui desbrava neve que nunca
foi tocada antes. Lagos do Alasca. Festas dos Óscares. Submarinos nucleares.
Acesso aos bastidores do concerto dos Rolling Stones. Aventuras. Pôquer em
Macau na companhia de emires e sheiks. Competições de vela, lugares junto à
rede no Open de Nova Iorque. Seja o que for, é possível comprar. «O pedido mais
normal que me fazem é para cruzeiros exclusivos», assegura Sims refletindo que,
em era de degelo, o objeto de luxo mais abençoado continua a ser o domínio dos
mares, de paquete ou veleiro, na Polinésia ou nos fiordes chilenos, para além
do Seno Almirantazgo e com vista para as focas elefantinas que navegam as
correntes do estreito de Magalhães. A solidão mais extrema na paz mais remota,
fácil, ao alcance de quem tem tempo e dinheiro. «Cruzeiros e ilhas privadas. Os
castelos da Escócia continuam populares. Mas a cena mudou muito. Não foi assim
há tanto tempo que era possível passar uma semana fantástica em Monte Carlo por
20 mil dólares (14.500 euros). Hoje custa 40 mil. Está tudo mais caro»,
acrescentou Steve Sims enquanto conduzia o automóvel pelos desfiladeiros da
Mulholland Drive. Os pacotes de luxo não estão ao alcance de toda a gente, mas,
havendo dinheiro na conta bancária, o cliente consegue mesmo ser rei em cidade
alheia. Um pacote de férias vendido há pouco incluía jacto privado até Buenos
Aires seguido de noitadas boemias na companhia de atletas, beldades e ícones
argentinos variados que vinham da política, do tango, da música, do jogo do
pólo, e da moda local apinhada de supermodelos impossivelmente magníficos. Em
suma, uma festa em estilo 007. Bastou um telefonema. E 6,4 milhões de dólares.
Autor: Adolfo de Castro Publicação vista 2815 vezes
Existe 3 comentários para esta publicação
sexta-feira, 29/7/2011 por Maracida DINHEIRO...
Ótima reportagem! o dinheiro é necessário, desde que não nos tornemos escravos do mesmo. A felicidade e sábia... Não precisamos de luxo para viver...
quinta-feira, 21/7/2011 por neuza ananias DINHEIRO É ILUSÃO
Dizem que dinheiro compra tudo.Não é verdade.Pode comprar-se alimentos mas não o apetite,medicina mas não a saùde,uma cama confortavel mas não os sonhos,conhecimento mas não a inteligência,aparências mas não o bem~estar,diversão mas não o prazer.
quarta-feira, 20/7/2011 por Elizabeth Wonderlyne Um abismo entre ricos e pobres.
Artigo muito bem escrito. Gostei.
É um mundo tão diferente do meu, por isso não entendo certos comportamentos.
Os ricos me parecem muito volúveis.