E agora, José?
A
festa acabou o poder se foi,
os
amigos sumiram e chegou a hora de prestar contas.
Quem
vai ficar para apagar a luz da Prefeitura?
E
agora José?
A
Fátima ganhou,
a
festa começou,
seu
poder aumentou.
Vai
acomodar quem para fazer renascer a esperança e afastar o medo?
E
agora, José?
E
agora você?
Vai
querer continuar no poder,
vai
querer presidir a Câmara vai querer fiscalizar o outro José?
Vai
querer reerguer seu nome, vai parara de zombar dos outros?
E
agora José,
você
que faz planos,
você
que protestou,
que
quer se reeleger deputado,
que
quer se perpetuar no poder,
que
já pôs a mulher,
vai
querer por o filho?
Um
José não tem mais mulher prefeita.
O
outro tem!
Rosa
não é mais prefeita,
Fátima
é!
E
os discursos,
como
ficam agora os discursos Josés?
E
como ficam os carinhos?
Essa
noite,
o
povo vai poder beber,
vai
poder fumar,
vai
poder cuspir e vomitar tudo que sofreu nos últimos quatro anos.
Alguns
vão chorar.
Para
alguns,
um
novo amanhecer,
para
outros uma noite longa e fria que está chegando.
O
bonde não veio,
e
nem aqueles velhos ônibus que mais que servir aos passageiros,
serviam
aos patrões e enfeavam a cidade.
Eles
vão continuar, José?
O
riso que não vinha, veio!
Acabou
a utopia e um novo tempo vai começar. Vai?
Alguns
terão de fugir.
E
agora, José?
E
agora, Josés?
como
ficam as suas palavras,
as
doces e as amargas, seu instante de sede e de gula do poder?
agora
é hora de Jejum,
quem
sabe,
chegou
a hora de se entrar numa biblioteca,
e
sua lavra de ouro,
seu
chapéu de couro,
sua
incoerência,
seu
ódio - e agora?
está
com a chave na mão,
quer
abrir a porta,
a
porta existe e o mar que virou sertão chegou a hora de voltar a ser mar?
Quer
ir para Brasília,
continuar
em Salvador ou voltar para Euclides e apoiar D.Fátima?
José,
e agora?
se
você gritasse,
se
você gemesse,
se
você tocasse o destino dessa cidade como toca sua tão bem sucedida vida pessoal,
se
você dormisse tranqüilo ao travesseiro,
se
você não cansasse de querer de fato ajudar a esse povo sofrido,
talvez,
você nunca morresse,
ficaria
eternizado no coração do seu sertanejo.
Não
como um imperador,
sim
como um redentor.
Mas
você é duro, José!
gosta
de mandar sozinho
tal
um coronel moderno
sem
ter que dividir por só saber somar
sem
cavalo preto que lhe faça herói,
que
fuja a galope,
Você
marcha, José!
José,
para onde?
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?
E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?