Whittome é não apenas um apreciador como um estudioso do ´whisky´ (o escocês), não um qualquer ´whiskey´ americano, também conhecido por ´bourbon´. E embora avise que não existe uma forma errada de beber uísque, o expert aconselhou, para espanto dos entendidos, que a melhor forma de verificar o sabor e o odor da bebida escocesa é juntar-lhe água. "A água é importante, pois assim fica mais fácil de cheirar e de saborear o uísque", disse. Feita a mistura e depois de agitada, devem-se observar as "pernas" do uísque, que escorrem pelo interior do copo. "Quanto mais espessas forem e mais lenta for a descida, maior é o teor alcoólico", avisa. O olfato, fundamental para apreciar um bom "escocês", é o passo que se segue. Só pelo aroma é possível saber se estamos perante um uísque de malte (produzido a partir de uma única destilaria) ou de mistura (um ´blend´ com vários uísques diferentes). Observar a cor, o "corpo", da bebida é o último passo antes de, finalmente, a provar.
Habitualmente, distinguimos o uísque de uma forma demasiado simples - novo ou velho. A realidade é, porém, bem mais complexa. Só o uísque de malte tem quatro tipos - fumo, frutas frescas, frutas secas e baunilha. E para fazer um uísque como o Johnnie Walker Black Label são misturadas mais de 40 variedades de malte. Os quatro tipos fundamentais de malte têm "personalidades" diferentes. O Earthy Smoke, com um cheiro de fumaça resultado de uma fermentação feita sobre uma lareira, é um dos mais importantes temperos do Black Label e vem, normalmente, das ilhas do oeste da Escócia. Os maltes de frutas frescas têm um aroma ativo, que Whittome comparou com "o interior de uma loja de perfumes". Os de frutas secas, por seu lado, ganham o cheiro durante o envelhecimento em cascos de carvalho norte-americano que antes foram utilizados para o Bourbon. "Nos Estados Unidos, eles só podem usar os cascos uma vez, e para nós um barril novo altera muito o sabor do uísque. Eles querem livrar-se dos usados e nós queremos comprá-los. É perfeito", confessa Whittome. Por fim, o malte com aroma a baunilha envelhece em cascos de carvalho espanhol, de Jerez de la Frontera. O seu cheiro e sabor são suaves.
A lei escocesa obriga os produtores que querem chamar o seu uísque de "scotch" a deixá-lo envelhecer durante três anos. Na Johnnie Walker, o período mínimo é de 12 anos e, no fim desse tempo, a quantidade que está nos cascos não é a mesma que inicialmente foi lá colocada. "Anualmente, evaporam cerca de dois por cento da bebida do interior do casco", diz Whittome, que avança com outra explicação para o fenômeno: "são os anjos que passam voando e não resistem em levar um bocadinho." As reservas da marca rondam os seis milhões de barris, com 220 litros cada. Tudo somado tem um valor superior da reserva de ouro do Banco da Inglaterra, diz o especialista. No entanto, o tempo que o uísque passa à espera do momento certo para ser engarrafado nas características garrafas quadradas torna a cota dos anjos dispendiosa. "Por isso, o preço das garrafas não é o mais agradável", brinca o "Highlander".
Ao longo dos 22 anos a serviço da Johnnie Walker, o escocês já viajou mundo e o americano ´bourbon´ encontrou-se, inevitavelmente, com o seu paladar. "É um pouco como os americanos, grosseiro", diz referindo-se à versão norte-americana do "puro-escocês". Só o bebe quando o protocolo o exige, garante. Martin Whittome confessa que beber uísque faz parte da sua vida desde muito novo e que já o avô não se deitava sem beber meio litro do "néctar" escocês, misturado com soda. Para manter a boa tradição da família, Whittome dedicou-se à arte de bem beber, e conhecer, a bebida. Depois de várias décadas de consumo, só tem uma regra: "Nunca bebo aos domingos. Desde os meus tempos de escola que o domingo é um dia desgraçado, por isso também não bebo. Assim, só estrago um dia"