Para que não haja dúvidas, vou fornecer datas e
detalhes precisos. O ano 1990, com o presidente Fernando Collor a todo vapor
rompendo barreiras alfandegárias, colocando o país na rota das importações e
aparecendo a pilotar uma delas sem capacete e segundo dizem, com documentação
ilegal.
Resolvi também adquirir o objeto do desejo de todos os motociclistas de então. Uma moto Kawasaki Ninja ZX11. Embarquei para Miami e na volta, como bagagem desacompanhada, tentei entrar no país com o veículo devidamente legalizado. Óbvio que não deu certo e o imbróglio continua até hoje coma moto devidamente apreendida.
Mesmo assim, não desisti do meu presente. Radicado no Espírito Santo, busquei em jornais do Rio e São Paulo, alguém que tivesse a Ninja com documentação legal. E foi nos jornais do Rio que encontrei o que procurava.
Negócio fechado - Ao telefone uma delicada voz feminina informou-me que a moto era negra, a documentação estava absolutamente em ordem, que o preço era de U$ 35. 000.00 e que o proprietário não podia atender-me.
Naquela época, achava eu que era um desaforo o cidadão que estava vendendo um veiculo desse valor não querer conversar com o comprador. Depois de muita insistência, uma voz firme de sotaque marcantemente carioca com o arrastar de todos os “xis” que tinha direito, atendeu-me com muita simpatia e bom humor. “Por que você quer vender a moto?”, perguntei. “Porque tenho duas iguais”. “Por que comprou duas iguais?” “Ora cara, porque tenho duaxxxs bundas”. E desmanchou-se em risos.
No final da tarde daquele mesmo dia, recebi um enorme fax com toda a documentação da moto. Chequei tudo e em seguida liguei para o escritório do cidadão. A mesma secretária de voz delicada informou-me que o patrão já tinha ido para casa e para minha surpresa, forneceu-me o telefone residencial. Liguei imediatamente e uma voz formal atendeu-me, identificou-se como sendo o mordomo e a seguir passou a ligação pára o patrão. A conversa foi mais uma vez simpática e o negócio foi fechado pelo valor pedido.
O mundo é pequeno - Dia seguinte ligo para a secretária para pedir um número de conta a fim de fazer a transferência do dinheiro e escuto como resposta” Olha, o doutor recebeu uma proposta de U$ 37.000,00 e quer saber qual a sua proposta” “Proposta?” perguntei indignado e após alguns impropérios desliguei o telefone. Afinal, não estava participando de nenhum leilão, e sim querendo efetuar o pagamento de um negócio que já estava fechado.
Tudo isso ocorreu em 20 de junho de 1990, há, portanto, quase 23 anos. À noite embarquei para Nova Iorque em um vôo da extinta Transbrasil e pela manhã aterrisei numa Manhattan já colorida e com cara do verão quente que se iniciaria pelo calendário, no dia seguinte.
A gente ouve toda hora a frase “O mundo é pequeno”. E É!
Do Kennedy vou direto ao Audi Bank, (hoje Interaudi Bank) um banco com atendimento bastante
peculiar, hoje instalado em uma elegante sede numa das raras casas da Madison
Avenue, mas que na época funcionava em uma andar alto de um edifício de esquina
na Fifth Avenue, Midtown. Na sala reservada ao atendimento, grupos de cerca de
cinco pessoas eram convidados a entrar. Num deles, além de mim um cidadão alto
loiro, simpático, brincalhão, e dono de um inglês perfeito, conversava com
alguns americanos e referia-se a aquisição de um motor para sua off shore a fim de participar no dia
seguinte de um campeonato na Bahia de Nova Iorque.
Achei que conhecia de algum lugar o falante cidadão, depois percebi que se não o conhecesse, pelo menos a voz eu conhecia. Havia algo de familiar. Comigo, ele conversava sobre o sequestro do empresário Roberto Medina, naquele dia ainda em poder dos sequestradores. ”Acho que te conheço de algum lugar”, disse-lhe eu “Você também não me é estranho”, respondeu. Perguntei-lhe o nome. ”Eike”, respondeu. “Eike batista”! “E o seu?” ”Celso, Celso Mathias. Sou o cara da moto, de ontem”. Desatamos rir constatando que o mundo era pequeno.
O mais engraçado, é naquela época, eu não tinha a menor idéia de quem era Eike Batista e muito menos que se tratava do filho de Eliezer Batista e de Dona Juta, na época figuras já extremamente ligadas ao Espírito Santo onde eu morava e o casal estava de mudança para uma bela casa numa região de montanha, aonde por sinal, veio a falecer Dona Jutta. Lá hoje, mora o viúvo Eliezer, consultor do filho bilionário.