E qual é o espetáculo?

domingo, 14 de setembro de 2008

A física de partículas tem destes paradoxos. Um acontecimento que excitou milhares de cientistas em todo o mundo, que mobilizou a atenção da mídia e que entusiasmou a opinião pública não teve absolutamente nada de espetacular.

E qual é o espetáculo?

 O Dia D da ciência do infinitamente pequeno foi marcado por um simples ponto luminoso, um pequeno "flash" que surgiu numa tela do Centro de Controle do CERN (Organização Européia para a Pesquisa Nuclear), em Genebra.

Mas esse discreto "flash" que emergiu na madrugada de 10 de Setembro foi o suficiente para as centenas de cientistas presentes nesse Centro de Controle, incluindo o diretor-geral do CERN, Robert Aymar, festejarem ruidosamente o acontecimento com vivas, palmas, apertos de mão, largos sorrisos e champanhe, porque foi o culminar de um projeto que pode abrir as portas a uma nova Física.

Na verdade, o primeiro feixe de protões a circular no LHC representa apenas a etapa inicial da grande ambição dos dez mil investigadores envolvidos no maior acelerador de partículas de todos os tempos: descobrir o bosão de Higgs, a partícula elementar que pode explicar a origem de tudo o que constitui o Universo. Nestas primeiras experiências, o Grande Colisionador de Hadrões (LHC, na sigla inglesa) não anda provocando qualquer tipo de colisão que possa produzir novas partículas como o Higgs. A maior máquina de Terra está somente movimentando a velocidades cada vez mais elevadas dois feixes de protões mais finos que um cabelo humano em direções opostas, através do seu túnel de 27 km de perímetro.

Sem colisões-As primeiras imagens divulgadas no dia 10 pelo CERN provam que o tempo dos grandes detectores CMS e ATLAS está todo sincronizado e que estes estão funcionando muito bem. Olhando para essas imagens não se vê, de fato, qualquer zona totalmente em branco, com ausência de informação. Os milhões de protões que interagiram com o detector CMS (Solenóide Compacto de Muões), por exemplo, produziram novas partículas, os muões, tal como todos esperavam.

E agora? Nos próximos dias ou semanas, à medida que os cientistas forem ganhando experiência e confiança com o novo acelerador, os feixes vão entrar em colisão. Nessa altura haverá um período de medição e calibração dos quatro grandes detectores do LHC, que no CERN preferem antes chamar "as quatro grandes experiências" - o CMS (que vai procurar o bosão de Higgs), o ATLAS (detecção da matéria escura), o ALICE (que vai recriar o estado da matéria logo a seguir ao "Big Bang") e o LHCb (detecção de antimatéria).

Em Genebra admite-se que os resultados dessas 'experiências' comecem a surgir dentro de um ano. Há um fenômeno que pode mesmo acelerar o ritmo das descobertas: a competição entre as equipas de investigação do CERN, bem evidente quando se visitam as instalações e se ouvem os cientistas do maior laboratório de física de partículas do mundo.

E se o bosão de Higgs não for descoberto? Há acadêmicos que gostariam mais deste cenário, porque obrigaria a rever tudo e seria mais excitante que a mera confirmação de uma teoria com mais de 40 anos. Mas o otimismo é grande e o LHC é sete vezes mais potente que o maior acelerador até agora em funcionamento (o Tevatron do Fermilab, nos EUA), A ciência baseia-se no chamado modelo-padrão para compreender as partículas elementares da matéria e as forças que as regem.



Autor: Equipe VB
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