Eu sou um
colecionador de várias coisas, todas organizadas em ordem alfabética, com
plásticos protetores, etc. O viés quase colecionista, cataloguista do Parker
me interessa e eu respeito, mas essa tabuada reduz a pó a inteligência dos
sensos.
A idéia da nota eu
abomino em qualquer questão da vida. Na música, por exemplo: por que colocar em
primeiro lugar John Coltrane
Não defendo o
relativismo, que é sempre cômodo para muitos, mas classificar um prazer como o
de beber um grande vinho com esse pragmatismo é limitado demais.
Grande parte das
pessoas precisa dessa muleta intelectual, que vai dos vencedores do Oscar
e do Grammy aos 100 pontos de Robert Parker.
O crítico inglês Hugh
Johnson em seu famoso guia de vinhos descreve brilhantemente esse fantasma
escolar "O motivo pelo qual os EUA gostam dos números (do mesmo modo que
os vendedores) é porque são mais simples do que palavras" Wow! Da-lhe
Hugh!
Como pode um vinho
ter 90 pontos e outro 91? Isso sempre me soou esdrúxulo...
Mas a influência
nefasta de Parker vai além de ingênuas notinhas. No documentário Mondovino
do corajoso Jonathan Nossiter, o retrato do crítico norte-americano é
claro. Parker ao longo dos anos influenciou com seu gosto por vinhos
ultraconcentrados o que se produz ao redor do mundo.
Tem vinho
Parkeriano em toda parte, esse é o gosto vigente, o correto, o de 100 pontos...
O engraçado é o
conservadorismo por grande parte dos consumidores de vinho que olham com
implicância qualquer alternativa fora da aura Parkeriana.
Eu nunca dei nota
para nada nessa vida, ainda mais meus prazeres. Na verdade, a discussão não é
somente a tabuadinha do Parker, ela se amplia também ao famoso Guia
Michelin que de uma forma mais sofisticada impinge uma idéia parecida
com as tais estrelas. Então a felicidade padrão gourmet é um vinho 100 pontos
do Parker num restaurante 3 estrelas Michelin?
Eu tenho profunda
antipatia por isso, esse papo "não cola" comigo mesmo.