Na época, ainda não havia em Euclides da Cunha o
curso ginasial. Quem terminava o curso primário tinha que procurar outras
paragens para dar continuidade aos estudos. Os mais abastados procuravam a
capital, Salvador. Os menos, Bonfim, Feira de Santana ou Tucano.
Nisinho, mais adiantado que eu, foi para Tucano um
ano antes. Passou com louvor na Admissão ao Ginásio. O cara era fera!
Ao retornar a Euclides da Cunha, Nisinho apareceu
calçado numa botinha de salto igualzinha a do Roberto Carlos, o Rei do
Iê-iê-ie. Teve que me vendê-la! E aí, começou a nossa amizade. Convivemos um ano
no Ginásio do Padre José, em Tucano e reencontramos-nos estudantes do curso
colegial em Salvador. Agora, ele já era Dionísio. Nada de Nisinho! Moramos
juntos em alguns quartos de pensão, em vários pontos da cidade. Depois,
alugamos um apartamento na Rua Carlos Gomes e, em seguida, na Rua Djalma Dutra,
ali perto do Largo da Setes Portas. A minha vida era divida entre o estudo e a
boemia. A de Dionísio, entre o estudo, a boemia e o trabalho. Ele já fora
admitido como funcionário do Estado através de concurso público. O cara sempre
foi fera!
Conviver com o Dionísio não era fácil. Era e é, uma
das pessoas mais exigentes que conheço. Exigente e extremamente coerente com
suas crenças e princípios. Daí, creio eu, a fama de excêntrico e temperamental.
Conosco, nas pensões em que vivemos, conviveram em fase adiantada de sérios
problemas de saúde, D. Loló, que morreu precocemente aos 49 anos, e Sebastião,
que se foi aos 52. Ali, eu vi o bom filho se desmanchar em sofrimento e lutar
para salvar os pais. Essa guerra, infelizmente, ele perdeu cedo. Bom irmão,
conduziu os outros seis órfãos pelos melhores caminhos possíveis. Quem não
cresceu com ele, foi porque não quis
Mais de 30 anos nos separam da convivência de
meninos euclidenses. As transformações pelas quais os caminhos da vida nos
fizeram passar, de fato nos distanciaram não só fisicamente. As idéias e os
propósitos que nunca foram os mesmos tomaram corpo em forma de filosofias de
vida bem distintas. Duas coisas no entanto se fortaleceram o respeito mútuo e a
admiração .
De posse de um diploma de curso técnico em
Administração, foi braço direito do catedrático Jorge Hage, hoje figura
importante da República. Estágios em outras capitais o transformaram em um
disputado Técnico em Administração Pública. Estimulado pela experiência no
setor, fez vestibular para o Curso de Administração Pública da Universidade
Federal da Bahia. Passou e concluiu o curso com distinção e honra. O cara
sempre foi fera!
De volta à Bahia, reencontro Dionísio que é hoje
Auditor Fiscal do Estado da Bahia, cargo que obteve através de concurso
publico. O cara é...
Mas o que Dionísio gosta mesmo de fazer, é ouvir e
contar histórias. O Auditor Fiscal é muito mais um competente historiador do
que um Auditor. Apesar disso, o acesso que tive a uma autuação dele, embora
cruel, me deixou a certeza de que tudo o que ele faz, até mesmo o que não
gosta, o faz muito bem feito.
Dionísio, que é um legitimo Abreu, sobrinho-neto de
Quinquin Paranhos de Abreu,vem se dedicando ao estudo da história de Euclides
da Cunha e das regiões circunvizinhas , fazendo profundas investigações nas
árvores genealógicas e revelando fatos importantes sobre acontecimentos e
pessoas.
Nessa segunda- feira, 07 de Julho,o historiador vai
apresentar, a uma curiosa platéia,a história do Capitão Francisco Dantas que há
exatos 100 anos foi Intendente da nossa cidade natal.Segundo Dionísio, o Cap.
Chico Dantas, pai de figuras carismáticas da cidade como José Dantas e Joaquim
da Silva Dantas, Ioiô,foi uma das mais importantes figuras da região no século
passado.