Euclides
da Cunha é um município progressista incrustado no sertão baiano, a cerca de
320 km da capital, Salvador. É o que mais se desenvolve na região e polariza as
cidades ao seu redor, como Tucano, Monte Santo, Quijingue, Pombal, Araci,
Cansanção e Canudos dentre outras.
Até meados dos anos 80, o município foi governado
por uma elite política, na época composta pelos chamados coronéis que se
revezaram no poder até o ano de 1982, quando o economista Renato Campos rompeu
essa estrutura, ao eleger-se prefeito derrotando Antenor Dantas, o último
remanescente dessa elite. A proposta de Campos era fazer uma revolução na
administração do município e acabar com o clientelismo que até aquela data
norteara a política local. Foi o primeiro prefeito do município a portar um
diploma de bacharel. Eleito vice-prefeito em 1996, e novamente prefeito em
2000, revelou-se um administrador provinciano, truculento e de idéias curtas.
Eleitores que viram nele o caminho para as mudanças, ainda hoje se arrependem
de ter deixado de votar no velho Antenor Dantas, que continua vivo e saudável.
"Imagina que eu deixei de dar meu votinho encabrestado ao Seo
Antenor e fui votar nesse cara", esbravejava arrependido um deles no
último São João, enquanto saboreava um delicioso licor de jenipapo numa
barraquinha ao lado do Forródromo construído pelo prefeito José Nunes Soares.
José Nunes Soares, O Zé Nunes. Aqui começa outro
capítulo na história do Município.
Zé Nunes é o mais bem sucedido empresário que
aquela região já produziu. É um ganhador de dinheiro nato. Em meados dos anos
60, ainda ginasiano, enquanto seus contemporâneos que mal completavam a
maioridade ingeriam generosas doses de Dreher no bar do Mascarenhas e depois
seguiam para a Casa da Alice Grande, Zé Nunes saía da escola e ia se meter
entre as peles fedidas que seu pai, Otacílio Soares, comercializava num modesto
depósito na Rua do Campo.
Sempre equilibrado e bom moço, Zé Nunes foi
absorvendo , assumindo e multiplicando os negócios do pai, que, quando lhe
passou o comando de tudo, já era na surdina, o homem mais rico da cidade.
Em 1988, Zé Nunes foi eleito prefeito e fez uma boa
administração, levando práticas da sua atividade empresarial para a
administração pública. Deixou, ao contrário de todos os outros administradores
da chamada nova geração, uma marca de eficiência, habilidade política e,
principalmente a ausência de escândalos envolvendo a malversação dos recursos
públicos.
Deputado estadual já em quarto mandato, o sertanejo
de fala mole consolidou-se como um Democrata moderado que sabe até onde arrisca
o pescoço. Carlista leal,tem abertas para ele, as portas de todas as correntes
políticas, resultado do tom moderado como conduz a sua atividade parlamentar.
A sucessão-Na vida
empresarial, sua habilidade o transformou num poderoso homem de negócios com
tentáculos estendidos a várias atividades. Low profile, leva uma vida
simples, mas muito distante de simplória. Não ostenta e, não desperdiça o
dinheiro que tão bem soube amealhar, porém não se priva das viagens
internacionais, de bons restaurantes e dos prazeres que o dinheiro e o poder
podem lhe proporcionar. Sempre acompanhado da mulher Fátima, tem uma vida
familiar harmônica e ótima relação com os três filhos que estão sendo
devidamente preparados para sucedê-lo. Em tudo! O primogênito, por exemplo,
como na família Ford ou na do cantor Roberto Carlos, carrega no sobrenome o
algarismo romano que lhe define a geração. Chama-se José Nunes II, o
“Segundinho”.
O recém aposentado Bill Gates, o homem mais rico do
planeta, construiu a sua fortuna em pouco mais de 30 anos. É sensato,
econômico, low profile, leva uma vida familiar pacata e cuida muito bem
dos bilhões que ganhou a custa de muito trabalho e competência.
Consta que o que fez de Gates o que ele é hoje, foi
a fantástica pirâmide de poder que construiu em torno si. Em números
hipotéticos, teriam uma fortuna de 10 bilhões de dólares, os 10 homens mais
próximos a ele na administração da Microsoft. De 1 bilhão de Dólares, os 100 e
assim por diante. Teria sido essa a fórmula encontrada por ele para manter ao
seu lado as geniais cabeças que fizeram a Microsoft.
No Brasil, exatamente na Bahia, o mega grupo
Odebrecht pratica política similar.
E o que tem essas histórias a ver com Zé Nunes? Aos
que se desmancham em elogios ao político euclidense, os adversários rebatem com
a tese de que ele é arvore que não dá sombra. Lembram que, tanto no campo
político como na iniciativa privada, não permitiu que ninguém crescesse ao seu
redor. Na sua poderosa estrutura empresarial, não haveria sequer um executivo
de nível. Quem tentou se sobressair foi abortado de forma que a uma certa
altura, os filhos já adultos e bem formados pudessem, como já o fazem, ocupar
postos chaves. Na política, sepultou todos os que criou. Tanto que, na
inexistência de uma liderança pronta para sucedê-lo em Euclides da Cunha e não
podendo abrir mão do posto na Assembléia Legislativa da Bahia, teve de optar
por uma solução caseira. Tal qual fez nos negócios, lançou candidata a prefeito
da cidade, nada mais nada menos do que a mulher, Fátima Nunes.
Adversários&aliados-Uma terceira corrente política local tem utilizado o argumento machista
de que a última mulher que governou o município levou a administração ao caos
em que se encontra e responde a dezenas de processos por improbidade
administrativa. Segundo essa corrente, outra mulher no mesmo cargo seria
desastroso. Rebatem os Zenunistas com o slogan “Agora sim, uma mulher de
verdade”. Essa mulher de verdade, reafirma essa terceira via, seria tão
teleguiada quanto a atual prefeita que também é candidata à reeleição apesar
das acusações que lhe pesam
A bucólica cidade que até inicio dos anos 80 fazia
a famosa festa de São João fechando a Av.Ruy Barbosa, enchendo-a de
barraquinhas a vender bebidas, comidinhas típicas da região e da data, que
colocava em cada esquina uma sanfoninha entoando um forró pé de serra, que
tinha meia dúzia de vereadores não remunerados a praticar as sextas e sábados
um verdadeiro espetáculo de democracia e de embate político idealista, que
tinha como secretário de todas as pastas, um único cidadão,-Teophilo Paiva
Guimarães, transformou-se, hoje, num monstrengo cuja arquitetura de péssimo
gosto parece ter sido criada por um único arquiteto que só sabe desenhar
caixotes, fazendo desaparecer sob eles, o belo casario que embelezava a cidade.
O forrozinho foi transferido para um mega- espaço
onde, no tradicional São João, bandas pagas a peso de ouro, normalmente com um
contrato de exclusividade pra lá de suspeito, tocam de tudo. Às vezes, até
forró.
A estrutura administrativa e a Câmara de Vereadores
transformaram-se em um verdadeiro cabide de empregos, pagando salários muito
além do que se paga na iniciativa privada. Em conseqüência disso, cargos de
confiança e a vereança estão envolvidos numa acirrada disputa, onde o objetivo
menor é administrar e/ou legislar.
Segundo o historiador José Dionísio Nóbrega, a
última grande intervenção urbanística na cidade foi feita pelo prefeito Joaquim
da silva Dantas que governou com mão de ferro entre os anos de 1968 a 1972.
Construiu praças, escolas , abriu avenidas e nunca se ouviu falar em um caso
sequer de corrupção. Joaquim da Silva Dantas, o Ioiô, entrou e saiu da política
nessa única administração. Aposentou-se, provavelmente por não fazer concessões.
Excetuando uma parte da Rua da Igreja e da chamada
Rua Dos Ricos, não restou, ali, sequer vestígios daquele casario que a fazia
encantadora. Não há um só lugar que sirva para alguém sentar e ficar observando
a beleza em volta, a não ser, as encantadoras espécimes femininas que a
enfeitam.
Não obstante o inequívoco talento
político-administrativo do Zé Nunes, do seu poder pessoal de sedução, da
marcante possibilidade de, se eleita, Fátima Nunes, apoiada pelo marido, fazer
uma brilhante administração, questiona-se a aniquilação das outras lideranças
locais. Os adversários, e, por debaixo dos panos, até os aliados comentam a
boca pequena. "Quem conseguiu eleger a prefeita a própria esposa ,tem um
filho de 28 anos que é engenheiro e bem preparado cujo nome é Jose Nunes II, o
Segundinho, advinha a quem elegerá prefeito na sucessão da mulher? Nessa
sequência, José Nunes I e ÚNICO, vai transformar-se em breve, no verdadeiro
imperador do Sertão.” Arremata.