Campeão de vendas na Itália e número dois a nível mundial no segmento conforto, atrás da britânica Clarks, recorda agora, com um sorriso, o tempo em que a mãe receava pelo seu futuro, preocupada com o “excesso de fantasia e criatividade” deste filho, formado em Agronomia, de acordo com a tradição da família, produtora de vinhos há três gerações, mas rapidamente rendido à indústria do calçado.
Classificado entre os 300 homens mais ricos do mundo da revista “Forbes”, Mario Polegato gere aos 65 anos um negócio avaliado em mais de dois bilhões de euros e fatura mais de €1 bilhão em 10 mil pontos de venda multimarca e 823 lojas de 68 países. Tudo, porque acreditou que, “às vezes, uma boa ideia vale mais do que uma fábrica”.
Neste caso, a ideia era apenas furar as solas dos sapatos, para deixar o pé respirar. Foi assim que a história oficial da Geox começou numa viagem aos Estados Unidos, durante uma caminhada pelas Montanhas Rochosas, no Colorado. Era Verão, o suor nos pés dificultava a caminhada e Polegato, vencido pelo desconforto, furou a sola com o seu canivete.
No regresso a Itália, fez uma rápida prospecção do mercado e percebeu que “tinha descoberto uma oportunidade única”. Demorou três anos a desenvolver este conceito, de forma a garantir a impermeabilidade dos sapatos apesar dos buracos nas solas de borracha. Na investigação, descobriu que os pés produzem até 100 litros de suor por ano e a molécula de vapor é 700 vezes menor que a molécula de água. A solução encontrada inspirou-se na tecnologia usada pela NASA nas roupas dos astronautas: criar uma membrana com microporos menores do que uma gota de água, mas maiores do que as moléculas de vapor de água, para inserir entre a sola e a palmilha dos sapatos.
A inovação, protegida por uma patente, foi apresentada aos maiores fabricantes mundiais de calçado, mas ninguém quis arriscar a produção destes sapatos com solas furadas. Por isso, Polegato acabou por “ser obrigado” a tornar-se industrial de calçado.
A microempresa criada em 1995, em Montebelluna, a sua terra natal, com cinco pessoas, cresceu ao ritmo de dois dígitos por ano e entrou na história da indústria do calçado como a única marca que conseguiu impor-se no mercado global na última década. No nome, “combina a palavra Geo, que significa terra no grego antigo, e x, sinônimo de tecnologia”. Na carteira de clientes reúne nomes como a atriz Angelina Jolie, o cantor Paul McCartney e o Papa aposentado Bento XVI. A Geox vende mais de 30 milhões de pares de sapatos por ano, envolve 30 mil postos de trabalho e “continua bem calçada” para continuar a crescer em todo o mundo, garante o seu presidente.
Traduzido em números, o espírito criativo de Polegato permitiu criar 40 patentes, em parceria com universidades e com a equipa de Investigação e Desenvolvimento da empresa. São processos que desenvolvem a patente inicial e novas soluções para solas de couro, calçado de desporto e roupa, sempre com buracos para deixar o corpo transpirar.
Os 15 cavalos, onde não falta um exemplar preto “Geox”, e a frota pessoal de carros esportivos, com Ferraris e Lamborghinis, além de motocicletas, ajudam-no “a sentir o vento”. Mas, a par destes hobbies arejados, Mario Moretti Polegato também gosta de viajar pelo mundo para contar a sua história na primeira pessoa, convicto de que “qualquer um pode ter sucesso”. Por isso, o agrônomo que criou a maior marca italiana de sapatos vai três vezes por mês a universidades de diferentes países explicar como ficou rico com um simples buraco, para ensinar aos jovens a importância da inovação e da propriedade intelectual e tentar despertar “novas vocações empreendedoras”.