A mitologia greco-romana, através do deus Baco, descobriu a bebida na vinícola florestal em Tebas, na Grécia, onde ele foi criado sob os cuidados das ninfas. Conhecidas como bacantes, além de "paparicar" o deus Baco, ainda defendiam e buscavam, em outros povoados, mulheres para integrarem o grupo. Entre três dias do ano, Baco era reverenciado através de uma festividade (o termo bacanal é alusão ao evento) que misturava bebida, violência e muita orgia, mas muita mesmo! Abundância era a tônica do evento. Todo este furor de sexualidade, coreografias, bebedeiras irresponsáveis e musicalidades foram fontes de inspiração para o teatro. Não é à toa que Baco é o protetor desta arte cada vez mais refém das "peripécias" de um menino criado por ninfetas como desejou seu pai Zeus, já que ele é fruto de uma "pulada de cerca", engravidando Sémele que não era sua mulher. Filho de peixe, peixinho é.
Mas essa bebida cheia de charme e sabedoria tem delicadezas e rituais indispensáveis para agradar mais ainda aos seus apreciadores.
Ao servir, cuidados e carinhos com ele. Mas por favor, em taças de vidros finos ou cristais. Uma peculiaridade do vinho é a mudança de sabor em copos inadequados. Espessura de copos é um diferencial negativo.
Um dos processos mais importantes do serviço de vinhos é a decantação. A elucidação da sensibilidade é comprovada neste momento que abrange a abertura do vinho e a forma de servir, apresentando-se em três formas. A primeira é manual na garrafa (inclinação ligeira da garrafa para evitar o sedimento, auxiliado por fonte de luz e posto na taça com lentidão). A segunda maneira é manual no decantador ou decanter (transferência do vinho de garrafa para o objeto que é feito de vidros finos ou cristais, deixando-o repousado até que o sedimento vá para o fundo para ser servido lentamente). A terceira forma é auxiliada por um aparelho especial, apenas decorativo, giratório, por uma pequena manivela, que implicará lenta inclinação da garrafa até chegar a taça. Algumas das vantagens da bebida são a conservação, impermeabilidade, elasticidade, resistência e durabilidade.
O bom vinho se comporta de maneira, muitas vezes, decisiva e elegante perante seus consumidores moderados. Já dizia Avicena, médico e filósofo iraniano (980 - 1037 d.C.). "O vinho é amigo do moderado e inimigo do beberrão". Encher uma taça de vinho é um ato desastroso.
O vinho é um alimento tônico e é recomendado nas refeições como almoço e jantar. Gorduras são inoportunas presenças junto a ele. Na Europa, é comum o vinho estar na mesa diariamente. No Brasil, apesar do mercado estar em expansão, o consumo melhora apenas nos meses de maio, junho, julho e dezembro com o advento do Natal.
Devido sua nobreza, o vinho não se submete à "companhia" desagradável à mesa. A alimentação é como um quebra-cabeça, que deve encaixar perfeitamente com a qualidade, sutileza e postura. Exclusividade à parte, o vinho não aceita drinques fortes antes da refeição. Após servir a refeição, sugere-se que inicie a degustação com vinhos leves e gradativamente mudando para o mais encorpado, sempre seguindo as tendências dos alimentos. Saladas com molho de vinagre, frutas cítricas ou à base de chocolate são preteridas pelo vinho. O que o vinho não dispensa é a "boa" água mineral.
Tudo que se consome em demasia causa mal-estar, e com o vinho a regra não é diferente. Para quem já tomou um "porre", prefere ver o diabo a um cálice de vinho no dia seguinte. Assim como todas as bebidas alcoólicas, a apreciação plausível é um êxtase de satisfação, de degustação, gerando inúmeras vantagens à saúde. Segundo OMS (Organização Mundial da Saúde), o vinho de alta qualidade é citado em Medicina preventiva, combatendo enfermidades cardíacas, fadigas, stress, colesterol e mexendo com o imaginário no quesito sexo.
A morte derivada de problemas cardiovasculares, estaticamente, lidera o ranking nos países do Ocidente. O vinho é um antioxidante, prevenindo o entupimento das artérias. Ação bactericida, antiviral, facilitador digestivo e retardador de envelhecimento celular e orgânico são outras "graças" que o vinho nos oferece. Cientistas de várias instituições internacionais, dentre elas a Escola de Saúde da Universidade de Harvard, realizaram uma pesquisa com universo de 40 mil homens durante 12 anos e detectaram que as chances de um ataque cardíaco em pessoas que ingerem bebidas alcoólicas (máximo três vezes por semana) são 35% menores que os abstêmios. Outra evidência é o estudo realizado pela Universidade de Yale, dos Estados Unidos. Em 2001 profissionais perceberam uma queda brusca nas mortes cardiovasculares entre idosos que bebiam regularmente.
Como beber é uma arte, para quem sabe, é lógico, o consumo excessivo tem seus reflexos cotidianos. Para se ter uma ideia da irresponsabilidade no trânsito, o Brasil, anualmente, faz mais vítimas fatais nas ruas e estradas do que a guerra da Bósnia. Transformar o vinho num "santo remédio" está longe porque não há tradição em se beber vinho diariamente. O consumo é irrelevante em comparação aos outros países produtores, ficando muito aquém das expectativas descobertas pela medicina. O Brasil é um dos países em que mais se ingere bebida alcoólica, mas não absorve as virtudes saudáveis que elas nos oferecem.
O vinho nacional tem ganhado projeção internacional, principalmente os brancos e os espumantes. Jancis Robinson, jornalista inglesa especializada em vinhos tem elogiado o produto brasileiro. O Sul do país é a região que produz, majoritariamente, o vinho. Só no Rio Grande do Sul, a produção corresponde a 92% dos vinhos nacionais.
"Enquanto bebo o alegre vinho/os meus desgostos adormecem. /Para que penas e suspiros? /Por que cuidados que aborrecem? /Hei de morrer, queira ou não queira"
Anacreonte (2a metade do século VI a.C.) Odes
Abaixo, uma relação de alimentos e seus respectivos vinhos.
Mariscos, ostras, carpaccio de peixes: vinhos brancos pouco aromatizados.
Peixes defumados: espumante ou Champagne.
Entradas temperadas: vinhos brancos aromáticos.
Primeiro prato leve: vinhos brancos encorpados ou rosado seco.
Carnes brancas e aves: vinhos brancos encorpados ou tintos leves.
Massas com molho de tomate ou carne: vinho tinto leve.
Carnes vermelhas não muito temperadas: vinho tinto de médio corpo.
Carnes de caça e de pato: vinho tinto encorpado.
Queijos de massa mole: vinhos brancos leves.
Queijos de meia cura: vinhos brancos encorpados.
Queijos curados: vinhos do Porto e tintos encorpados.