Família vai comemorar o centenário do patriarca Nelson Bastos no próximo dia 02 de maio

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Essa matéria foi escrita em abril de 2010 por ocasião da comemoração dos 95 anos de Nelson Silva Dantas Bastos. Decorridos cinco anos, ela continua atualíssima e uma lição de vida para seus inúmeros descendentes e para as novas gerações. Na integra, a história de Nelson -“ Ele nasceu em 29 de abril de 1915 na mesma casa onde vive hoje com um dos filhos, nora, neto e muitas recordações. Da mãe Marocas, dos irmãos, Nilza, Lelinha e Juquinha, este, nasceu, viveu e morreu como um anjo. Não falava, não via, não ouvia e não andava. Pelo menos com os sentidos físicos. Ficava ali na rede do alpendre da velha casa com os olhos azuis perdidos no azul do infinito. Acho que partiu aos quarenta ou cinquenta anos. Como um anjo!

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Lembro-me do quintal, da goiabeira, das bananeiras e da mata rala de onde se podia colher e pode até hoje, Boldo, Capim Cidreira, Erva Doce... e da velha Marocas sempre magra e com roupas escuras. Lembro-me de D. Lelinha morena rechonchuda, doce e poderosa. Era a titular do Cartório da Vara Criminal e uma quase viúva. O marido, assim como seu pai, marido de Marocas desapareceu no mundo logo depois do casamento e nunca mais voltou. Acho que ela chegou a receber a Certidão de Óbito dele pelos Correios...

Mas e o nosso personagem principal, o Nelson? Bem, o Nelson aprece na minha memória bem depois dos personagens citados. Quando nasci, acredito que ele já era caminhoneiro, profissão posteriormente adotada por meu pai que à época alugava bicicletas. Como caminhoneiro, sua frequência à casa materna ficava resumida às estadas em Euclides da Cunha. Além do mais, ao esposar a bela Maria Eliza, mudou-se creio eu, para uma das casas da Rua da Igreja.

Nelson é filho de Marocas, neto do famoso Capitão Dantas e sobrinho de Zeca Dantas, outro personagem incrível e longevo. Deixou esse mundo aos quase cem anos ainda lúcido e “piadista”. Maria Eliza veio de Serrinha com os pais Amélia e Mariano Ribeiro. Lembro-me dele elegante e de terno branco. Não vivia o tempo todo por aqui. Tinha atividades em outros lugares e dizem as más línguas que levava uma vida digamos, boêmia. Charme não lhe faltava!

O pai de Nelson era de tucano como o meu pai. Chamava-se Benjamin Miranda Bastos e só para registro, era primo em primeiro grau do ator Othon Bastos.

Benjamin esposou Marocas, filha de tradicional família euclidense e viveu por cerca de dez anos ali na centenária casa da Rua de Cima, até que um dia fez uma viagem ao Rio de Janeiro e jamais voltou.

Por volta dos anos 50, Nelson já era um dos mais bem conceituados caminhoneiros da região. Cortava esse Brasilzão de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Homens como ele eram para a população das pequenas cidades do interior do país a única comunicação com o mundo civilizado, com o novo. Eram eles que traziam as mercadorias, os tecidos finos, os perfumes, a moda e principalmente a sedução. As moçoilas se encantavam com eles. Nelson era um deles na melhor essência da palavra, aliado ao fato de ser considerado um homem valente destemido e sistemático. Para alguns, “cismado”.

E foi por causa dessa “cisma” que Nelson já passando dos quarenta anos, resolveu revirar o Rio de Janeiro procurando o velho Benjamin, seu pai, para lhe “tomar umas satisfações”. Foi na Lapa que encontrou o velho rodeado de cervejas e de algumas “senhoras”. Entre esclarecimentos e lágrimas se embebedaram por alguns dias e Nelson voltou para casa meio desconfiado, mas com a certeza da missão cumprida. Foi a última vez que se viram.

Antes de conhecer D.Maria Eliza, o intrépido viajante já deixara sua marca na vizinha Tucano: Francisco Bastos, seu primeiro filho que veio a falecer em Salvador aos quarenta e cinco anos de idade em circunstâncias até hoje não totalmente esclarecidas. Mas essa não foi a sua única grande tristeza dos oito filhos concebidos com Maria Eliza, o sexto deles, Juracy Ribeiro Bastos aos vinte e três anos, desapareceu tragicamente num acidente de moto.


Nelson e Maria Eliza com José Bastos, o primogênito do casal


Após abandonar a vida de caminhoneiro, Nelson instalou aquela que seria na época a melhor oficina Mecânica da cidade - Oficina Taurus- que funcionava no local onde hoje está instalado o Hotel Mirante. Ali fez história e contou estórias. Aos filhos, quase todos, ensinou o ofício e com a renda dali retirada os criou, educou e os fez cidadãos.

Da “Taurus” também tirou dinheiro para suas impagáveis farras no Bar de Zezito, o Café Society. Quantas vezes o vi ali tomando cerveja, ouvindo e contando piadas com uma turma inesquecível. Seu tio e quase contemporâneo, Zeca Dantas, Edson Lima, Edmundo Esteves, meu pai, meu avô e meu tio, Dr. José Mathias com quem Nelson tinha uma relação muito especial. Vivendo em cidades diferentes e distantes, quando se encontravam, sempre trocavam presentes. Na verdade, o doutor e o mecânico e ex-caminhoneiro, tinham os mesmos princípios, os mesmos valores. Por isso se gostavam e se respeitavam tanto.

Das “cismas” de Nelson que podemos muito bem traduzir por sistemática, lembro-me aquela do cigarro. Fumante inveterado e já perto dos sessenta anos de idade esmaga o cigarro ao chão e com a determinação que sempre o marcou afirma: “Nunca mais ponho essa porcaria da na boca”. Nunca mais o fez. Aos setenta anos, saudável como sempre e apreciador de uma cervejinha, escorregou durante a festa de casamento de um dos filhos tomando um leve tombo. Levantou-se, ajeitou o cabelo e dirigiu-se a alguém que por ali passava. ”Tá na hora de deixar a cerveja”. Foi a última da vida.

Hoje Nelson completou 95 anos e tem um saldo de muitas histórias que ainda não podem ser contadas. Todas honoráveis, diga-se de passagem. Tem ainda muita saúde, leveza, um senso de humor inato e um batalhão de filhos, netos e bisnetos, todos carregando a sua marca de determinação e principalmente honradez. Feliz aniversário a todos os Bastos que podem comemorar os 95 anos do Nelson. Que possam muito mais!

Na festa de 95 anos, Nelson, Maria Eliza, filhos, noras e netos.

E puderam; Nelson Silva Dantas Bastos, 100 anos em 29 de abril de 2015!”



Autor: Celso Mathias
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Existe 4 comentários para esta publicação
sábado, 22/7/2017 por Dilermando Castro Lemos Dila Lemos
Nelson Silva Dantas Bastos
Me lembro do sr.Nelson, estava eu na época com 36 anos. Ele trabalhava no Posto Texaco, em companhia de um garoto seu filho, que não me recordo o nome. Hoje aos 82 só me restam as lembranças. Fui Gerente do Baneb de junho/70 a dezembro de 1971.
terça-feira, 20/12/2016 por José Ribeiro Bastos
Saudoso NelsonSilva Dantas Bastos
Revendo a matéria, fiquei muito emocionado com as lembranças de papai Nelson. Obrigado celso por nos proporcionar tantas emoções.
quinta-feira, 23/4/2015 por dilermando lemos
Homenagem
Parabéns ao Sr.Nelson Bastos e toda a sua família. Um grande homem , um grande mecânico, fiz serviços com ele quando o mesmo trabalhava com França no posto.Se não me engano era uma Concessionária da Volgswagem.Que Deus lhe dê muita saúde.
terça-feira, 21/4/2015 por José Ribeiro Bastos
100 anos de Nelson Silva Dantas Bastos
Parabéns Celso Mathias, pela bela matéria em homenagem ao meu pai, Nelson Bastos. A família Bastos fica imensamente agradecida.
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