A elegância da uva Merlot

sábado, 10 de janeiro de 2015

Bem, junte seus amigos, umas garrafas de bons Merlot, e toque a decifrá-las. Há grandes vinhos Merlot, alguns dos melhores vinhos do mundo no Pomerol e em St. Émilion, para ficar em Bordeaux, e por todo o planeta vinícola. Na Itália, em especial no Vêneto, em muitos outros países da Europa e em todo o Novo Mundo também se explora a elegância dessa varietal de origem bordalesa. A Merlot é uma uva controversa que gerou, e ainda gera muita discussão. Isso porque não existe consenso sobre o cultivo, tempo de maturação e ponto ideal de colheita. Existem duas orientações distintas. Como se isso não bastasse, também não existe acordo quanto aos aromas e sabores típicos da Merlot. Toda essa questão gerou uma crise de identidade. Afinal de contas, o que deveremos (e não o que gostaríamos) esperar de um vinho com a casta Merlot?

A elegância da uva Merlot


Mais precoce (amadurece mais cedo) que a irmã Cabernet Sauvignon, em relação à qual é também mais sujeita a pragas agrícolas (talvez por isso menos propagada), a Merlot se notabilizou por proporcionar vinhos mais macios, razoavelmente bem estruturados, mas sem perder a elegância. Como já dito, em Pomerol e St. Émilion há vinhos de exceção, com preços e fama estratosféricos. Mas os resultados têm sido excepcionais também em outras paragens.

Raramente essa uva dá a estrutura de uma Tannat ou de uma Malbec, por exemplo. A fama de vinhos mais "macios" e também mais fáceis que os das vizinhas uvas Cabernet Sauvignon se justifica. Em geral, seu mosto contém mesmo menos ácidos. Isso resulta em vinhos mais "amenos", capazes de acomodar-se a paladares mais femininos e aos palatos mais adaptados às indefectíveis bebidas doces.

Sua família de aromas, muito semelhante à da Cabernet Sauvignon, se destaca pela presença clara de aromas de cereja nos vinhos mais jovens, que evolui para ameixa escura no vinho mais maduro, podendo adquirir grande complexidade, com os aromas empireumáticos (de coisas queimadas, caramelos, compotas) que a idade traz.

Seus aromas típicos são descritos pela autora norte-americana Karen Mac Neil como de "frutinhas negras de bosque - tipo amorinhas e cerejinhas: no original, blackberry - cassis, cerejas assadas, ameixas, chocolate, café e, eventualmente, couro". Cerejas assadas? Deve ser compota, geleia de cereja.

Bem, se você nunca viu uma blackberry na vida, não se intimide: junte os amigos, as taças, e toca a descobri-las. No vinho, claro. Não no bosque, pois nos trópicos não dá.





P/S-se você assistiu ao filme Sideways, lembre-se das falas do personagem principal e o ache ridículo. E saiba; no Pomerol, está o Pétrus, um dos melhores e mais caros vinhos do mundo, um dos preferidos pelo Lula, principalmente quando era dado pelo Duda!


Autor: Celso Mathias
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