A última vez que o vi, foi a cerca de um ano na fila de um banco. Simples, porém elegantemente vestido, aguardava sua vez de ser atendido enquanto distribuía sorrisos e simpatia. Saudável, barba raspada e bigode aparado, Lula ostentava seus sessenta e cinco anos com sinais de quem soubera amadurecer.
Há pouco mais de um mês, alguém me perguntou se eu tinha conhecimento dos problemas de saúde que ele estava enfrentando. Imaginei que seria alguma coisa que por mais grave que fosse, poderia ser vencida pela força e a vitalidade que lhes eram características.
Não são muitas as informações que tenho sobre o Lula. Das que tenho, uma é muito importante e provavelmente a origem do seu perfil psicológico; perdeu a mãe ao nascer! Talvez esse fato tenha feito dele aquele cidadão que parecia estar sempre medindo as ações, tendo cuidado com as relações, com as pessoas.
Administrador de Caldas do Jorro foi, em Euclides da Cunha, vereador por duas ou três legislaturas, vice-prefeito e chegou a ser candidato a prefeito sem lograr êxito à empreitada.
Em um lugar onde a maledicência é cultural, nunca vi ou ouvi qualquer comentário que o desmerecesse. Mesmo assim, paradoxalmente, perdeu as eleições. Teriam sido as paixões políticas que cá nessas plagas costumam cegar as pessoas?
Além de engenheiro e político, graduou-se em direito e parece ter encontrado nessa profissão, o caminho definitivo e último...
Mas a imagem que guardo de Lula, não é aquela do banco nem a das últimas fotos que vi. Guardo ainda as primeiras, as do administrador de Caldas do Jorro, as de vereador e as de ativista político e até as do menino que conheci morando na Rua da Igreja.
Nas redes sociais, nas manifestações da rua, percebi a unanimidade e a amplitude das suas relações. Homens, mulheres, crianças, jovens, adultos pareciam todos consternados e acompanhavam o seu calvário com boletins diários sobre seu estado de saúde. Ouvi noticias através dos mais diversos segmentos da sociedade; pobres, ricos, correligionários e até de adversários políticos.
Embora fosse previsível o desfecho de Lula nos últimos meses, parece que a sua morte colheu a todos de surpresa. Isso me fez lembrar a morte do humorista Bussunda quando Pedro Bial produziu um texto do qual tomo emprestado algumas palavras que creio aplicáveis à perda do Lula.
“A morte por si só, é uma piada pronta.
A morte é ridículo.
Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário.
Tem planos para semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório...
Colocar gasolina no carro e no meio da tarde...
MORRE.
Como assim?
E os e-mails que você ainda não abriu?
O livro que ficou pela metade?
O telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?
Não sei de onde tiraram esta ideia:
MORRER...
A morte é ridículo....
...Ok, hora de descansar em paz.
Mas antes de viver tudo?
Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas.
Morrer é um exagero.
E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.
Só que esta não tem graça.
Por isso viva tudo que há para viver.
Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da vida...
Perdoe...
Sempre!!!”
Lula entre Zé Nunes e Zué;amigos para sempre.