Para reflexão:
Matéria originalmente editada em 19 de setembro de 2011.
Depois o poder se deslocou para a Rua de Cima, hoje Rua Joaquim Santana Lima, onde viveu e morreu o próprio em uma elegante casa hoje ocupada pelos seus filhos mais jovens. Na mesma rua morava Luís Caldeirão que foi influente fazendeiro e Delegado de Polícia. Na primeira casa da afamada rua, já na divisa com a Praça Duque de Caxias, no resistente casarão hoje centenário onde vive a Professora Railda, morava seu destemido pai Joaquim Matias de Almeida. Fazendeiro, comerciante e por quase duas dezenas de anos; Delegado de Polícia.
E a sede do poder continuou sua migração dividindo-se entre os anos 40 e 60 com a Avenida Rui Barbosa e a Avenida Otávio Mangabeira (Rua dos Ricos), representadas respectivamente pelo astucioso José Camerino de Abreu, prefeito por duas legislaturas e Antonio Batista de Carvalho, o habilidoso Vaqueiro do Canché, três vezes prefeito.
A partir daí, o pode dispersou-se. Os donos do poder passaram a dividir novas áreas nobres em vários pontos da cidade. Só os compadres Athayde José da Silva e José Nunes Soares compartilharam a mesma região.
Pois, a foto feita em 1961, contabiliza exatos 50 anos. 50 anos onde muitas coisas mudaram profundamente. Outras; absolutamente nada. A ganância pelo poder, por exemplo, continua intacta. Já os códigos de ética e de honra são outros!
Mentiroso, ladrão, trapaceiro, desonesto e outros adjetivos aqui impróprios, só eram dirigidos a quem cabia tal qualificação. Hoje, na desenfreada busca pelo poder, há quem ocupe palanques e microfones de emissoras de rádio para disparar impropérios aos seus adversários sem qualquer indício de prova. Criaram-se tribunais de exceção comandados por “arautos” da honradez que sequer conhecem o significado de tal palavra.
Vereadores até meados dos anos 80 não recebiam qualquer remuneração, ajuda de custo, cota de telefone ou gasolina. Uma lei que isentava o parlamentar de pagar a conta residencial de energia elétrica chegou a ser furiosamente rejeitada por alguns vereadores, entre eles, Jaime Amorim da Silva, orgulho de amigos e familiares.
Com raras e “desonrosas” exceções, os ricos da época não aplicavam golpes em financeiras, não compravam cargas roubadas, não grilavam terras, não enriqueciam cultivando e/ou transportando maconha para o sul do país, adulterando combustíveis ou fazendo agiotagem pesada. Um ou outro emprestava um dinheirinho a taxas menores que as dos bancos. Isso há 50 anos...
Há 50 anos não havia marketing político, não havia planejamento, não havia projetos. Havia promessas e essas promessas via de regra eram cumpridas. O administrador se pautava obviamente no clientelismo, na intuição e no carisma pessoal para fazer política, para fazer o sucessor. Tanto, que nesses 50 anos, a oposição só arrebatou o poder das mãos da classe dominante, uma única vez. Foi em 2004 e deu no que deu. Comentários são desnecessários.
E agora? Agora é inquestionável a intervenção que a atual Administradora do município tem feito em todas as áreas do governo. Existem projetos, existem realizações; evidentemente, também existem falhas! Até porque, o nosso sistema político amarra a atuação do Executivo ao “humor” do Legislativo. Contentá-lo, em todos os níveis de governo é uma tarefa árdua; heróica. Aos seu caprichos, têm caído presidentes, governadores, prefeitos e ministros. O mesmo Legislativo que quando quer, anistia uma ladra flagrada com a boca na botija, literalmente.
Mas vamos continuar sobrevoando a cidade a partir do ponto onde foi feita a foto com aqueles dois meninos de 12 anos. O Elias é filho da Maria Senhora e do Elias, então prospero negociante de sisal. A Maria Senhora, batalhadora, cozinheira e doceira maravilhosa, foi dona do melhor bar que a cidade já teve. “Bar Rejane”, nome que homenageava a filha caçula. Hoje está instalada ali, a Monte Santo Esportes. Nas outras três esquinas da avenida onde fizemos a foto, a Ruy Barbosa, estavam a loja de tecidos do Zeca Dantas, hoje Real Calçados, a casa da família Macedo, hoje uma Farmácia e a Venda de Neluzinho, hoje Aliança Calçados.
“Um homem só atravessa o mesmo rio uma vez. Na próxima travessia, nem o homem nem o rio serão mais os mesmos”. Por tanto, não somos mais os mesmos, nem nós, nem a avenida, nem os costumes até a arvore onde nos apoiamos não é mais a mesma. A original foi derrubada por um caminhão desgovernado.
O meu alento, é que aqueles meninos inocentes que ocupavam aqueles corpos leves e juvenis, continuam vivos em alguma parte das nossas não mais tão leves consciências. O sofrimento, cada um na sua esfera, nos temperou como o fogo tempera o aço. Perdemos, pais, irmãos, esperanças, mulheres, dinheiro...Uma coisa com certeza não perdemos, pelo contrário, fortalecemos; a dignidade.
Quanto à cidade, ao tempo em que fica mais bonita e mais rica, mais acirra o desejo de outros grupos alcançarem o poder. Nós, simples cidadãos, precisamos tomar cuidado, muito cuidado para não nos deixar levar pelo canto da sereia. A alternância no poder, além de necessária é símbolo de democracia e de renovação, desde que traga no seu bojo projetos para melhorar a vida do cidadão. Não se pode, sem projetos, mudar o que aí está. Se estiver bom, deve se pensar em mudar para melhor!
Em 19 de setembro de 2011, o município de Euclides da Cunha Comemora o 78º Aniversário de Emancipação Política. Parabéns liberdade!!!