AFROS WINE; A HISTÓRIA

segunda-feira, 28 de março de 2011

Temos hoje o privilégio de trabalhar num eco-sistema variado e de vegetação luxuriante, onde além de vinhas existem florestas de acácias, carvalhos, pinheiros, eucaliptos e árvores centenárias e monumentais, cujas cercanias são ainda habitadas por animais selvagens como javalis, raposas e águias. Onde cuidamos dos solos e das vinhas recorrendo a métodos naturais, como extractos de plantas e preparações homeopáticas. Onde a presença de cavalos de montanha, ovelhas e abelhas são parte da filosofia

AFROS WINE; A HISTÓRIA

“Quem faz um vinho de Dioniso serve ao Deus, celebra o Deus, mas para isto o vinho tem que nos educar, tem que nos ensinar o que ele, o vinho, quer ser. O vinho de Dioniso nós não criamos aqui só com desejos nossos, ou só com planos nossos. Com nossos planos e os nossos desejos para o vinho de Dioniso nós vamos tateando no escuro, tentando descobrir o que o silêncio alegre do Deus tenta imbuír em nossas almas. Por isso não é possível criar um vinho de Dioniso sem que toda a nossa vida seja iluminada e transformada por ele.”

Gustavo Pinto

Quando há muitos anos o monge budista de naturalidade brasileira, de nome Shogyo, se encontrou em circunstancias misteriosas, com um amigo arquitecto português, à mesa dum restaurante onde tinha ido só para tomar um dos vinhos de que mais gostava, ambos estavam longe de imaginar que a conversa que então tiveram seria o primeiro passo para o nascimento de um vinho. Dito de outra maneira, ignoravam que ali estavam porque essa era a forma que um vinho que ainda haveria de acontecer, tinha escolhido para dar início a  esse nascimento.

Devo notar que tanto eu como Shogyo nos conhecemos enquanto abstémios, e nossa já longa amizade passava em larga medida por um interesse comum na espiritualidade Oriental e Ocidental, do Budismo da Terra Pura à Antroposofia de Rudolf Steiner.

Desse encontro “tardio” que ambos tivemos com o espírito do vinho, apenas posso dizer que o que teve de libertador e transformador nas nossas vidas foi algo de tão extraordinário que não existem palavras para o descrever.

Anos depois, o Casal do Paço, quinta que está na minha família desde o século XVII, e onde desde a infância sempre passei as férias de Verão, encontrava-se em risco. Decidi então, embora com a vida familiar e professional sediada a 450 km de distância e sem qualquer experiência na área de vitivinicultura, lançar mãos à reestruturação da vinícola e iniciar um projecto de vinhos de marca própria, com o apoio total das proprietárias – a minha querida mãe, Clara Vaz Guedes, e minha querida tia, Amália Vaz Guedes.


As castas escolhidas foram aquelas que ao longo de gerações escolheram o Vale do Lima como lugar de eleição – o Loureiro e o Vinhão. A Biodinâmica foi o caminho obvio a seguir, fruto das duas décadas da minha ligação às ideias de Goethe e de Steiner.

Outros foram então sendo escolhidos pelo vinho para que além de nascer, o vinho pudesse também crescer. Alberto Araújo, Daniel Noel, André Silva, Pedro Bravo e Rui Cunha foram integrando a equipa e o espírito da vinícola.

Temos hoje o privilégio de trabalhar num eco-sistema variado e de vegetação luxuriante, onde além de vinhas existem florestas de acácias, carvalhos, pinheiros, eucaliptos e árvores centenárias e monumentais, cujas cercanias são ainda habitadas por animais selvagens como javalis, raposas e águias. Onde cuidamos dos solos e das vinhas recorrendo a métodos naturais, como extractos de plantas e preparações homeopáticas. Onde a presença de cavalos de montanha, ovelhas e abelhas fazem parte da filosofia vitícola. E onde a imaginação, criatividade e trabalho se harmonizam com os reinos da Natureza para criar um Terroir de onde nascem vinhos únicos em concentração, mineralidade e carácter.

Sonho impensável quando comecámos hà sete anos atrás, mas que pode hoje ser degustado, desfrutado e partilhado nos 11 Países de 4 continentes onde o Afrós já está presente, incluindo o Brasil.

Que seja pois uma homenagem a todos os amigos, e em particular aos laços únicos e fraternos que unem Brasil e Portugal. Que traga alegria portuguesa em  reconhecimento à alegria libertadora que sempre nos chega do País irmão. Pois o Brasil, nas nossas almas, faz aquilo que o vinho sempre procura também fazer: Transforma a  pesadez em leveza, e a melancolia em alegria de viver.

 


Autor: Vasco Croft
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