“Apresentei projeto para que se fizesse um jardim na Praça duque de Caxias colocando no seu centro, o busto do deputado Oliveira Britto...
Apresentei projeto para que se construísse um pequeno jardim no lugar denominado Largo das Sete portas...
Apresentei projeto de Lei para que se construísse uma praça no lugar batizado por Rua do Campo com o nome de Dr. Elson Tôrres de Aquino...
Apresentei projeto arborizando a Rua Cel. Almerindo Rehem, incluindo no mesmo o calçamento do restante da Avenida Ruy Barbosa...
Apresentei projeto no sentido de que a renda arrecadada em cada Povoado e em suas juridisções, fossem aplicadas nos mesmos, sem que nada viesse para a sede, afim de que se pudesse também realizar algum benefício aos que moram fora da sede...
Apresentei projeto aumentando a gratificação mensal das Professoras Municipais, de CR$ 3.000,00 para CR$ 6.000,00, regularizando horário de trabalho e pagando 12 salários anuais ao contrário dos oito meses atuais...”
O texto em negrito é parte de um manifesto do então vereador Jayme Amorim da Silva e data de 15 de setembro de 1966.
Procedente de Tucano, meu pai, Jayme Amorim da Silva chegou a Euclides da Cunha por volta de 1947. Concluíra o curso primário com seu pai, o prof. José da Rocha Amorim, alfabetizador de algumas gerações no interior do município. Aqui, passou a residir num casebre no beco de D. Edite, travessa da Ruy Barbosa atrás da hoje “Monte Santo Esportes”, onde também atuava como prestador de serviços alugando meia dúzia de bicicletas . Nessa atividade, conheceu minha mãe, a jovem Mariá Matias, na época com vinte e um anos de idade.
Filha de um dos lideres locais, meu avô Joaquim Matias de Almeida, era além de próspero fazendeiro, comerciante e político. Ocupou por várias vezes assento na Câmara de Vereadores foi por muitos anos, Delegado de Polícia e considerado por todos um homem de caráter e valentia incontestáveis. Minha mãe como meus tios e alguns dos meus irmãos, nasceram na confortável casa da então Rua de Cima, imóvel hoje pertencente aos meus tios Railda e Delço Matias.
A paixão foi fulminante. Apesar da resistência inicial da família, prevaleceu o amor. Jayme e Mariá casaram, tiveram sete filhos, dos quais um, meu irmão Humberto já é falecido. Mariá faleceu em 1971 aos 45 anos de idade.
Estas duas terríveis perdas abalaram, mas não derrotaram o já bem sucedido homem de negócios e político, Jayme Amorim da Silva, então com 51 anos de idade.
Ao tempo em que conciliava a vida política ocupando uma cadeira na Câmara de Vereadores, onde primou pela independência e a coragem reelegendo-se por seis mandatos consecutivos, ampliava o seu patrimônio inovando o comércio de eletrodomesticos e da construção civil no município. Foi o primeiro a vender geladeiras ainda alimentadas a GLP, fogões com o mesmo combustível, portas de aço, cofres, calçadas em ladrilho.
Considerado um homem carismático e empreendedor, Jayme recebeu e ofereceu muito ao desenvolvimento de Euclides da Cunha. Ainda hoje, pessoas simples que me reconhecem pela semelhança física com ele, declaram respeito carinho e confiança pelo dono de “O Crediário”, elogiando seus produtos e seus critérios de comercialização. “Olha meu filho, está geladeira comprei a seu pai faz mais de trinta anos. Até hoje sequer troquei o gás”. De outros tenho ouvido “Aquilo é que era homem. Deu-me credito só em olhar para minha cara”.
Dos seus pares na Câmara de Vereadores, me encanto em ouvir ressaltadas as suas qualidades de homem público, sua oratória e principalmente sua inteligência. Teófilo Dantas, um dos seus contemporâneos, vizinho e adversário político, não poupa elogios à sua conduta e à forma como separava sua atividade parlamentar da vida pessoal. “Fomos vizinhos a vida inteira. Mariá e minha mulher, Mandinha, eram como irmãs. A nossa contenda política nuca mexeu na nossa amizade pessoal, foi o homem mais inteligente que já conheci,” emociona-se Dantas.
Empreendedor arrojado reformou e construiu mais de meia centena de imóveis em todos os recantos de Euclides da Cunha e de municípios circunvizinhos.
Foi correspondente do Jornal “A Tarde”, Presidente do Clube Social e Recreativo de Euclides da Cunha, e benemérito do Clube de Tucano onde na juventude teve seu ingresso vetado.
Euclides da Cunha o premiou ainda em vida com um título de Cidadão Honorário, depois com o nome de rua no Bairro Caixa d’Água e finalmente, um mês antes de tomar posse, durante uma conferência do historiador José Dionísio Nóbrega no Instituto Histórico e geográfico da Bahia,a atual prefeita Fátima Nunes confidenciou-me que daria à Biblioteca Pública Municipal que estava em seu plano de governo, o nome de Jayme Amorim da Silva.
Perto dos sessenta anos de idade, o viúvo contraiu núpcias com a prof. Joselha Alcântara com quem teve dois filhos: O administrador de empresas Jayme Amorim Filho, e a médica Gisele Amorim. De outra relação, o administrador de empresas, Saulo Amorim.
Estivemos afastados por muito tempo. A distância física e a diferença de pontos de vista de dois homens de temperamento forte nos fizeram endurecer um com o outro, até que o tempo fez com que nos descobríssemos muito parecidos... E ai, foi tão pouco o tempo que tivemos para nos amar, nos respeitar e admirar. Mas ainda tivemos tempo! E como foi bonito descobrirmos juntos os mundos. Em quantas esquinas do planeta parei para telefonar lhe e descrever o que via à minha frente!Quantas vezes rimos e nos emocionamos estando a milhares de quilômetros de distância um do outro. Os mesmos quilômetros que ironicamente nos separaram no último Adeus à sua matéria.
Meu pai morreu em 01 de março de 2000 aos 78 anos de idade numa quinta feira véspera de Carnaval no momento em que eu cruzava o oceano em direção a outro país. Ao lado de Joselha, fechou os olhos e nos deixou como um passarinho. Voou ao encontro e sua primeira companheira que lhe deu os sete primeiros filhos e grande parte da base que o fez o homem que todos reverenciamos.
Descansa em paz, meu herói, meu amigo. O que você me ensinou, continua vivo ativo e forte como você.
Euclides da Cunha, 01 de março de 2011