Nos últimos cem anos, quem foi criança em Euclides da Cunha, viveu as emoções do Natal na “Lapinha” de D. Anita, mulher de “Potámo Batista”, pais de Perpétua, Dinorah, Olita, Zé Batista, Margarida e Potaminho. A casa centenária que abriga a Lapinha fica na Rua da Igreja e está cercada de histórias e folclore. Entre eles, o de que lá, teria se hospedado o escritor que dá nome ao município.Se Euclides da Cunha Nunca esteve lá, muitas gerações de euclidenses já o fizeram.
D. Anita era filha do Capitão Dantas, um dos personagens mais importantes da história do município nos século XX. Intendente por duas vezes e influente líder político, foi responsável por inúmeras mudanças no perfil urbano da cidade. Lembro-me dele já velhinho muito branco e frágil. Creio que quando ele morreu, tinha eu cerca de cinco anos de idade, mas nuca esqueci aquela imagem marcante, entre outras razões porque para mim, ele representava a lembrança do Natal com todas as fantasias que a data povoa a mente das crianças. Só recentemente tomei conhecimento da importância daquele ancião que nós conhecíamos pela alcunha de Bobô.
A casa centenária continua lá, bem assim o seu presépio que nós conhecíamos como “Lapinha”. Joaquim da Silva Dantas, O Ioiô, filho do capitão Dantas foi, como o pai, prefeito municipal. Administrou entre os anos 1967 e 1970 quando fez a maior intervenção urbana já registrada na sede do município. Abriu, ruas, praças, avenidas, entre outras a Praça Duque de Caxias que para ser acessada devidamente, foram demolidas as casas de Bertulino Peixinho na esquina contigua à de Joaquim Matias onde hoje mora a professora Railda, as casas pertencentes a Guilherme Matias e ao sargento Guinho na entrada para a Rua do Curral e, finalmente, parte da própria casa do capitão Dantas onde (Ioiô nascera) que perdeu boa parte dela para ampliar o acesso entre a Praça Duque de Caxias e a Rua da Igreja. O prefeito sacrificou a história em benefício da comunidade. Verdadeira “Escolha de Sofia”!
Mas a lapinha está lá e ainda fazer bater mais rápido os coraçõezinhos das crianças que aquela família recebe com tanto carinho. Acelera também o coração dos adultos que como eu se sentem crianças e viajam no tempo e sentem pequeninos em frente à grade que cerca o portal que emoldura a “Lapinha”.
Olita e Margarida explicam: “Em 1930, o capitão Dantas vendeu a casa para o genro Luís Caldeirão e foi viver na casa da Rua de cima onde hoje mora o neto Nelson Dantas Bastos. Nesse período a “Lapinha” foi desmontada. O capitão, entretanto, pouco tempo depois se arrependeu do negócio feito com genro e resolveu retornar ao imóvel da Rua da Igreja, onde a Lapinha foi remontada e de lá para cá está sempre aberta ao público do início de dezembro até a Festa de Reis no dia 06 de janeiro. Faz algum tempo que o nosso irmão Zé batista restaurou a igreja. Daí para cá não foi feito muita coisa. Apenas trocamos o papel do teto e ajeitamos algumas peças”. Declaram as duas orgulhosas pela felicidade e a emoção que oferecem aos visitantes de todas as idades.
Ioiô Dantas na sua época foi eleito o melhor prefeito do Brasil.Ele morreu hoje aos 91 anos de idade.