Esta conversa vem a propósito de alguns vinhos que
foram lançados recentemente, nomeadamente dois vinhos do Porto muito antigos e
que, muito justamente, estão sendo comercializados a preços elevados, valores a
que não estamos habituados a falar quando o assunto é vinho português. Trata-se
de um Porto da Colheita de 1910, da empresa J. Andresen, uma pequena empresa
portuguesa - apesar do nome nórdico - que poucos consumidores portugueses
conhecerão. Não é seguramente das mais faladas, nunca andou nas bocas dos wine
writers por não ser tradicionalmente produtora de Vintage e esse low profile mantém-se
desde que, nos anos 40, Albino Pereira do Santos adquiriu a empresa à família
Andresen.
O vinho ainda está em casco e engarrafar-se-á à medida da procura do mercado. O custo de manutenção de um vinho destes em casco é enorme, a evaporação é constante e o acompanhamento é permanente. Estão agora disponíveis garrafas de 0,75 l ao preço de €2500 cada. O vinho? Esse vale todos os euros que por ele se pedem, magnífico na riqueza e complexidade aromáticas.
No Douro existem grandes stocks de vinhos velhos.
Várias famílias são depositárias de pipas de vinhos muito antigos, de qualidade
variável e valor também muito diverso. Há uma noção de 'qualidade' no Douro que
muitas vezes não coincide com a do mercado consumidor e alguns produtores
atribuem aos seus próprios vinhos, por razões afetivas que se aplaudem, valores
que estão muito desfasados da realidade. Isso eu mesmo comprovei quando um
produtor me presenteou com uma garrafa, "uma verdadeira relíquia",
disse-me, mas que, afinal, tinha tantos defeitos que não permitia sequer uma
prova agradável.
Felizmente, existem por lá grandes vinhos e foi isso
que a Taylor's descobriu e resolveu engarrafar. Trata-se de um vinho de 1855,
anterior por isso à filoxera, proveniente de duas barricas e que foi agora
engarrafado em decanter de cristal e apresentado em caixa de madeira de teca. Scion é seu nome. É um tawny de excepcional
qualidade que resistiu ao tempo de uma forma sublime. Com a caixa em que se
apresenta forma um conjunto magnífico, que só um grande gosto pelo vinho pode
levar a desmanchar. Uma coisa é certa: agora que está engarrafado, o vinho
sobreviverá seguramente mais cem anos. Sugestão? Porque não comprar duas, beber
uma e guardar a outra? O preço que deverá rondar também os €2500.
Para completar este trio de luxo juntamos ao lote um Barca Velha de 2000, aquele que
continua a ser o tinto português mais venerado, caro e raro, proveniente do
Douro. O vinho merece decantação prévia e exige não ser bebido distraidamente.
Não é muito fácil de adquirir, mas em Lisboa, por exemplo, você pode
encontra-lo na Garrafeira de Campo de Ourique (Rua Tomás da Anunciação, 29) O
precinho? €295 a garrafa. É caro, mas, em época deprimente, é tinto para
ressuscitar um morto...