Guardar em porta joias

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quando os tempos correm adversos há sempre a tentação de nos aproximarmos um pouco mais do abismo (financeiro...) e acabar por consumir, sem pensar muito, alguns produtos considerados de luxo. Frases como "é melhor não esperar mais" ou "sabe-se lá o que aí vem" levam-nos a não adiar consumos que até agora nos exigiam alguma contenção. Em tempo de dificuldades, prove vinhos gloriosos para ganhar ânimo.

Guardar em porta joias

Esta conversa vem a propósito de alguns vinhos que foram lançados recentemente, nomeadamente dois vinhos do Porto muito antigos e que, muito justamente, estão sendo comercializados a preços elevados, valores a que não estamos habituados a falar quando o assunto é vinho português. Trata-se de um Porto da Colheita de 1910, da empresa J. Andresen, uma pequena empresa portuguesa - apesar do nome nórdico - que poucos consumidores portugueses conhecerão. Não é seguramente das mais faladas, nunca andou nas bocas dos wine writers por não ser tradicionalmente produtora de Vintage e esse low profile mantém-se desde que, nos anos 40, Albino Pereira do Santos adquiriu a empresa à família Andresen.

O vinho ainda está em casco e engarrafar-se-á à medida da procura do mercado. O custo de manutenção de um vinho destes em casco é enorme, a evaporação é constante e o acompanhamento é permanente. Estão agora disponíveis garrafas de 0,75 l ao preço de €2500 cada. O vinho? Esse vale todos os euros que por ele se pedem, magnífico na riqueza e complexidade aromáticas.

No Douro existem grandes stocks de vinhos velhos. Várias famílias são depositárias de pipas de vinhos muito antigos, de qualidade variável e valor também muito diverso. Há uma noção de 'qualidade' no Douro que muitas vezes não coincide com a do mercado consumidor e alguns produtores atribuem aos seus próprios vinhos, por razões afetivas que se aplaudem, valores que estão muito desfasados da realidade. Isso eu mesmo comprovei quando um produtor me presenteou com uma garrafa, "uma verdadeira relíquia", disse-me, mas que, afinal, tinha tantos defeitos que não permitia sequer uma prova agradável.


Felizmente, existem por lá grandes vinhos e foi isso que a Taylor's descobriu e resolveu engarrafar. Trata-se de um vinho de 1855, anterior por isso à filoxera, proveniente de duas barricas e que foi agora engarrafado em decanter de cristal e apresentado em caixa de madeira de teca. Scion é seu nome. É um tawny de excepcional qualidade que resistiu ao tempo de uma forma sublime. Com a caixa em que se apresenta forma um conjunto magnífico, que só um grande gosto pelo vinho pode levar a desmanchar. Uma coisa é certa: agora que está engarrafado, o vinho sobreviverá seguramente mais cem anos. Sugestão? Porque não comprar duas, beber uma e guardar a outra? O preço que deverá rondar também os €2500.


Para completar este trio de luxo juntamos ao lote um Barca Velha de 2000, aquele que continua a ser o tinto português mais venerado, caro e raro, proveniente do Douro. O vinho merece decantação prévia e exige não ser bebido distraidamente. Não é muito fácil de adquirir, mas em Lisboa, por exemplo, você pode encontra-lo na Garrafeira de Campo de Ourique (Rua Tomás da Anunciação, 29) O precinho? €295 a garrafa. É caro, mas, em época deprimente, é tinto para ressuscitar um morto...


Autor: J P. Martins
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