Por tradição, é na primavera a seguir à colheita que os
Wine writers de todo o mundo aterram em Bordeaux para as provas das amostras de
barrica. As notas são depois publicadas na imprensa especializada, e o vulgar consumidor, que não tem acesso a estas provas, decide a sua compra em função
destas classificações. O sistema pode ser interessante para quem compra, porque
assegura o preço, mesmo que, desde este momento até ao momento da entrega, o
vinho possa ter aumentos de preços (por pressão da procura). Pode ser confuso
estar decidindo uma compra de um vinho quando ainda lhe falta um ano de estágio
em barrica, mas os “narizes de ouro” conseguem captar a essência da colheita
mesmo com pouco tempo de vida: se o vinho é mais ou menos concentrado, se a
fruta está equilibrada, se é muito ou pouco taninoso e, no fundo, se se trata
de uma boa, muito boa ou excelente colheita. Às vezes enganam-se, mas, por
norma, a qualidade final é aquela que agora foi detectada. O barulho todo
começou quando alguns críticos com muita responsabilidade em publicações de
grande aceitação começaram a dizer que 2009 seria a melhor colheita desde há
décadas, possivelmente só comparável com a de 1945. Isto quer dizer que a
procura vai ser enorme e que os preços vão ser complicados. Eles já tinham
atingido um patamar muito elevado em 2005, tendo depois baixado, em alguns
casos significativamente, nas colheitas seguintes.
O que acontece em Bordeaux
pode, em definitivo, afastar os grandes vinhos dos consumidores.
Agora entramos no delírio. Dos nomes antigos e famosos,
a marca atualmente mais cara é o chateau Lafite Rothschild (www.lafite.com),
por via do apreço que os orientais (chineses e macaenses, entre outros) têm
pelo vinho. Pois é, ao meu email chegou então o preço en primeur para esta
marca: €890, garrafa. Outros tão antigos e famosos como Lafite são mais
baratos: Latour, Mouton, Margaux e Haut-Brion (este em 2008 custava €165),
a um preço “de saldo” de €790 a garrafa.
Ora bem, é bom de ver que, a estes
preços, os vinhos passam a ser comprados e encarados como uma mercadoria de
investimento, perdendo-se a essência para que foram feitos: dar prazer ao serem
bebidos. É uma pena, porque estes são, de fato, os melhores vinhos do mundo,
com provas dadas desde há séculos. Resta-nos, simples mortais, procurar outras
marcas que sejam mais baratas e dêem também prazer a beber. Felizmente que, só
em Bordeaux, há 8000 chateaus produtores de vinho...