Dor de cabeça, dor muscular, dificuldade respiratória, irritabilidade são alguns dos sintomas de quem tem medo e sofre com a ideia de entrar num avião. O livro pretende desmistificar os receios de voar e, para isso, Santos Cruz compilou vasta informação sobre as aeronaves, bem como sobre os fenômenos atmosféricos. Para alguém com aerofobia, a turbulência ou o simples ruído de descolagem assumem contornos de catástrofe iminente. “O livro pode ser um pequeno empurrão para que as pessoas percam o medo, até porque não havia nada semelhante em português”, considera o autor, que critica o excessivo destaque dado pela mídia aos desastres de avião.
Carlos Botto Henriques passou 25 anos voando a serviço da TAP. O chefe de cabina, agora com 66 anos, recorda muitas situações em que os passageiros aparentavam medo. E até algumas em que ele próprio, apesar da sua formação e experiência, sentia mas silenciava o temor. “Nós, tripulantes, também podemos ter medo, é humano, mas nunca o demonstramos.” Certa vez, num Jumbo, com cerca de 400 pessoas a bordo, valeu-lhe o sangue-frio: “Atravessamos uma zona de turbulência mais forte e alguns passageiros começaram a gritar. Havia um padre no grupo que foi dar assistência a uma senhora aflita e puxou de um livro de orações. Tive de intervir, era uma cena inadequada. Parecia que estava dando os últimos sacramentos, que o avião ia cair, semeando o pânico entre os outros.”
A aerofobia surge com frequência mesmo entre quem já andou de avião. Como explica Cristina Albuquerque, psicóloga clínica da UCS - Cuidados Integrados de Saúde e coordenadora do “Ganhar Asas”: “A maioria das pessoas que se inscrevem no programa já voou. Só que, a fobia foi-se instalando e foram evitando a viagem aérea, ao ponto de deixarem de entrar num avião.” E há muitas razões para isso: “Desde o medo inato das alturas, ao de estar numa situação que não se pode controlar.”
São “sintomas de ansiedade insuportáveis” que levam as pessoas a procurar ajuda. E já foram 493 desde Maio de 2006. “Este continua a ser o transporte mais seguro do mundo”, sublinha Santos Cruz. Mesmo assim, Guilherme Valente, o editor do livro, é dos que “estragam” a estatística quase perfeita do “Ganhar Asas”: ainda vai para a Feira de Frankfurt de automóvel.
TERAPIA ALTERNATÍVA
Para superar o receio de voar, há quem recorra à Medicina Chinesa. “Como outro tipo de fobias, esse medo trata-se corrigindo os desequilíbrios energéticos”, explica Riccardo Salvatore, especialista em Medicina Chinesa. Ou seja, as terapias não são especificamente dirigidas para o medo de voar, mas para tratar a fobia, o medo, a ansiedade. Salvatore tem recebido muitos pacientes que durante a consulta, em Lisboa, deixam vir ao de cima a aerofobia. “E aí o ‘chi kung’ e a acupuntura podem mesmo ajudar.”