Ali o autor (Edgard De Decca) conferia luz e dava
voz aos vencidos da história. Aqui, Dunga mergulha-nos no breu da caverna de
Platão. Parafraseando Caetano eu
diria que onde queres ordem, somos Garrinchas.
Millôr Fernandes diz que coerente é o cara que não
consegue ter outra ideia. Tive uma professora que dizia não haver qualquer
problema na mudança de idéias; eis que apenas aos loucos era dado tê-las (as idéias)
fixas.
Dunga, porém, não é louco. Ao menos não no seu sentido transgressor
de que nos falava Foucault. Dunga, se louco, é insano ou é a expressão da
loucura má, já enquadrada e internalizada, é a loucura-funcional, viabiliza o
perfeito funcionamento do sistema, está a serviço da mesmice. Dunga prima pela
ausência de molejo. É a cintura dura, é o brucutu.
Nosostros somos todos Garrinchas. Somos o riso posto na cara, somos o futebol-poesia,
estamos a dois passos do futebol-deboche e a um do paraíso. Se a alguns míopes
é dado pensar que perdemos em 82, é porque suas retinas deixaram de captar o
essencial, a beleza.
No mais, coerência não tem o condão de atrair a si todo um panteão de coisas boas. Ela sequer é intrinsecamente inteligente. Dunga é o exemploda coerência burra. É fato, podemos ser
coerentemente tapados,
podemos coerentemente dizer não à novidade, podemos coerentemente ser
conservadores. E Dunga o é, com todas as letras e desacertos.