Nem o mundo nem o tempo param. A humanidade se
mobiliza, a solidariedade aflora.Enquanto gente de bem exerce o voluntariado
para salvar vidas e/ou sai a cata de
donativos para minorar o sofrimento dos
menos favorecidos. Outros se aproveitam do momento de forma cruel tentando transformar
tragédias em dividendos políticos.
Seja de qual partido for o governante, será
sempre ele o responsável pelo mau planejamento dos seus antecessores e até
pelos desígnios da natureza. Enquanto uns choram, passam fome, estão
desabrigados, outros são sepultados, em certas situações até em valas comuns,
há sempre um palanque pronto para os espertos de plantão chorar “lágrimas de
crocodilo” e garantir “No meu governo isso não ocorreria”.
Acusado de ter destinado 50% das verbas do seu
Ministério para a Bahia, seu estado natal no qual concorre as eleições para governador,
o ex-ministro Gedel Viera Lima é endeusado pelos beneficiários e
seriamente questionado pelos que sofrem as conseqüências das chuvas no “resto”
do país. Isso é certo? É moral? É ético? Uma resposta é certa; é política. Ou seria
politicalha?
Para arrematar o momento que vivemos nada
melhor do que encerrar com o tão atual pensamento do velho Ruy Barbosa que
há mais de cem anos já dizia:
POLÍTICA E POLITICALHA
"A política afina o espírito humano, educa os
povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a
coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da
incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não
traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem
com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor
de expressão que os seus consoantes.
Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice?
Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo
queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se
parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se
repulsam mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada."
E finalmente:
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto
ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."
Ruy Barbosa