Acontece que os chineses têm uma predileção especial
pela cor vermelha, que, como se sabe, é a cor do Dia dos Namorados, era a cor
do livrinho do Mao e é também a
cor... do vinho tinto. A entrada no novo ano é o momento para oferecer
presentes, vermelhos de preferência (cor auspiciosa para o futuro) e, nesse
ambiente cromático, o tinto ganha muitos pontos.
Escrevi a poucas semanas que a China já é uma das grandes
produtoras mundiais de vinho, bem à frente, por exemplo, de Portugal. Mas, como
se imagina e então referi, falta-lhe ainda ser uma referência, o que só se
consegue com anos e anos de boas produções, reconhecimento mundial das
particularidades desta ou daquela região, boa prestação dos vinhos em certames
internacionais, enfim, um amontoado de dificuldades que não torna a vida nada
fácil aos novos-ricos chineses. Para esses, a aproximação aos grandes produtos
de luxo apenas depende do poder de compra e as novas elites estão, parece,
disponíveis para gastar o que for necessário. No caso dos vinhos, os chineses
estão na “fase Bordeaux” e de entre a imensidão da escolha, estão no “delírio
Lafite”. Esta antiga propriedade bordalesa — Château Lafite Rothschild — ainda hoje é considerada um ícone e os
seus vinhos estão sempre entre os mais caros. Como exemplo, encontrei numa
garrafeira francesa o tinto de 2005 a... €1200 a garrafa. Pois é este vinho em
particular que para os chineses funciona como símbolo máximo do luxo. Mesmo em
Macau, para quem se quer distanciar do povão, é conveniente ter Ch. Lafite em
casa. Até no aeroporto de Hong Kong, na loja do Free Shop, é possível encontrar
uma coleção enorme de múltiplas colheitas deste caro tinto.
As leiloeiras aproveitaram o início do ano do tigre
para levar à praça vinhos tintos, Lafite, claro, outros Bordeaux e Borgonha. Só
para citar um exemplo, uma garrafa de 6 litros de Lafite de 1982 voou por
47.000 dólares e uma caixa de seis magnuns de Chateau Pétrus 1982, saiu rapidamente por 85.400 dólares. A ‘mania’
de Bordeaux está espalhada pelo Oriente, de Singapura à Tailândia, de Taiwan à Coréia
do Sul. Vai ser preciso esperar que a doença passe para que os grandes vinhos
portugueses consigam preços de luxo. Para já, estão muito bem representados em
Macau (incluindo em muitos cassinos) e a China começa a comprar, mas há muito
caminho a percorrer. A nova marca Wines of Portugal
deverá ser promovida no
Oriente.
J.P.Martins é jornalista e enófilo