O tigre e o vinho tinto

sábado, 6 de março de 2010

O dia 14 não foi só importante para os namorados. Para o tinto também. E, espera-se, a nível mundial. No tal dia em que os namorados de todo o mundo (menos no Brasil que é 12 de junho)juraram que “serei teu para sempre” e disseram frases tão originais como “és a luz da minha existência”, os chineses celebraram a entrada no ano do tigre. Coisa séria, para eles, claro, uma vez que para muitos ocidentais, se em vez de tigre fosse leopardo ou lince da Malcata, não se notaria a diferença.

O tigre e o vinho tinto




Acontece que os chineses têm uma predileção especial pela cor vermelha, que, como se sabe, é a cor do Dia dos Namorados, era a cor do livrinho do Mao e é também a cor... do vinho tinto. A entrada no novo ano é o momento para oferecer presentes, vermelhos de preferência (cor auspiciosa para o futuro) e, nesse ambiente cromático, o tinto ganha muitos pontos.

Escrevi a poucas semanas que a China já é uma das grandes produtoras mundiais de vinho, bem à frente, por exemplo, de Portugal. Mas, como se imagina e então referi, falta-lhe ainda ser uma referência, o que só se consegue com anos e anos de boas produções, reconhecimento mundial das particularidades desta ou daquela região, boa prestação dos vinhos em certames internacionais, enfim, um amontoado de dificuldades que não torna a vida nada fácil aos novos-ricos chineses. Para esses, a aproximação aos grandes produtos de luxo apenas depende do poder de compra e as novas elites estão, parece, disponíveis para gastar o que for necessário. No caso dos vinhos, os chineses estão na “fase Bordeaux” e de entre a imensidão da escolha, estão no “delírio Lafite”. Esta antiga propriedade bordalesa — Château Lafite Rothschild — ainda hoje é considerada um ícone e os seus vinhos estão sempre entre os mais caros. Como exemplo, encontrei numa garrafeira francesa o tinto de 2005 a... €1200 a garrafa. Pois é este vinho em particular que para os chineses funciona como símbolo máximo do luxo. Mesmo em Macau, para quem se quer distanciar do povão, é conveniente ter Ch. Lafite em casa. Até no aeroporto de Hong Kong, na loja do Free Shop, é possível encontrar uma coleção enorme de múltiplas colheitas deste caro tinto.

As leiloeiras aproveitaram o início do ano do tigre para levar à praça vinhos tintos, Lafite, claro, outros Bordeaux e Borgonha. Só para citar um exemplo, uma garrafa de 6 litros de Lafite de 1982 voou por 47.000 dólares e uma caixa de seis magnuns de Chateau Pétrus 1982, saiu rapidamente por 85.400 dólares. A ‘mania’ de Bordeaux está espalhada pelo Oriente, de Singapura à Tailândia, de Taiwan à Coréia do Sul. Vai ser preciso esperar que a doença passe para que os grandes vinhos portugueses consigam preços de luxo. Para já, estão muito bem representados em Macau (incluindo em muitos cassinos) e a China começa a comprar, mas há muito caminho a percorrer. A nova marca Wines of Portugal deverá ser promovida no Oriente.


J.P.Martins é jornalista e enófilo



Autor: J.P.Martins
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