Imagine, por momentos, vestir a pele do Super-homem e
ser capaz de carregar 100 quilos como quem segura uma pluma. Parece ficção
científica, mas a realidade está à distância de pouco mais de 600 euros, pelo
menos para quem viva no Japão. Esse é o preço a pagar pelo aluguer mensal de um
das roupas biônicas apresentadas recentemente pela empresa Cyberdyne, que
prometem facilitar a vida a pessoas idosas e a todas aquelas que apresentem
dificuldades motoras.
Criado pelo cientista nipônico Yoshiyuki Sankai e batizando HAL (Hybrid Assisted Limb ou Membro Assistido Híbrido, em bom português), o fato robótico é uma espécie de esqueleto externo capaz de aumentar de forma considerável a força e a mobilidade de quem o «ves
tir». Quem
o utiliza pode, por exemplo, levantar 30 quilos de arroz só com um braço, como
ficou demonstrado durante a apresentação do projeto.
O «milagre» é possível graças a um sistema
«biocibernético» que incorpora elementos tecnológicos e mecânicos da biônica, eletrônica
e robótica. O fato possui um conjunto de sensores bioelétricos que, em contacto
com a pele, analisam o funcionamento do organismo e calculam a força que uma
pessoa pode exercer e a que o HAL terá que lhe emprestar para cumprir uma
determinada tarefa antes julgada impossível.
Quando o utilizador tenta, por exemplo, apanhar um
objeto pesado, os seus músculos emitem uma corrente elétrica muito fraca que se
dissipa através da pele, sendo captada pelos sensores. Estes transmitem a
corrente para um microcomputador localizado junto à cintura, que, por sua vez,
converte os sinais em impulsos elétricos que acionam os motores localizados nas
«articulações» da prótese.
O dispositivo, que se assemelha a algumas das
personagens próprias das revista em quadrinhos japonesas, pesa entre 15 a 24 quilos,
conforme seja usado apenas nos membros inferiores ou em todo o corpo, mas não é
necessário usar grande força para movê-lo. Sankai espera, por isso, que possa
ser usado em programas de reabilitação de pessoas com dificuldades físicas e
apoio à crescente população idosa do país, bem como em missões de resgate, no
apoio aos trabalhos pesados nas fábricas e até na indústria do entretenimento.
O invento é o resultado de mais de uma década de
trabalho. O cientista da Universidade de Tsukuba criou o primeiro protótipo do
robô em 1996, que se converteu no primeiro modelo do HAL, apresentado em 2005.
De lá para cá, o dispositivo teve pelo menos cinco versões diferentes,
tornando-se cada vez menos pesado e mais eficaz. O grande desafio assentou no
desenvolvimento do sistema «biocibernético» capaz de captar os sinais
transmitidos pelo cérebro aos músculos e, com base nisso, ativar os
micromotores do fato-robótico numa fração de segundo.
A partir de Outubro, a Cyberdyne pretende produzir
cerca de 500 unidades do HAL por ano, que serão alugados a instituições médicas
e a clientes particulares por pouco mais de 600 euros por mês. Se a procura for
muita, a invenção poderá ser fabricada a uma escala industrial e chegar ao
mercado a um preço entre os 9 e os 12 mil euros. O objetivo, confessou o pesquisador, é desenvolver tecnologias que possam ser utilizadas para o
benefício da Humanidade. Por isso rejeitou propostas dos governos americano e
sul-coreano para a concepção de um robô para fins militares.