Continuam vivos na minha memória os odores do chocolate e do sabonete que meu tio usava durante o longo banho para tirar o pó de 1300km de estrada de chão, enquanto nós ansiosos, esperávamos a abertura do seu “baú” com os tesouros.
Zequinha, José Mathias de Almeida Neto, filho do meu avô Joaquim Mathias de Almeida, nasceu na casa onde nasceram todos os meus tios, eu e parte dos meus irmãos. Construída há mais de 100 anos, ainda pertence a membros da família. É a primeira da Rua de Cima, quase em frente ao bar Planeta. José Mathias construiu uma carreira brilhante , faleceu aos 65 anos no exercício do cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo e hoje dá nome ao Fórum da cidade de Vitória. “Fórum Desembargador José Mathias de Almeida Neto”.
Assim como o Zequinha, os poucos filhos da terra que viviam fora davam um jeito de vir a Euclides da Cunha abraçar os pais, os irmãos, os amigos... Assistir a Missa do Galo, passear pela Av. Ruy Barbosa no trecho entre o Hotel Lua e o bar da Maria Senhora entre barraquinhas armadas para vender bebidas e comidinhas. Os mais ousados ainda se atreviam a dar piscadelas de olhos para as meninas mais afoitas. Era o máximo!
Na calçada do bar da Maria Senhora, ponto mais chique da cidade, sobre as mesas com toalhas limpíssimas, eram colocadas travessas expondo frangos assados que eram arrematados pelos ricos e servidos acompanhado de Uísque Cavalo Branco,literalmente traduzido do Withe Horse Whisky. Costumava capitanear uma dessas mesas, a família do saudoso Bernardino Menezes, industrial nascido em Sergipe e baseado em Feira de Santana, percussor da indústria de calcário e o primeiro gerador de emprego em Euclides da Cunha. Foi também fundado por ele em instalações revolucionárias para época, o Posto Texaco e, posteriormente, a Maria Iza e Cia, primeira concessionária de automóveis da região, uma revenda Volkswagen. Bernardino foi candidato a prefeito e perdeu as eleições para José Bezerra Neto, o Zuza Bezerra.
Outra atração indispensável eram as “Lapinhas” ou Presépios, montados nas salas das mais simples às mais tradicionais famílias da cidade, contando a saga do nascimento de Cristo. Um dos mais concorridos era o da casa de “Bobô”, o famoso Capitão Dantas, ali na Rua da Igreja na casa onde hoje reside Zé Batista, o “Zé de Potámo”.
Na tradicional Ceia Natalina da casa dos meus pais, minha mãe Mariá comandava o evento. Peru assado, frangos, farofa com uvas passas trazidas especialmente de Salvador, e pasmem, sempre era servido um cágado. Entre os comensais habituais, lembro-me de Potámo Batista, meu avô Joaquim Matias, João da cruz, a madrinha Piliça, Loudes do Afonso, Gina do Joel, D.Patu,Tio Zequinha...
Era uma festa da família patrocinada pelo amor, pela amizade, pela alegria. Pela confraternização! Entre as famílias, no máximo havia a interferência da Igreja com sua programação religiosa sempre afinada com os “festeiros”.
Os tempos são outros. A concepção de Natal, idem. Além de um instrumento de mercado para abocanhar o décimo terceiro,o glamour foi substituído por uma bem programada iluminação,um roteiro de festas com bandas de gosto duvidoso cujo ruído chega a abafar “o espírito de Natal”.
Como diria John Lenon:
Então é Natal e o que você fez?
Mais um ano acabou e um novo apenas começou.
E assim é Natal, eu espero que você se divirta,
O próximo e querido, os velhos e os jovens.
Um Feliz Natal e um feliz ano novo,
Vamos ter esperança, sem qualquer receio.
E por isso esta é para o Natal e para o fraco e o forte,
(guerra acabou se você quiser,)
Para os ricos e os pobres, a estrada é tão longa.
(guerra acabou agora.)
E feliz Natal para negros e brancos,
(guerra acabou se você quiser,)
Para os amarelos e vermelhos, vamos parar todos as
brigas.
(guerra acabou agora.)
Um Feliz Natal e um feliz ano novo,
Vamos ter esperança, sem qualquer receio.
E assim o Natal e este é o que temos feito?
(guerra acabou se você quiser,)
Mais um ano mais, um novo apenas começou.
(guerra acabou se você quiser,)
E assim este é Natal, nós esperamos que você se divirta
(guerra acabou se você quiser,)
O próximo e querido, os velhos e os jovens.
(guerra acabou agora.)
Um Feliz Natal e um feliz ano novo,
Vamos ter esperança, sem qualquer receio.
A guerra acabou
Se você quiser,
A guerra acabou agora.
Feliz Natal!
Feliz Natal!
Feliz Natal!
Feliz Natal!
Feliz Natal!