gentileza gera gentileza

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Olhando os “Papai e Mamãe Noel” que a prefeita Fátima Nunes plantou nas copas das arvores da cidade, avaliei o pensamento de uma senhora moradora da Rua dos Ricos: “Eu gostei! Pior é não ter nada como vinha acontecendo”. É... Olha onde chegamos.Mas é melhor não entrar nesse mérito, até porque,gosto não se discute e o objetivo aqui é falar em gentileza e Gentileza.

gentileza gera gentileza


Lembro como se fosse hoje. Era véspera do Natal de 1961. O país entrou em comoção com o incêndio do Gran Circus Norte-Americano armado em uma praça  de Niterói. Foram cerca de quinhentos mortos e centenas de feridos. Entre eles, se não me engano, havia uma ou duas pessoas de Euclides da Cunha e amigas da minha mãe Mariá que ficou desolada. Eram pessoas originárias da região ali para os lados do Tanque da Nação. Naquela época, um lugar bem “distante” do centro da pequena Euclides da Cunha.

Coincidências da vida,o tempo passou e um dia deparei em algum lugar do Rio de Janeiro com o Profeta Gentileza, ou José Agradecido como alguns o chamavam. Singular a historia desse cidadão no qual Glória Peres se inspirou para criar o personagem de Paulo José na novela Caminho das Índias. O nome de “Profeta Gentileza” foi ganho porque vivia pregando o amor, a paz e jamais dizia a palavra “obrigado”, pois dizia que obrigado vinha de obrigação. Preferia dizer “agradecido” e falava sempre “por gentileza”.

José Datrino (nome de batismo de Gentileza) era um empresário de transportes quando o circo pegou fogo em Niterói. Gentileza naquele dia disse ter ouvido “vozes” mandando largar o capitalismo e todo apego material. O futuro profeta então pega um dos seus caminhões e parte rumo a Niterói e transforma as cinzas das marcas do incêndio no chão em um jardim. Depois segue por várias cidades espalhando sua filosofia e embelezando com suas  frases lugares sombrios como viadutos, galpões e muros abandonados.

Pena que ele não tenha passado em Euclides da Cunha...

Paro no cruzamento da Av. Rui Barbosa com a Rua Oliveira Brito. Na esquina onde foi a Casa da Música, uma senhora idosa e com ares de maltratada pela vida dá um passo atrás e volta à calçada dando a preferência ao meu veiculo. Gesticulo para que ela atravesse e sinto-a titubeante. Insisto para que ela atravesse. Ela o faz com ar desconfiado. Deixa a impressão de não está acreditando no gesto de gentileza. Parece imaginar que a qualquer momento vou acelerar e atropelá-la... Até que se sente segura na outra extremidade da rua e agradece com um largo sorriso. Incrédula!

Na mesma situação em outro ponto da cidade, vivo a mesma ocorrência. Só que dessa feita, a pedestre é uma jovem bonita e de curvas avantajadas. Ela não titubeia diante da minha oferta para atravessar a rua com prioridade. Entretanto, ao sentir-se segura na outra calçada, olha-me com desdém e faz muxoxo. Não acreditou tratar-se  de pura gentileza.

 “Bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, “obrigado”, “por favor”, “desculpe” e “com licença”. Palavras que trazem tão boa energia e tão raras de serem ouvidas aqui...

Essa semana vi um homem de meia idade ser, gratuitamente agredido com palavrões por um rapaz de cerca de vinte anos. O homem reagiu à altura, porém sem agressividade. Por alguns instante lembrei-me da tragédia ocorrida com o artista plástico gaucho, Iberê Camargo, que já septuagenário passou por situação semelhante mas, infelizmente, reagiu diferente...

Não é raro no caótico trânsito da cidade, se ver a agressividade de alguém que pára o veiculo em plena avenida para conversar tranquilamente com outra pessoa enquanto o motorista que está atrás tem que esperar a boa vontade de ambos para seguir caminho. Ao conseguir passar, é bom não olhar para aquele que estava interrompendo o transito. Ele pode não gostar, e aí...

Outra prática constante é, enquanto você manobra com dificuldade para encaixar o seu carro em uma vaga ou espera a saída de alguém que a ocupava, aprece um esperto que em situação privilegiada em relação a vaga, encaixa o seu veículo em detrimento de quem estava na espera.

Fazer necessidades fisiológicas em vias públicas, especificamente nos becos, atirar qualquer tipo de lixo nas ruas e calçadas, ignorar a Lei do silêncio entre outras regras de convivência civilizada, é uma constante que poderia ser minorada coma interveniência do poder público. Campanhas educativas podem reduzir drasticamente essas ocorrências.

E tem mais, se o Executivo não tem verba e/ou principalmente interesse nessas questões, é bom lembrar que o Poder Legislativo, os Vereadores podem utilizar verbas do superavitário orçamento da Câmara para patrocinar tais campanhas. Trariam muito mais vantagens à comunidade do que aquela caminhonete Mitsubishi parada em frente à Câmara para atender favores de alguns dos seus membros.

Isso tudo não é um desprivilegio de Euclides da Cunha. Ocorre em muitos outros lugares. Mas, se podemos  nos  mirar na Dinamarca,por que fazê-lo no Congo?

 


Autor: Celso Mathias
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Existe 4 comentários para esta publicação
segunda-feira, 14/12/2009 por Maria Aparecida P. Mendes.
Decoração Natalina de Euclides.
Parabéns ao Jornalista Celso Mathias, pela reportagem. Os Euclidenses agradecem!
domingo, 13/12/2009 por SEBASTIÃO
ALIENAR
EDUCAÇAÕ É UM DOS MAIORES PROBLEMAS DO PAÍS. E NÃO É SO A EDUCAÇÃO ESCOLAR. É MUITO IMPORTANTE A COMPORTAMENTAL, A CÍVICA. PENA REALMENT QUE OS NOSSOS DIRIGENTES NÃOESTEJAM INTERESSADOS EM EDUCAR. EDUCAR ESCLARECE DESALIENA. O QUE ELES QUEREM É UM PO
domingo, 13/12/2009 por hc-maia
Gonzaguinha e A Sua Releitura de Gentileza.
Conheci,no Rio, na década de 1970,ainda estudante de Medicina,o poeta Gentileza.Escrevia construções poéticas lindas,nas paredes de viadutos.O grande compositor Gonzaguinha presta-lhe uma grande homenagem numa das suas belas canções.Parabéns Celso!!!
domingo, 13/12/2009 por C.Miranda
Decoradora
Sabia o nobre jornalista que a prefeita é "decoradora?" É so esse o comentário que vai fazer sobre a decoração natalina de euclides da Cunha?Francamente, fico decepcionada
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