O novo Porsche Panamera está para os automobilistas
como Wagner para os melómanos.
É que o primeiro Porsche
familiar de quatro portas (um antigo sonho do fundador Ferry Porsche e um
sacrilégio para os puristas da marca) é provavelmente um dos melhores
automóveis do mundo e conduzi-lo é muito mais do que ligar Lisboa a Madrid em
tempo de fazer corar o TGV (velocidade máxima 283 km/h, a do Porsche).
Mas o que torna tão especial este executivo de
dimensões ‘arquitetônicas’ a competir com um colosso barroco? A resposta é o
segredo da alquimia Porsche, um construtor especializado em traduzir prazer de
condução e sensações únicas para o volante de um automóvel. Assim, quem temia
que o feeling muito próprio da Porsche fosse impossível transpor para um carro
com cinco metros de comprimento e duas toneladas de peso está redondamente
enganado.
Não é claro, um carro de corridas ou um monstro de
eficácia como o iconográfico 911, mas consegue oferecer ao condutor uma direção
direta e precisa, um comportamento em curva capaz de rivalizar com os melhores esportivos
e um equilíbrio e segurança difíceis de igualar.
É por isso que este Panamera também está longe de poder
ser o local ideal para ler o “Financial Times” no banco de trás, como noutros
grandes executivos como o BMW Série 7 ou os Mercedes da sua classe, onde o
conforto extremo é idêntico ao da poltrona acolchoada da presidência do
Conselho de Administração.
No Panamera, o CEO vai querer tirar a gravata e saltar
para o banco da frente, serpenteando por estradas de montanha com a graça e a
agilidade dos Gran Turismo.
Desta vez (condição rara num Porsche) esta não vai ser
uma experiência egoísta, mas partilhada pela família, que pode gozar o requinte
e envolvência de um habitáculo tão acolhedor como um chalé de montanha, com um
excelente nível de equipamento, entretenimento multimídia e espaço no porta
malas para levar os snowboards e os esquis.
E este é apenas o mais humilde dos Panamera, com tração
traseira, motor de 400 cv e uma deliciosa caixa automática PDK, mais
instantânea na resposta do que a mousse Alsa. Quem quiser subir a parada pode
sempre optar pelas versões turbo (500 cv) e de tração integral. Em todo o caso,
mais do que um automóvel de luxo, uma experiência wagneriana.Um carro na medida certa para um apreciador do quilate do Rui.