Entro na página e posso escolher: sou homem/mulher e
procuro homem/mulher entre x e y anos. Opto por — sou homem e procuro mulher,
entre 25 e 45 anos.
2º passo. O meu perfil. Nome, data de nascimento, país
e região onde vivo, além de email e password.
3º passo. Completar o meu perfil. Estado civil,
religião, nível de prática da religião, quero ter filhos?, profissão, nível de
escolaridade, rendimentos, blá, blá...
Mas há mais. Posso fazer a minha descrição física e
revelar a cor dos meus olhos e do cabelo (se ele é curto, comprido, raspado ou
se sou calvo), a minha origem étnica, qual o meu estilo (sofisticado, clássico,
na moda, executivo, descontraído, desportivo, étnico, boêmio ou rock) ou
revelar a minha personalidade (carinhoso, sensível, generoso, bem humorado,
nervoso, desinteressado, possessivo, sociável, solitário, espontâneo ou
supersticioso, entre outros) e até, o mais atraente em mim (a boca, o cabelo, o
traseiro, o tórax, os olhos, o pescoço, etc.). Não resisto e, neste último,
clico na resposta ‘não consta da lista’. Afinal de contas, quem quiser saber o
que há de mais atraente em mim terá de conhecer-me pessoalmente, não? De notar,
porém, que para todos os itens há a hipótese de escolha ‘guardo-o para mim’,
uma forma mais simpática de dizer ‘não quero revelar’... embora tenha a
impressão de que, se abuso desta opção, não vou ter candidatas interessadas.
Sigo para ‘o meu estilo de vida’. A lista é imensa: os
meus gostos musicais, os meus filmes preferidos, os meus animais de estimação,
as minhas atividades (passatempos, saídas, atividades esportivas), os meus
hábitos (se fumo e o que como). Ufa!
Mas ainda falta um dado, este sim muito importante:
descrever ‘a mulher ideal’. As opções que tenho pela frente são semelhantes às
que escolhi sobre mim. Isto é, posso “dizer” se prefiro loiras, altas de olhos
verdes e aspecto sofisticado, com belos seios e bumbum arrebitado. Feita a
escolha, entro na página que me dá acesso logo na partida a mais de 35 mil
usuários de 101 países que estão online. Três minutos depois já tenho quatro conversando
comigo. e então, onde está a avalanche que levou à falência empresas, fábricas
e até bancos, com consequente aumento do desemprego? Este mercado do dating
online, dos sites de encontros certamente passa ao largo da crise.
A verdade é que não só resiste como aparentemente até
floresceu. “A crise nos afetou de forma positiva. O ano passado foi o melhor
ano em termos de receitas para o site português Meetic, registrando um aumento
superior a 80% ano”, garante José Ruano,
diretor geral do portal Meetic.com, na Península Ibérica.
Os brasileiros são os campeões no uso de sites de
relacionamentos (segundo uma pesquisa da Nielsen) e, a nível europeu, não há
quem bata os portugueses.
A Meetic é o maior portal de dating online na Europa —
adquiriram recentemente a Match.com Europa —, presente em 15 países, tendo mais
de 54 milhões de usuários. Em Portugal, este portal tem “mais de um milhão de
usuários”, concentrados sobretudo em Lisboa, seguida por outras cidades como
Porto, Coimbra, Braga, Aveiro, Setúbal e Faro.
O perfil dos usuários registra uma idade média de 28
anos, em que 52% são mulheres e 48% homens e, “em geral, o nível cultural é
alto (formação universitária)”. Em 2008 a Meetic registrou “vendas no valor de
133,6 milhões de euros”, garante José Ruano.
Mas o que leva as pessoas a procurar relacionamentos
via Internet? Primeiro, não esqueçamos que o amor não tem preço; depois, as
pessoas não deixam de amar em tempos de crise e recessão, “sobretudo porque não
gostam de estar sozinhas em períodos de crise econômica. Outra das razões, e
apenas secundária, é que, sozinhos, torna-se muito mais complicado fazer face
às dificuldades econômicas, pois não temos ninguém para partilhar as despesas”,
justifica aquele responsável, que alerta ainda: “Sabemos que a falta de
companhia deve-se à sociedade na qual vivemos, à atividade frenética, ao
stresse e à competição constantes, à excessiva dependência do relógio, aos
horários excessivos de trabalho.
A verdade é que “não existe nenhum estudo profundo
sobre os sites de encontros”, segundo Gustavo Cardoso, professor do
departamento de Tecnologias da Informação. “Não sabemos se as informações
divulgadas por estes portais correspondem à verdade”.
Há alguns anos, Maria Rocha, 47 anos, resolveu entrar
numa sala de chat. Acabara de regressar da Suíça, onde esteve como emigrante por 10 anos.
“Precisava fazer amigos, arranjar um grupo para sair e, quem sabe, encontrar um
homem interessante”. Passado um ano, Maria tinha um pequeno grupo de amigos...
mas também um desgosto de amor. Tudo arranjado via Internet. “A determinada
altura percebi que não queria nada certo”. A desilusão abrandou o ritmo de
‘passeios’ pelos chats, mas o seu espírito sonhador e aventureiro acabou por
levá-la ao encontro de um engenheiro com quem já vive há cinco anos e que, há
um, aceitou partir com ela para Inglaterra, na tentativa de conseguirem
melhores empregos.
Será sempre
assim tão fácil encontrar o amor via internet? Mais uma vez o responsável pela
Meetic na Península Ibérica afirma que “80% dos usuários conseguem ter um
encontro”, e que através daquele portal já se formaram “mais de 500 mil
casais”. A julgar pela minha curta experiência... não é difícil arranjar
pretendentes.