O amor está na rede?

domingo, 3 de outubro de 2010

Os sites de encontros não se ressentiram com a crise. O número de usuários até aumentou. No Par perfeito por exemplo,recebo dezenas de visitas ao meu perfil. Fora as inúmeras sugestões que o próprio site me sugere. Três dias após cadastrar-me, além das muitas visitas, já recebi inúmeros galanteios e emails de usuárias de vários países. Isto tudo sem colocar foto!

O amor está na rede?

Clico num dos perfis para iniciar uma conversa, mas sou encaminhado para uma página onde percebo que, para continuar, tenho de fazer uma assinatura de um mês, três ou seis meses, com preços que variam entre os 19,00 e os 34,00 Reais/mês. Pergunta. Será que, com a crise econômica que assola o planeta há quem se disponha a tal investimento?

Entro na página e posso escolher: sou homem/mulher e procuro homem/mulher entre x e y anos. Opto por — sou homem e procuro mulher, entre 25 e 45 anos.

2º passo. O meu perfil. Nome, data de nascimento, país e região onde vivo, além de email e password.

3º passo. Completar o meu perfil. Estado civil, religião, nível de prática da religião, quero ter filhos?, profissão, nível de escolaridade, rendimentos, blá, blá...

Mas há mais. Posso fazer a minha descrição física e revelar a cor dos meus olhos e do cabelo (se ele é curto, comprido, raspado ou se sou calvo), a minha origem étnica, qual o meu estilo (sofisticado, clássico, na moda, executivo, descontraído, desportivo, étnico, boêmio ou rock) ou revelar a minha personalidade (carinhoso, sensível, generoso, bem humorado, nervoso, desinteressado, possessivo, sociável, solitário, espontâneo ou supersticioso, entre outros) e até, o mais atraente em mim (a boca, o cabelo, o traseiro, o tórax, os olhos, o pescoço, etc.). Não resisto e, neste último, clico na resposta ‘não consta da lista’. Afinal de contas, quem quiser saber o que há de mais atraente em mim terá de conhecer-me pessoalmente, não? De notar, porém, que para todos os itens há a hipótese de escolha ‘guardo-o para mim’, uma forma mais simpática de dizer ‘não quero revelar’... embora tenha a impressão de que, se abuso desta opção, não vou ter candidatas interessadas.

Sigo para ‘o meu estilo de vida’. A lista é imensa: os meus gostos musicais, os meus filmes preferidos, os meus animais de estimação, as minhas atividades (passatempos, saídas, atividades esportivas), os meus hábitos (se fumo e o que como). Ufa!

Mas ainda falta um dado, este sim muito importante: descrever ‘a mulher ideal’. As opções que tenho pela frente são semelhantes às que escolhi sobre mim. Isto é, posso “dizer” se prefiro loiras, altas de olhos verdes e aspecto sofisticado, com belos seios e bumbum arrebitado. Feita a escolha, entro na página que me dá acesso logo na partida a mais de 35 mil usuários de 101 países que estão online. Três minutos depois já tenho quatro conversando comigo. e então, onde está a avalanche que levou à falência empresas, fábricas e até bancos, com consequente aumento do desemprego? Este mercado do dating online, dos sites de encontros certamente passa ao largo da crise.

A verdade é que não só resiste como aparentemente até floresceu. “A crise nos afetou de forma positiva. O ano passado foi o melhor ano em termos de receitas para o site português Meetic, registrando um aumento superior a 80% ano”, garante José Ruano, diretor geral do portal Meetic.com, na Península Ibérica.

Os brasileiros são os campeões no uso de sites de relacionamentos (segundo uma pesquisa da Nielsen) e, a nível europeu, não há quem bata os portugueses.

A Meetic é o maior portal de dating online na Europa — adquiriram recentemente a Match.com Europa —, presente em 15 países, tendo mais de 54 milhões de usuários. Em Portugal, este portal tem “mais de um milhão de usuários”, concentrados sobretudo em Lisboa, seguida por outras cidades como Porto, Coimbra, Braga, Aveiro, Setúbal e Faro.

O perfil dos usuários registra uma idade média de 28 anos, em que 52% são mulheres e 48% homens e, “em geral, o nível cultural é alto (formação universitária)”. Em 2008 a Meetic registrou “vendas no valor de 133,6 milhões de euros”, garante José Ruano.

Mas o que leva as pessoas a procurar relacionamentos via Internet? Primeiro, não esqueçamos que o amor não tem preço; depois, as pessoas não deixam de amar em tempos de crise e recessão, “sobretudo porque não gostam de estar sozinhas em períodos de crise econômica. Outra das razões, e apenas secundária, é que, sozinhos, torna-se muito mais complicado fazer face às dificuldades econômicas, pois não temos ninguém para partilhar as despesas”, justifica aquele responsável, que alerta ainda: “Sabemos que a falta de companhia deve-se à sociedade na qual vivemos, à atividade frenética, ao stresse e à competição constantes, à excessiva dependência do relógio, aos horários excessivos de trabalho.

A verdade é que “não existe nenhum estudo profundo sobre os sites de encontros”, segundo Gustavo Cardoso, professor do departamento de Tecnologias da Informação. “Não sabemos se as informações divulgadas por estes portais correspondem à verdade”.

Há alguns anos, Maria Rocha, 47 anos, resolveu entrar numa sala de chat. Acabara de regressar da Suíça, onde esteve como emigrante por 10 anos. “Precisava fazer amigos, arranjar um grupo para sair e, quem sabe, encontrar um homem interessante”. Passado um ano, Maria tinha um pequeno grupo de amigos... mas também um desgosto de amor. Tudo arranjado via Internet. “A determinada altura percebi que não queria nada certo”. A desilusão abrandou o ritmo de ‘passeios’ pelos chats, mas o seu espírito sonhador e aventureiro acabou por levá-la ao encontro de um engenheiro com quem já vive há cinco anos e que, há um, aceitou partir com ela para Inglaterra, na tentativa de conseguirem melhores empregos.

Será sempre assim tão fácil encontrar o amor via internet? Mais uma vez o responsável pela Meetic na Península Ibérica afirma que “80% dos usuários conseguem ter um encontro”, e que através daquele portal já se formaram “mais de 500 mil casais”. A julgar pela minha curta experiência... não é difícil arranjar pretendentes.


Autor: James Dollinger
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