Mas isso era no tempo do "Robin", Idade
Média, obscuridade cultural, pobreza, miséria e guerras a torto e a direito. O
consumo do vinho, segundo um conceito cultural de apreciação, tinha existido
muitos anos antes, em civilizações, entretanto desaparecidas que dominavam a
fabricação do vidro. Esse é o material que, pelas suas características inertes e translúcidas, possibilita a
verdadeira apreciação de um líquido nas suas vertentes de cor e gosto. Quanto
mais fino for o vidro da taça, maior o contato com o vinho que nela é servido.
O cristal é, devido as suas características de dureza, brilho e finura, o material
que melhor serve o serviço de vinhos. Um metal (chumbo, titânio, arsênio...),
carbonato de potássio e areia de quartzo são os componentes que o constituem.
Com ele se fazem as taças.
A história do cristal - Pegue em 60 partes de areia,
mais 180 partes de cinza e cinco partes de óxido de cálcio. Aqueça a mistura e
obterá vidro.
O vidro tem cerca de oito mil anos de história mas tudo
o que existia não ia além de pequenas contas. Os primeiros vasos aparecem por
volta de 1500 a.C. Foram asiáticos que estabeleceram essa indústria no Egito
mas foi na costa Fenícia que a técnica do vidro soprado se desenvolveu no
século I a.C. Os romanos difundiram-na e aperfeiçoaram-na. Grande parte das
técnicas hoje usadas vem do período romano. Depois foi a decadência geral, com
a queda desse império. Na idade média foi a vez dos vidreiros do Norte da
Europa sob a influência dos Francos desenvolverem novos métodos de fabricação e
a grande glória ocidental da fabricação de vidro deste tempo fica-se a dever
aos vitrais religiosos patentes em muitas igrejas medievais.
Foram os vidreiros venezianos da ilha de Murano que primeiro inventaram um vidro
com grande transparência e brilho a que chamaram cristallo feito à base de soda
pesada. Corria o século Xv. Mais tarde, no início do século XVII, foram dos
germânicos que encontraram um vidro feito à base de potássio e óxido de cálcio
mais grosso e duro que o cristal. Mais seria em 1676 que o vidro de óxido de
chumbo apareceria pela primeira vez através de uma fórmula criada por George
Ravenscroft. Era mais suave, mais brilhante e mais durável que o cristallo
italiano. A evolução do cristal continuaria até os nossos dias fazendo recurso
hoje a outros materiais mais finos e mais resistentes.
A razão da taça - Se é certo que ainda podemos ver no
dia-a-dia, o vinho ser servido em copos ditos normais, também não é menos certo
que cada vez mais se usam taças não só no seu serviço como também no serviço
rigoroso de enófilos e apreciadores. O uso de uma taça tem todas as vantagens
na apreciação de qualquer vinho. Uma base circular de sustentação ligada a um
pé mais ou menos longo e mais ou menos delgado que se une na sua extremidade
superior a um recipiente em forma de tulipa (exceção feita a alguns flutes de
paredes oblíquas e retas). O pé oferece uma “"pega”" correta, libertando o recipiente que contém o
vinho do contato dos dedos e, consequentemente, das manchas oleosas que podem
sujar as paredes da dita tulipa, além de permitir imprimir um movimento de
rotação à taça que leva o vinho a rodopiar dentro da tulipa e a libertar mais
depressa e intensamente os aromas que contém. A tulipa tem dois fins: o
primeiro é "abraçar" o vinho no seu movimento circular sem o deixar
sair borda fora e o segundo, e mais importante, procede do diâmetro, mais largo
no seu corpo central que no bordo superior, que permite uma concentração dos
aromas próxima da sua saída para o exterior onde se encontra o órgão olfativo
do provador. Daqui uma conclusão simples: a taça oferece sempre mais aroma que
um copo normal. Vantagens e mais valia para um vinho de boa qualidade,
desvantagens acrescidas para um vinho com defeito.
Materiais - A indústria de taças de cristal tem
evoluído paralelamente ao crescente consumo de vinho de qualidade. Dezenas de
desenhos e formas surgem regularmente no mercado de taças. As marcas
diversificam a sua oferta ou pelo estilo de vinho ou pela região a que se
destinam servir. Hoje temos copos para Bordeaux, para Porto Ruby e para Porto Tawny, um para Riesling, outro para
Chardonnay, flutes para champagne não datado e outro para datados, um para
vinhos encorpados outro para vinhos pouco encorpados, enfim, uma parafernália
imensa com certa variação de preço, qualidade e até de material.
Tradicionalmente uma taça de cristal contém, ou continha,
chumbo. Porém a busca, por determinadas empresas, de novos tipos de cristal
levou a que outros metais fossem incluídos na lista dos componentes do cristal.
O titânio é um desses metais admitidos na fabricação do cristal e, porventura,
mais ecológico que aquele. Além disso, parece apresentar maior resistência aos
choques e ao atrito.
Um
conjunto constituído por uma ou duas taças para tintos, uma
para brancos, outra para espumantes e ainda uma última para Porto e licorosos
servirá com desembaraço e eficácia a grande maioria das situações, permitindo
tirar o melhor partido dos vinhos que apreciamos.