Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 317
Data:
30/10/2002
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Entrevista

As últimas eleições no Espírito Santo revelaram um novo campeão de votos: o deputado federal Nilton Baiano, 61 anos, cinco filhos, reeleito para seu quarto mandato com 109.900 votos. A segunda maior votação para o cargo na história política do Estado. Antes dele, apenas Rita Camata havia conseguido superar a barreira dos 100 mil votos, em sua primeira eleição para deputada federal, em 1986, quando bateu na marca dos 139 mil.  
A surpresa não foi apenas dos observadores da cena política, mas do próprio Nilton, que estava fazendo suas contas em 70 mil e não consegue, ainda hoje, entender muito bem o que aconteceu. De qualquer forma, como não poderia deixar de ser, ainda comemora sua performance com vontade de “abraçar essas 109.900 pessoas, agradecer e dizer a elas que não vão se decepcionar”.  
Nilton é baiano de Itabuna e chegou ao Estado meio corrido. Era líder estudantil na Faculdade de Medicina da Bahia, foi preso no histórico congresso da UNE, em Ibiúna em 1969 e, depois de expulso de sua faculdade, conseguiu transferir-se para a Ufes, onde terminou seus estudos.  
O que pouca gente sabe é que o hoje presidente regional do PPB de Paulo Maluf no Espírito Santo um dia já esteve à esquerda da esquerda brasileira, como membro do Partido Comunista do Brasil (PC do B). Depois, abrigou-se no PMDB, onde conquistou seus primeiros mandatos. No dia em que foi assinar ficha no PPB, confessa: suou em bicas. Estaria renunciando a velhos princípios pela conveniência partidária?  
É disso, de sua performance,  
e de suas expectativas que Nilton Baiano, o campeão, fala nessa entrevista.  
– Deputado Nilton Baiano, vamos começar recuperando sua história. De onde o senhor veio e quando chegou ao Espírito Santo?  
– Eu vim da Bahia, nascido em Itabuna, e fazia Medicina em Salvador. Participei em 1969 do famoso Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em Ibiúna (SP), fui preso e quando voltei à Bahia fui expulso da Faculdade de Medicina. Através de uns conhecidos meus do Rio, consegui a transferência para Vitória e cheguei aqui naquele ano para concluir meu curso. Fiz aqui do quarto ao sexto ano.  
– O senhor participava do movimento estudantil. Tinha também ligação com algum partido de esquerda naquela época?  
– Eu fui presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da Bahia, vice-presidente da UEB (União dos Estudantes da Bahia) e, na época, era ligado ao PC do B (Partido Comunista do Brasil).  
– Quer dizer: do PC do B para o PPB?  
– Naquela época, ser de esquerda era risco de vida. Hoje é chique. As pessoas que fizeram história na época até morreram, e para essas pessoas temos que tirar o chapéu, porque tinham um ideal formidável. Hoje, muitos são de esquerda por conveniência.  
– O senhor está com quantos anos?  
– Estou com 61. Estou velho, né?  
– Não parece ter essa idade.  
– As pessoas me encontram na rua e dizem que o tempo não passa para mim. Realmente estou bem.  
– O senhor veio para Vitória, se formou...  
– Terminei meu curso aqui, fui para São Paulo, fiz pós-graduação em Ortopedia e em 1976 voltei como professor da Universidade Federal do Espírito Santo. Fui presidente do Sindicato dos Médicos em 1979, ainda dentro da ditadura. Fui primeiro tesoureiro, presidente por seis anos, depois fui indicado superintendente do Inamps em 1987. O Max Mauro era governador, me convidou e fui secretário de Saúde dele. Depois, em 1989, fui secretário da Saúde em Cariacica (na administração de Vasco Alves) e, em 1990, me candidatei a deputado federal.  
Me elegi com 15 mil votos, em 1994 me reelegi com 23 mil, em 1998 tive 50 mil, o governador José Ignácio me chamou para a Secretaria de Saúde e ocupei a pasta por 13 meses, e agora me reelegi com essa votação que nem eu esperava: 109.900 votos.  
– Como é essa transição do PC do B, que ficou à esquerda do PCB, chegando ao PPB, que é considerado um partido de direita?  
– Minha primeira eleição foi pelo PMDB e, pelo mesmo partido, me reelegi em 1994. Em 1995, eu queria me candidatar a prefeito de Vitória, mas o PMDB não iria me dar a legenda. Então, saí. Confesso que no momento de minha saída, quando fui assinar a ficha, eu suava que parecia ter tomado um banho de chuveiro naquele momento. Eu saí de um partido de esquerda, me abriguei, como toda a esquerda democrática, no MDB e, depois, no PMDB, e ir para um partido de direita, e ainda com a questão do Maluf no partido, foi complicado.  
Mas eu vim e as pessoas me respeitaram. Meu ideal não mudou e não muda. Fiz do PPB no Estado um partido diferente, com uma linha ética, de seriedade e moralidade. E no Congresso, mesmo eu estando no PPB, sempre votei numa linha que considero o melhor para o país e para o trabalhador. Fui contra a reforma da Previdência, contra a reforma administrativa, e tudo aquilo que eu achava que prejudicava a população.  
Tanto é que nunca indiquei ninguém para cargo nenhum no Estado porque eu votava contra o presidente.  
– Seu caso é um exemplo de que as siglas partidárias nesse país são uma questão de conveniência. O que o senhor acha que precisa ser feito para que os partidos brasileiros tenham consistência e respeitabilidade?  
– Acho que precisamos fazer uma reforma partidária em que o mandato seja do partido, onde haja fidelidade partidária, com financiamento público das campanhas, para moralizar. O que há é uma anarquia generalizada, ninguém sabe quem é quem. Houve um deputado, há dois anos, que em um dia mudou de partido quatro vezes. Claro que isso não é ideológico, é conveniência.  
Se fizermos essa reforma, a gente cria uma estrutura partidária que estamos precisando, e que vai criar prestígio nos partidos, e as pessoas que se filiarem vão saber que terão que obedecer a uma linha partidária. E os políticos vão ser mais respeitados.  
Quando isso acontecer, os políticos vão trabalhar internamente nos partidos para garantirem seu espaço quando quiserem se candidatar a alguma coisa.  
– Mas essa inconsistência é fruto dos últimos 40 anos, não é deputado? Antes de 1964, tinham-se partidos de cujos ideais não se abria mão, como UDN, PTB, o próprio PSD. O próprio povo brasileiro hoje tem condições de absorver uma nova estrutura onde os partidos sejam fortes?  
– Acho que sim. O regime ditatorial ajudou com aquela anomalia, de senadores biônicos, vícios que foram sendo implantados. Para que os partidos se fortaleçam, temos que fazer essa reforma, que muitos políticos não querem porque aprenderam a fazer política clientelista, que não é a ideal.  
Os exemplos de outros países são de partidos fortes, que criam na sociedade um respeito por seu trabalho. Aqui no Brasil temos uma certa fidelidade. O PPB do Rio Grande do Sul em 1996 elegeu 154 prefeitos, em 2000 tinha 154 prefeitos, porque a formação política do gaúcho é diferente. Se você mudar de partido, o eleitor cobra e reprova. O eleitor faz a fidelidade partidária, que temos que transportar para o resto do Brasil.  
Como há dificuldades em algumas regiões, vai ter que ser na base da lei. Eu acho que essa verticalização havida nas eleições desse ano foi correta. O problema é que na prática não funcionou por causa das coligações brancas.  
– Costuma-se dizer que essa reforma não vem porque teria que vir do Congresso, ocupado por políticos que se beneficiam dessa situação atual e não querem mudar para  
não serem prejudicados. Qual a solução para isso?  
– Infelizmente, vemos no Congresso pessoas que vão para lá negociar, defender interesses próprios, e são essas pessoas que não querem essa reforma. Temos que afastar essas pessoas da política.  
Olha, essas eleições foram muito boas. Saí delas muito satisfeito, não apenas pela minha votação, mas pelo que aconteceu. De modo geral, em nível nacional, tivemos alijamentos de várias lideranças que não interessam mais ao povo, porque as pessoas estão vendo que política tem que ser diferente. Aqui no Estado também houve isso.  
No futuro, e espero que não seja longo, políticos-negociantes, que fazem clientelismo, promessas que não cumprem, vão ser afastados da política.  
– Qual a receita para ser um campeão de votos como o senhor foi?  
– (risos) Acho que, primeiro, a simplicidade, a humildade, o trabalho que fazemos durante quatro anos, 24 horas por dia. Não faço política só em época de eleição. Meu celular há nove anos, desde que eu comprei, sempre teve o mesmo número e eu não desligo. Atendo a todo mundo. A maioria das pessoas sabe o número, que está até no meu santinho, para que as pessoas me achem.  
Outra coisa é a linha de seriedade, de ética, de conduta sem mentira, sem promessas. Foi isso que levou a essa votação. Caldas, eu te confesso que tive votação significativa em municípios onde nem fui, e em outros onde passei muito rapidamente, sem grandes trabalhos.  
Acho que a população vem observando minha vida, que é aberta, sem cortinas para apagar irregularidades. Eu gostaria de conhecer essas 109.900 pessoas para abraçar, agradecer e garantir que não vão se decepcionar.  
– Honestamente, o senhor ficou surpreso com a votação?  
– Fiquei sim. Nas minhas contas, eu chegaria a 70 mil votos e sabia que me reelegeria. Em alguns municípios tive votação que nem esperava: tive 21 mil em Vitória, 21 mil em Vila Velha, quase 10 mil na Serra, mais de 10 mil em Cariacica. Fico me perguntando como tive tantos votos no Espírito Santo, e tenho que agradecer muito a confiança dos capixabas, porque não sou daqui, mas o Espírito Santo é minha terra, porque terra não é onde você nasce, mas onde você vive bem.  
– A sua entrada na Secretaria de Saúde foi cercada de polêmica, porque quem estava lá era o Felício Scárdua, um gerente. E o senhor entrou numa composição política, num momento em que o governo precisava de se fortalecer politicamente. Como o senhor analisa aquela polêmica, seu trabalho na Secretaria e o reflexo disso em sua reeleição?  
– Caldas, eu calei a boca de muitos críticos. O próprio governador me disse que tinha um relatório dos técnicos o aconselhando a não tirar um gerente para colocar um político. Eu calei a boca de todo mundo. Fui para a Secretaria com um certo medo, porque substituir o ruim é bom, mas substituir o bom é ruim. Mas sei de minha capacidade, minha competência, meus limites.  
Assumi o desafio político. O governador queria atender a um pedido do presidente da República, em levar a Rose de Freitas para Brasília (a deputada, agora eleita pelo PSDB, era suplente), e em 13 meses que fiquei na Secretaria fiz um trabalho que valeu por 10 anos. Havia dias em que eu trabalhava 18 horas.  
Inaugurei o Hospital Infantil de Vila Velha, que eu comecei a construir quando fui secretário do Max em 1987; criei um programa novo, de internação domiciliar, que continua funcionando, e temos mais de 300 pessoas internadas em sua própria casa; aparelhei muitos hospitais; inaugurei o Hemocentro de São Mateus, que hoje controla 100% do sangue da região Norte; criei novidades no combate à dengue e à Aids.  
Fui pessoalmente para as pessoas distribuir material de conscientização, dizendo às pessoas para se cuidarem. Tanto que um dia uma turista mineira em Jacaraípe falou comigo que nunca tinha visto um secretário de Estado fazer isso. E ninguém pode dizer que eu estava à cata de votos, porque nossas praias no verão ficam cheias de turistas mineiros e eles não votam aqui e eu não sou candidato em Minas.  
Esse trabalho me ajudou, porque as pessoas viram o que realizamos na Secretaria da Saúde.  
– O senhor mencionou a expressiva votação na Grande Vitória. Na capital, o senhor teve 21,8 mil votos para deputado e, há dois anos, havia tido 22 mil para prefeito, com muito menos concorrentes. Isso o anima a concorrer de novo à prefeitura em 2004?  
– A animação minha é ir para Brasília continuar meu trabalho, passar quatro anos. Não gosto de estirar o braço muito longe. O que quero é ajudar o Estado, o governador Paulo Hartung, que ajudamos a eleger. Em Brasília, buscar a unidade da bancada, porque este mandato que está terminando não foi produtivo nesse sentido, a bancada estava desunida, prejudicando o Estado.  
A prefeitura é coisa distante. Vamos participar do processo, mas meu nome, no momento, está fora de discussão para administrar Vitória.  
– Mas o senhor me dizia antes que está cansado de Brasília e este é seu último mandato de deputado federal. O que vem aí? Ninguém sai fácil disso.  
– Acho que a gente tem que renovar o quadro, abrir espaço para outras pessoas verem como funciona aquilo. Passar 16 anos em Brasília já está bom para mim. A maioria dos municípios tem uma obra que eu ajudei. O que vai ser no futuro, a gente não sabe. Eu espero que seja mesmo meu último mandato de deputado federal.  
– O senhor foi coordenador dessa bancada que o senhor acabou de dizer não ter sido unida. A bancada nova, com quatro deputados antigos e seis novos, tem também muitas novidades, com um perfil bem contrastante. Qual sua esperança em relação a esse grupo novo?  
– Acho que vamos ter mais facilidade. São pessoas comprometidas com a seriedade e o trabalho pelo Estado, não têm passado nem presente que as desabonem. Acredito que é uma nova realidade, todos queremos tirar o Estado da dificuldade em que se encontra. Vamos ter uma bancada que coloque o Espírito Santo em primeiro lugar, fora dos interesses pessoais.  
– Como o senhor analisa, como presidente regional do PPB, o novo perfil da Assembléia Legislativa? Qual o recado que sai das urnas aqui no Estado?  
– O capixaba disse que quer mudar, com uma Assembléia com perfil diferente, com 20 novos deputados. As pessoas disseram:  Queremos diferente . Essa Assembléia nova está dentro desse contexto. O eleitor demonstrou que sabe votar e bem. As pessoas que se elegeram e que não se conscientizarem disso, com um novo trabalho, certamente serão deputados com um só mandato.  
No PPB, vamos sentar com nossos companheiros. Queremos traçar um perfil diferente, que cheguemos ao final do mandato renovando os mandatos dos companheiros atuais e ainda elegendo outros. Não vamos engessar ninguém, mas cobrar coerência, que vai beneficiá-los também.  
– Deputado, as mulheres ganharam muito espaço nessas eleições. Temos cinco deputadas estaduais, duas federais e a sua esposa, Elisete Fassarela, é suplente do senador reeleito Gerson Camata. Como foi essa composição?  
– A Elisete tem um trabalho muito grande. Um canal de televisão me perguntou o que representaram em minha campanha minha mulher e meu filho Marcelo, e eu disse que representaram 90%. O trabalho de organização, conversas, reuniões, foi deles. Eu só fiquei com a política.  
Quando discutíamos a coligação PSDB-PMDB-PPB, ficou combinado que o PMDB ficaria com a candidatura ao Senado, o PSDB com o governador e o PPB uma vaga de suplente. Eu fiquei com a segunda suplência. Se brigasse podia até ficar com a primeira, mas não quis brigar. A indicação da Elisete foi do partido, em função do trabalho que ela desenvolve para o PPB no Espírito Santo.  
– Na relação da nova Assembléia, o PPB tem como novidades Reginaldo Almeida e Heraldo Musso, reelegeu Gilson Amaro e Fátima Couzi, mas perdeu Toninho de Freitas, Camilo Araújo e Avílio Machado. Como o senhor avalia esse desempenho?  
– Avalio como ótimo. Elegemos dois deputados federais, eu e Marcus Vicente, com uma quantidade de votos muito grande. Sozinho o PPB faria legenda para deputado federal e para estadual. Estamos entre os partidos que mais elegeram deputados estaduais, fizemos quatro. Então, crescemos muito. Em função dessa proposta de seriedade e ética, se continuarmos nessa linha, o PPB vai ser um dos maiores partidos do Espírito Santo.  
– O senhor estava dentro do governo e conseguiu escapar do lamaçal. Se o governador José Ignácio lhe perguntasse ‘onde foi que eu errei’, o que o senhor responderia?  
– Eu sei onde ele errou. Ele é uma pessoa de bem, mas errou na indicação de pessoas, em não segurar a ponta da corda. Uma ocasião ele me pediu opinião e eu falei isso para ele. É muito simples identificar os pontos onde errou. Indicou pessoas que não deveria e na vigilância.  
Caldas, o Executivo é diferente do Legislativo. No Legislativo, a responsabilidade é de fazer lei, tomar conta do Executivo. Já no Executivo é preciso confiar desconfiando. É como se diz: quando um amigo não é certo, um olho fechado e outro aberto; e se o amigo é incerto, os dois olhos abertos. Não é colocar o auxiliar e esquecer. Tem que ter um controle sobre isso, porque senão cria as dificuldades que o governador teve.  
Acho que, se hoje pudesse voltar atrás, o José Ignácio agiria de maneira completamente diferente de como agiu.  
– Qual sua expectativa em relação ao governo Paulo Hartung?  
– O Paulo é competente, já mostrou isso como líder estudantil, como deputado estadual, federal, como prefeito de Vitória, e como senador. Tem um passado limpo. As críticas que a ele fazem é dizer que não honra compromisso, mas ninguém coloca ele em situações de constrangimento moral.  
– O PPB tem algum compromisso firmado com ele?  
– Não, o PPB ajudou. Agora, espaço queremos no governo, mas é o governador quem vai decidir isso. Os erros e acertos são dele e não nossos. Tenho certeza de que o Paulo Hartung vai fazer um grande governo, depois de tantos governos de desacertos. Precisamos virar essa página do Espírito Santo e daqui a quatro anos termos orgulho de ter votado nele.  
– O senhor já falou do recado das urnas no Espírito Santo, e eu queria saber o recado das urnas em nível nacional.  
– Acho que estamos num processo de mudança, e essas mudanças vão continuar. Quem se eleger e não corresponder às expectativas vai ser alijado do processo. Há muitas críticas aos políticos e acho que as pessoas têm razão. O político sobe no palanque, faz um monte de promessas e depois não cumpre nada.  
Há candidatos com mil e uma promessas, e depois vamos ver como fica. Acho que tinha que passar um projeto prevendo a cassação do mandato do político que prometesse uma coisa em campanha e não cumprisse depois de eleito. Nos Estados Unidos mentira dá até cadeia, mas aqui se orienta para mentir.  
Essa onda vermelha é uma resposta da população de que está cansada de desmando, de corrupção, de tapinha nas costas, de clientelismo, de problemas na Educação, na Saúde, de desemprego, de insegurança. O recado é que vai mudar para ver se acerta. E eu espero que acerte.  
– O senhor é oriundo da onda vermelha lá atrás. Como o senhor vê as perspectivas desse virtual governo do PT, já que a vitória de Lula parece irreversível, embora o senhor já tenha declarado voto em José Serra em função de a vice, Rita Camata, ser uma capixaba? O senhor fez parte de um movimento no passado que hoje chega ao poder. Qual vai ser sua postura diante de um eventual governo do PT? Existe mesmo medo de alguma coisa, como quer fazer crer o Serra?  
– Esse negócio de medo é conversa fiada para tentar mudar o quadro, o que acho muito difícil. O PT evoluiu muito. O PT de hoje é muito diferente do PT de 15 anos atrás. Os próprios pronunciamentos do Lula e de seus companheiros mostram isso. Se ele ganhar, espero que faça um governo dentro das propostas que defende.  
O país e o mundo se modernizaram. Quem achar que pode fazer política hoje pensando no Brasil ou no mundo de 20 anos atrás está errado. Não vejo pavor nenhum. A única coisa que causa apreensão são alguns segmentos organizados, se eles não vão criar dificuldades para o Lula, como aconteceu aqui no Estado. Se isso não acontecer, espero que o PT faça um bom governo. Porque uma coisa que não podemos imputar ao PT é a desonestidade.  
– O senhor dizia antes da entrevista que o Brasil é um país bonito, com tudo de bom, mas o que falta é acabar com a miséria. Como acabar com a miséria do Brasil, quando essa mesma miséria muitas vezes é instrumentalizada até politicamente?  
– O político sem propostas usa muito a miséria para ganhar votos. Acho que temos que acabar com a miséria, acabando com a disparidade social, com essa brutal diferença de salários; precisamos abrir o país para empregos, investir na agricultura para acabar com a miséria, produzindo, gerando empregos, melhorando salários. Dizem que se aumentar o salário mínimo quebra a Previdência, então vamos reformar a Previdência, não essa meia-sola que fizeram aí, para prejudicar os aposentados, que o governo queria esmagar a qualquer custo. Precisamos da reforma política, que é fundamental.  
São aspectos importantes para acabar com a miséria. E isso não se acaba com leis, mas com trabalho, progresso e desenvolvimento.  
– O senhor falou de incentivo à agricultura num país com 85% de sua população hoje ocupando espaços urbanos. Temos até uma agricultura moderna, mas o que ela produz não vem para a mesa do brasileiro, mas são comodities para fortalecer a balança comercial, são produtos de exportação. O senhor mudaria o perfil dessa agricultura? Como seria isso, em sua opinião?  
– Esses 85% estão no meio urbano por causa das dificuldades no meio rural, de saúde, educação, eletricidade. As pessoas migram para as cidades em busca de melhorias para a família. Se mudarmos esse perfil, levando condições de vida ao campo, certamente muita gente vai voltar para o campo e quem está lá não vai sair.  
Aqui no Estado a gente pode comparar o norte e o centro-sul. São todas pequenas propriedades no centro-sul, onde as pessoas vivem de forma digna, produzem. Vai para o norte e começa a encontrar as grandes propriedades, com poucas famílias, e sem condições de vida. Se fizermos uma reforma agrária, não como costumam fazer hoje, em que em pouco tempo a terra está de novo acumulada nas mãos de poucos, certamente vamos mudar esse quadro e ter alimentos para os brasileiros e para exportação  



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