Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 316
Data:
15/10/2002
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A neutralidade e o recolhimento do governador José Ignácio Ferreira durante as eleições
Eleições 2002

No Brasil, a esquerda está chegando ao poder. No Espírito Santo, Paulo Hartung leva fácil e somente 10 dos 30 deputados estaduais conseguem a reeleição. A renovação chega também à Câmara Federal  
Dr. Enéas deixou um mico nas mãos da Justiça Eleitoral. Fez mais de 1,5 milhão de votos, suficientes para eleger sete deputados federais em São Paulo, mas o Prona, partido que dirige, só registrou seis candidatos. Como fica a sétima vaga?  
São anomalias como essa que se repetem pelo Brasil inteiro por conta de um sistema eleitoral que só tem similar na Finlândia e que não é revisto porque quem deveria revisá-lo é beneficiário da atual situação.  
A alternativa seria o sistema de listas, em que o eleitor votaria num partido sabendo de antemão quem assumiria no caso de a legenda vencer. É o modelo adotado nas melhores democracias do mundo.  
Mas enquanto a lista não vem, e nem o voto distrital, misto ou puro, e nem a fidelidade partidária, e nem o voto facultativo, eleição após eleição o Brasil vai batendo recordes: quase 85 milhões de brasileiros deram seu voto para presidente da República, levando para o segundo turno o oposicionista Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 46,4% dos votos (39.443.765 votos) e o governista José Serra (PSDB) com 23,2% (19.700.395 votos).  
Situação complicada para o candidato tucano é que 76% dos eleitores deram seu voto para um dos três candidatos oposicionistas. Anthony Garotinho (PSB), ex-prefeito de Campos e ex-governador do Rio, levou 17,9% (15.175.729 votos), enquanto Ciro Gomes (PPS), que, mais do que os méritos de experiência administrativa no Ceará, atraiu as atenções por ser marido da atriz Patrícia Pilar, ficou com outros 12% (10.167.597 votos).  
Caso capixaba – Resultado previsível teve o Espírito Santo, pelo menos nas eleições majoritárias. O novo governador do Estado, a partir de janeiro, é o atual senador Paulo Hartung (PSB), que aumentou em 50 mil votos seu desempenho para o Senado há quatro anos, obtendo 820.949 votos para o Palácio Anchieta (54%), enquanto seu ex-aliado, o deputado federal Max Mauro (PTB), chegou a 631.326 votos (41,5%).  
Dos mais de 2 milhões de eleitores capixabas, foram às urnas 1.768.049 (82,4%), dos quais 1.521.251 validaram o voto, enquanto 78.873 preferiram votar em branco e outros 167.925 anularam o voto.  
Mas já não será nenhuma vantagem Paulo Hartung citar sua votação ao Senado em 1998, quando teve cerca de 50 mil votos a mais do que o governador José Ignácio Ferreira, quando ambos estavam no PSDB. Nas eleições deste ano, o pastor batista Magno Malta (PL) fez o que se pode chamar de barba, cabelo e bigode.  
Malta, que se projetou por sua atuação na presidência da CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados, deixou para trás o mito da política capixaba Gerson Camata (PMDB) e bateu em 867.434 votos, portanto, quase 50 mil a mais do que o governador eleito. Entretanto, já entra para a história com a maior votação individual na política capixaba.  
Gerson Camata também se elegeu, obtendo 811.745 votos, para cumprir seu terceiro mandato de senador e completar 40 anos de vida pública. Antes, o ex-radialista de olhos azuis já foi vereador de Vitória, deputado estadual, deputado federal e governador do Estado, ganhando fama por nunca ter perdido uma eleição.  
Magno Malta é um baiano que chegou para o Estado como pastor, começou a trabalhar na recuperação de dependentes de drogas e, com um discurso fácil, entrou para a política, elegendo-se vereador em Cachoeiro de Itapemirim, deputado estadual e deputado federal, antes da triunfal vitória para o Senado, com as bênçãos da Igreja Universal do bispo Edir Macedo.  
É, para muitos, o grande vencedor dessas eleições. Sem o apoio de nenhum político tradicional, pilotando o discreto PL, Malta teve um caminhão de votos e ainda exerce forte liderança sobre uma bancada de sete deputados estaduais que se declaram evangélicos – alguns, de fato, o são.  
Numa Assembléia de 30 deputados, lá chegaram com o carimbo evangélico o pastor-radialista Robson Vailant (PL), da Universal; Euclério Sampaio (PTB) e Edson Vargas (PMN), da Batista; Reginaldo Almeida (PPB), da Assembléia de Deus; Délio Iglesias (PSC), da Adventista; Geovani Silva (PTB), da Maranata; e Sueli Vidigal (PDT), denominação não declarada.  
Para completar, Magno Malta ainda sacou o discreto vereador Neucimar Fraga (PL), de Vila Velha, e fez dele deputado federal em seu lugar com 39.047 votos.  
Logo depois de conhecido o resultado oficial – o Espírito Santo foi o primeiro Estado do país a terminar a apuração, 10 horas depois de seu encerramento –, Magno Malta tratou de sair na frente e foi logo reunindo parte dessa bancada dita evangélica para discutir a disputa da presidência da Assembléia, entregue há seis anos ao deputado reeleito para o quarto mandato José Carlos Gratz (PFL).  
Credenciado por expressivos 24.175 votos, Robson Vailant projeta-se como potencial candidato do grupo à presidência. A dúvida é se haverá consenso entre os chamados evangélicos.  
Poder esvaziado – Em princípio, o discurso dos dois principais candidatos a governador surtiu efeito e o deputado José Carlos Gratz perdeu poder e o controle sobre a Assembléia Legislativa. Dos 30 deputados estaduais, apenas 10 se reelegeram, contrariando previsões do próprio presidente. E, aparentemente, dos 30 deputados da próxima legislatura, a Assembléia estaria dividida exatamente ao meio, mas deputados antes contados na caderneta de Gratz começaram a sair dela.  
Dez já declararam-se, através da imprensa, aliados do futuro governador Paulo Hartung, que certamente não vai querer um parlamento hostil: José Esmeraldo (PFL), Fátima Couzi (PPB), Mariazinha Vellozo Lucas (PSDB), José Ramos (PFL), Cabo Elson (PDT), Anselmo Tose (PPS), César Colnago (PPS), Paulo Roberto Foleto (PSB), Janete Venâncio (PSB) e Edson Vargas (PMN). A eles deve se juntar Marcelo Santos (PTB), que no último mês de campanha abandonou a candidatura de Max Mauro e abraçou a de Hartung.  
Na conta de Gratz ainda são relacionados José Tasso (PTC), Gilson Gomes (PFL), Luiz Carlos Moreira (PMDB), Heraldo Musso (PPB) e Rudinho (PSDB), este por ser filho do presidente do Tribunal de Contas, Valci Ferreira, um antigo aliado do atual presidente da Assembléia. Nesta relação ainda pode ser incluído o Coronel Gazani (PGT), que é atualmente do grupo e se declara independente em relação ao novo governo, e Gilson Amaro (PPB), embora tenha mergulhado após as eleições.  
Há suposições de que, por ter sido jogador de futebol até este ano, inclusive passando pelo Rio Branco, onde Gratz é presidente do Conselho Deliberativo, o ex-craque da seleção brasileira Geovani Silva possa votar com o atual presidente da Assembléia, mas ele foi eleito com os votos da igreja Maranata e pode seguir em outra direção. Cauteloso, evita comentar sua posição política em relação ao futuro governo.  
A bancada do PT, hoje representada apenas por Cláudio Vereza (campeão com 37.610 votos), mas agora reforçada por Brice Bragato, Carlos Castelioni e Helder Salomão, declara-se independente e oposição crítica ao novo governo, a exemplo de outros dois deputados eleitos na mesma coligação, Cláudio Thiago (PL) e Pastor Robson Vailant (PL). No time dos independentes em relação ao novo governo incluem-se, ainda, os evangélicos Euclério Sampaio (PTB) e Délio Iglesias (PSC), eleitos na frente que estava com Max Mauro, e Reginaldo Almeida (PPB), que diz não ter dependido de ninguém para se eleger.  
Sueli Vidigal (PDT) não se manifestou, mas sua posição pode ser deduzida a partir das circunstâncias em que foi eleita: com o apoio do prefeito Sérgio Vidigal (PDT) e da máquina administrativa da Serra. Vidigal foi o principal cabo eleitoral de Max Mauro, adversário do governador eleito.  
A assim julgar, a oposição vai estar com pelo menos sete deputados, e a situação com 11. Outros 12 parlamentares ficam no bloco dos independentes ou, em alguns casos, da lei da oferta e da procura política. A maioria dos deputados estaduais eleitos continua dependendo muito dos favores do governo para manter suas bases políticas, principalmente empregos para cabos eleitorais e obras – estas mais no interior do Estado, que perdeu representação no novo parlamento.  
Dança da Mesa – Nem bem acabou a disputa pelos votos dos eleitores, e os deputados já se mobilizam para disputar a Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Espírito Santo. Como macaco velho não mete mão em cumbuca, e ele foi o alvo preferencial de todos os torpedos disparados tanto por Paulo Hartung quanto por Max Mauro – até parecia que era o terceiro candidato ao governo –, José Carlos Gratz está mergulhado. Mas é inegável que ele vai tentar o quarto mandato de presidente da Casa.  
Gratz vai apostar na divisão da bancada com tendências pró-novo governo para, com um toque de sedução aqui e outro ali, tentar manter o poder. Tarefa que não vai ser fácil, apesar de o cargo já ter seis outros pretendentes, além de um sétimo que está em stand by.  
Mesmo antes de ser eleita, a ex-dama de ferro do Tribunal de Contas, Mariazinha Vellozo Lucas, mãe do prefeito Luiz Paulo, de Vitória, já dizia-se candidata à presidência da Assembléia. Agora, respaldada por 21.163, a septuagenária senhora vai colocar em jogo toda a experiência acumulada em dez mandatos na presidência do tribunal fiscalizador dos administradores públicos.  
Motivado pela sua expressiva votação, dada em reconhecimento pelo seu trabalho coerente nos dois mandatos anteriores, o petista Cláudio Vereza aproveita o vento favorável às esquerdas do Brasil e já se lançou também candidato à presidência. Em outras épocas, sem grande respaldo nos quadros da Assembléia, o PT já foi aliado do próprio Gratz na eleição para dirigir a Casa.  
Capitaneado pelo senador eleito Magno Malta, o pastor Robson Vailant projeta-se à frente da bancada evangélica e também pleiteia dirigir o Legislativo, mesma pretensão do Cabo Élson (PDT), que chega com a força dos votos dos praças da Polícia Militar.  
E do próprio grupo atual de José Carlos Gratz, saem dois pré-candidatos, que tanto podem estar levando a sério um projeto pessoal, quanto erguendo uma cortina de fumaça no processo: Fátima Couzi (PPB), que é aliada do novo governador, e José Ramos (PFL), atual vice-presidente da Assembléia, mas que nos últimos meses andou se estressando com Gratz e tanto se declara aliado de Hartung quanto pretendente a presidir a Mesa Diretora.  
O nome, porém, que ainda não foi colocado e que, nas rodas políticas, é dado como o preferido do governador eleito é o médico César Colnago (PPS), que presidiu a Câmara de Vitória e faz parte do círculo de amigos universitários de Paulo Hartung de onde saiu o projeto político que hoje leva o grupo ao centro do poder no Espírito Santo.  
Desde antes das eleições, César Colnago vem atacando o que considera gastos exagerados da Assembléia e, com a ajuda de parte da grande imprensa – que age como se não tivesse nenhum conhecimento do assunto anteriormente –, desfia um rosário de números mal comparados com o orçamento “de mais da metade dos municípios capixabas”, como se as coisas não fossem independentes.  
A Assembléia Legislativa do Espírito Santo gasta pouco mais de 1,5% do orçamento estadual, paga um dos mais baixos – se não o mais baixo – salários do país aos seus deputados, e há muito tempo cassou privilégios que suas congêneres de outros Estados continuam mantendo  
Eleitor entendeu regras do jogo  
A maciça maioria de votos nos candidatos de oposição ao governo federal repercutiu na votação dada a deputados e senadores que darão base política a um eventual governo de Lula. Só ao PT o eleitorado deu 91 deputados federais, 33 a mais que o partido tem hoje – o maior crescimento dentre todas as agremiações com representação no Congresso.  
Não chega a ser tudo o que Lula precisa, mas certamente é o começo de uma boa base política, que ele vai precisar de muita habilidade para construir, se ganhar as eleições. O PFL fez 84 deputados, o PMDB ficou com 74 e o PSDB com 71. Os três perderam representação: 14, 13 e 23 respectivamente.  
Todos os partidos de oposição ao presidente Fernando Henrique aumentaram suas bancadas, enquanto os partidos de apoio ao atual governo foram “enxugados”. O PDT saltou de 16 para 21 deputados, o PL (coligado ao PT de Lula) passou de 22 para 26, o PSB saltou de 16 para 22, o PPS de 12 para 15 e o PC do B de 10 para 12.  
Na bancada do governo, o PPB perdeu quatro deputados e ficou com 49, o PTB perdeu sete cadeiras e ficou com 26 parlamentares.  
Se Lula conseguir unir PT, PSB, PL, PDT, PPS, PC do B, PV e PMN, fica com uma base parlamentar de 193 deputados. E vai ter que buscar apoio de outros 64 deputados para obter a maioria absoluta de 257 deputados na Câmara.  
A tarefa de José Serra (PSDB) será ainda mais difícil, se conseguir virar a eleição presidencial. Juntos, o PSDB e o PMDB fizeram 145 deputados e ele teria que buscar na esquerda o apoio de outros 112 parlamentares para obter maioria na Câmara, ou converter os pefelistas (84) e pepebistas (49) ao governo.  
No Espírito Santo, a repercussão dos votos dados a Lula não foi na mesma relação nas eleições proporcionais, mas essa votação na esquerda cresceu muito. O PT elegeu a jornalista Iriny Lopes e, da mesma coligação, vai para Brasília Neucimar Fraga (PL). O PSB terá o engenheiro agrônomo e ex-vice-governador Renato Casagrande, enquanto o PDT terá o médico Humberto Manato e o PTB reelegeu José Carlos Elias.  
A chapa PPB-PSDB-PMDB elegeu cinco deputados: do PPB, Nilton Baiano e Marcus Vicente; do PSDB, Rose de Freitas e João Miguel Feu Rosa; e do PMDB, Marcelino Fraga. Desse grupo, até agora o único que disse apoiar Lula é Marcus Vicente, mas o mesmo caminho poderão tomar Feu Rosa e Nilton Baiano. Rose é amiga pessoal de Fernando Henrique e Marcelino Fraga tem ligações com a oligarquia rural capixaba, entretanto dependem do governo federal para garantir suas bases políticas.  
No Senado, que renovou em dois terços, o PT conquistou 10 cadeiras, ficando atrás apenas do PFL com 14. O PMDB fez nove senadores, o PSDB oito, o PDT quatro, PSB três, PTB e PL dois e o PPS e PSD um cada. Nas eleições de 1998, quando o Senado foi renovado em um terço, o PMDB fez 12 eleitos, o PFL cinco, o PSDB quatro, o PT três, o PPB dois e o PSB um.  

  


José Carlos Gratz

Paulo Hartung

Max Mauro

Magno Malta

Gerson Camata.

Ricardo Ferraço

Nilton Baiano

José Serra

Luiz Inácio Lula

Cláudio Vereza

Mariazinha Vellozo Lucas















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