No mais famoso clube noturno da capital da República
Checa há clientes dos 18 aos 80 anos dispostos a desfrutar da libido perante 58
câmaras e milhões de espectadores pelo mundo.
Há lugares onde tudo pode acontecer e o Big Sister, o
clube erótico mais conhecido de Praga, é um deles. A linguagem é simples e direta,
tal como os seus frequentadores: “Do you prefer to watch or to f...?” (prefere
ver ou fazer sexo?), lê-se em
www.bigsisterlive.com
“O Big Sister é o único lugar onde pode fazer as duas coisas”. O clube tem uma
particularidade que o torna único no mundo. O espaço é repleto de câmaras — 58
mais concretamente — estrategicamente colocadas para captar e transmitir online
todos os momentos de prazer, o que faz do Big Sister o maior reality show
sexual do mundo. A oferta é simples: sexo real, entre pessoas reais, em tempo
real.
O conceito nasceu de uma conversa entre um cliente e um
empresário da noite da capital checa, que prefere manter o anonimato. Porque
não abrir um clube onde as pessoas pudessem ter todo o tipo de prazeres sexuais,
tornando-os públicos para visualização na Internet? Seria aqui que se iria
buscar a fonte de rendimento! A ideia parecia genial mas ficava no ar uma
grande dúvida. Estaria o comum dos mortais disposto a ser filmado a praticar
sexo a troco de nada? “Essa era a grande questão. Ninguém acreditava que as
pessoas quisessem exibir-se frente às câmaras”, afirma o diretor de marketing,
Carl Borowitz.
Nos negócios também é preciso um sexto sentido e em
2001 começaram os preparativos. Foi adquirido um edifício de quatro andares, o
nº 46 da Rua Nadrazni, remodelado e adaptado em obras que levaram três anos.
“Tivemos que desenvolver soluções tecnológicas para podermos filmar de todos os
ângulos por controle remoto, para transmitir pela Net e gravar com alta definição
para a produção de DVD”, explica Borowitz. Qualquer semelhança com o reality
show “Big Brother” não é coincidência. O programa que percebeu que todos nós
somos voyeurs foi, aliás, a fonte de
inspiração para o nome do clube.
A primeira transmissão aconteceu em Dezembro de 2004.
Desde o primeiro dia em que se anunciou sexo frente às câmaras que o Big Sister
teve clientes. A questão das filmagens fica salvaguardada com a assinaturinado”. O espaço era cada vez mais
frequentado por casais, e, a partir de 2007, os domingos passaram a ser
dedicados ao “Couples Night”. Esta era uma noite bem diferente das quintas e
sextas, reservadas para homens solteiros, onde as Big Sisters — entre 8 a 10 moças
por noite — assumem um grande protagonismo. O desafio seguinte era promover
noites para a troca de casais. “Fizemos uma campanha que durou três meses a
anunciar a primeira noite para swingers”.
A 25 Junho de 2007, os casais eram convidados a alargar as fronteiras da sua
relação. O bufê e as bebidas seriam oferta da casa, tal como ainda hoje
acontece. “Não tínhamos a certeza se apareceriam casais e havia um Plano B, com
recurso a profissionais, visto que teríamos que transmitir alguma coisa”,
lembra Carl Borowitz. “Felizmente, logo na primeira noite apareceram oito
casais e a partir daí o número começou a subir graças ao boca a boca”.
Deste então, o Big Sister é um fenômeno de sucesso e os
números falam por si. Nos primeiros três anos o clube foi frequentado por mais
de 24 mil pessoas. O seu arquivo tem hoje mais de 20 mil filmagens com
conteúdos explícitos, um “Best Of” de 7500 vídeos agrupados em preferências
sexuais para todos os gostos e tendências e uma média de 10 mil membros que
visitam diariamente o site.
Quem frequenta, afinal, o Big Sister? A faixa etária
varia entre os 18 e os 83. Como seria de esperar, a casa atrai uma grande
população masculina, desde virgens até seniores em busca de parceiras mais
novas. Os sábados e domingos são dedicados aos casais. Carl Borowitz explica
que os clientes têm duas motivações distintas. “Os que praticam sexo têm uma
grande libido, são exibicionistas. Para os voyeurs é uma oportunidade de ver
sexo real, alguém com quem se identifiquem bem diferente dos filmes
pornográficos.”
O conceito e a popularidade do Big Sister lembram os
anos dourados do Plato’s Retreat,
considerado em finais da década de 70 o clube sexual mais infame de Nova
Iorque. O Plato’s tinha aberto a sociedade norte-americana a uma democratização
do sexo e atraía desde celebridades a suburbanos. Os tempos eram outros. A
cidade era conhecida pelas suas noites loucas e pela euforia de uma geração
hippie que praticava sexo livre, ainda sem o drama do HIV
Também na Rua
Nadrazni a grande atração é a liberdade de praticar sexo. Já na morada online
estimula-se um dos instintos mais básicos do ser humano: a curiosidade de
bisbilhotar o que faz o ‘vizinho’. Fomos espreitar a primeira morada, numa noite
de sábado e conhecer de perto alguns swingers. À primeira vista, o Big Sister é
um bar igual a tantos outros. Ao balcão ou à mesa, grupos de amigos ou casais
tomam uma cerveja enquanto nos telões passa o resumo do último jogo de futebol.
Este é, contudo, também um espaço para um primeiro contato. Alguns RP
(relações públicas) da casa procuram ver se os clientes comunicam entre si e se
encontram o parceiro ideal. É numa porta lateral que se entra para um domínio
mais exclusivo. Na recepção, os clientes assinam o contrato de cessão de imagem
e libertam-se de algum vestuário em troca de roupões ou toalhas vermelhas. O contrato não obriga à apresentação de qualquer
exame médico, apenas refere que o cliente deverá ser “completamente saudável” e
não ter “nenhuma doença infecto-contagiosa”. O sexo seguro fica por isso ao
critério de cada um. A preocupação primordial do Big Sister é certificar-se de
que quem frequenta a casa tenha mais de 18 anos. A entrada é gratuita para
casais. Apenas nas noites dedicadas a homens solteiros são cobrados cerca de 20
euros.
Passado o hall de entrada deparamos com uma escadaria
com janelões totalmente cobertos por pesadas cortinas de um veludo bordeaux.
Descemos até ao Erotic Restaurant, onde se encontram os verdadeiros protagonistas
do Big Sister. Vários casais em lingerie conversam em volta de um copo,
observam-se, deixam escapar sinais de disponibilidade. Tudo em família.
Conhecer o universo dos frequentadores do Big Sister significa cruzarmo-nos com
pessoas com um estilo de vida liberal, uma mentalidade aberta e uma relação
muito natural com o corpo e o sexo. É o caso de Michal e Jana. Casados há 23
anos, admitem que tentam ir ao Big Sister todos os fins-de-semana na busca de
“sexo em grupo, algo diferente e fora dos estereótipos”. “Os tempos em que o
nosso casamento era monogâmico e para a toda a vida fazem parte do passado!
Hoje, fazer sexo e partilhar o corpo com outros casais ou mulheres é algo que
fortalece a relação”, explica Michal, 45 anos, orgulhosamente satisfeito da
bissexualidade da sua mulher.Jana, na sua micro saia preta que não esconde uns
42 anos de pouca atenção ao corpo e uma gravidez, sublinha que procuram casais
com abertura para encontros regulares, uma forma de “não arriscar contrair AIDS”.
Michal acrescenta “que toda a família sempre teve uma grande abertura em
relação ao sexo”, e para prová-lo chama o filho. Jan, de corpo musculoso,
típico dos 20 anos, de onde sobressai um reluzente colar dourado deixa um grupo
de moças para se juntar aos pais. “A única regra é nunca trocar com o nosso
filho nem permitir que nos veja a praticar sexo”, diz Michal enquanto estende
um braço fraternal. Aqui, ‘ver’ o outro adquire outra dimensão, mas para os
frequentadores do Big Sister as câmaras parecem não perturbar jogos de sedução
nem encontros privados.
Denisa
e Virka, ela com 19 anos e ele com 32, beijam-se na boca num
sofá perto de uma mesa. Chegaram ao Big Sister pela primeira vez recomendados
por amigo que aconselhou a experiência. “Até agora é fantástico”, assumem,
entusiasmados com o que vêem. Denisa e Virka estão juntos há dois anos. Têm um
olhar apaixonado, o que não os impede de serem curiosos sobre outras aventuras.
A noite ainda é longa, mas Virka lembra a ideia inicial: “Não viemos com a
intenção de trocar de parceiros, mas sim para desfrutar o ambiente da festa.” O
ambiente é quente e descontraído num espaço com uma decoração pouco glamourosa
e onde (por motivos óbvios) faltam as luzes indiretas. A maioria dos casais,
habitués, revela grande cumplicidade entre si. A partir do bar pode ver-se uma
piscina e, nela, os corpos nus de dois jovens casais tomados pelo apetite
sexual. O pano de fundo é estimulante, o paraíso de qualquer voyeur. Homens e
mulheres trocam piadas em checo, têm uma linguagem corporal que reflete
disponibilidade, risos soltos, contagiantes. “Gosto muito das pessoas, são
simpáticas, comunicativas, têm sentido de humor, gostam de se divertir... como
eu.” Barbara tem uma voz doce e inocente que contrasta com a sua experiência
sexual. Começou por ir ao Big Sister com o namorado nas noites para casais. A
relação terminou mas o vício do prazer fácil e do sexo em grupo tinha ficado
entranhado. Desde há três meses que vai ao clube todos os fins-de-semana, nas
noites para swingers, e em nada a amedronta a possibilidade de ser vista na
Internet por amigos ou conhecidos. “Sou muito exibicionista”, diz esta
estudante de 19 anos. “As câmaras deixam-me louca. Como estou a ser filmada
sinto-me como uma estrela por momentos.”
Tal como qualquer janela indiscreta, a atração do Big
Sister é semelhante à de espreitar os vizinhos na cama pela nesga de uma cortina. A curiosidade
genérica de ver o que fazem os outros é assumidamente a orientação deste clube noturno,
que percebeu que o futuro da indústria do sexo está cada vez mais ligado a
casos reais e menos aos corpos esculpidos e encontros ficcionados que antes
ocupavam o imaginário pornográfico. “Não queremos que ninguém atue, apenas que
se divirtam”, diz Carl Borowitz. As características únicas de cada um e a espontaneidade
do momento fazem o resto. “Já tivemos as situações mais estranhas: pessoas que
não sabem usar um preservativo, gordas, idosas que relatam histórias pessoais,
deficientes, um homem que apareceu com um penis implantado...” Na morada eletrônica
do clube explora-se o lado oposto ao da pornografia. “Quer ver qual é o tamanho
médio de um penis? Quer testemunhar brochadas? A cópula mais rápida alguma vez
filmada? Algumas vezes temos um ar horrível quando tentamos fazer sexo...!”
De regresso ao Big Sister, no epicentro de toda a ação,
Halena e George estão ao rubro e a um passo de subirem ao Paraíso, ao Inferno,
à Concha ou ao Iglu, a qualquer uma das sete suítes temáticas disponíveis no
primeiro piso. Barbara segue-lhes os passos, conduzindo-nos também pelo
edifício labiríntico. Há algo de surreal em tudo isto. Em noites de swingers,
os quartos têm a porta aberta. A decoração é kitsch, com paredes pintadas com motivos
alusivos ao tema e uma profusão de cor, um misto de Jeff Koons com o pior da
Disney World. Uma espécie de sexolândia com sexo banalizado e gemidos como
banda sonora. Todos os quartos estão munidos de televisão, telefone, várias
câmaras e brinquedos sexuais.
É a 20ª vez que George vai ao Big Sister. É aqui que se
sente em casa, que gosta de conhecer novas pessoas e partir para a loucura com
uma ou mais parceiras. Tal como Halena, assume que é exibicionista. Enquanto
exploram o corpo um do outro, recordo as palavras da checa de 24 anos — “tenho
uma sensação diferente proporcionada pelas câmaras. É mais excitante. Sinto que
tenho uma família no Big Sister”. George fica exausto mas Halena ainda tem uma
ponta de desejo para mais intimidade com Barbara.
O Big Sister é realmente um lugar onde tudo pode
acontecer. Um jornalista chinês decidiu fazer uma reportagem aparecendo nu para
mais facilmente se aproximar das pessoas. Entrevistou, fotografou e acabou a
fazer sexo num dos quartos. Em Novembro passado, Jana quis um festejo diferente
para o seu 42º aniversário. Decidiu fazer uma festa de swinger com transmissão
ao vivo pela Net. “Foi a melhor festa de swing de todos os tempos!”
Império à deriva.
Qualquer loucura é bem-vinda. Afinal, é o que alimenta
os vários tentáculos do negócio. O sexo pode ser amador, mas a máquina é dotada
de grande profissionalismo.O Big Sister é um império com vários negócios em
paralelo. Parte do sucesso está em garantir a continuidade de ‘atores’
gratuitamente e em manter a estrutura estimulando os frequentadores habituais
com propostas inovadoras. O investimento feito na manutenção do edifício, do
bar, da equipa é idêntico ao de uma produção cinematográfica. O grande lucro
provém da Internet. Sem precisar números, Carl Borowitz explica que a Internet
é responsável por 80 a 85% por cento do lucro total. Com a Net como motor de
todo o negócio, a grande aposta é a construção de um novo site e a
diversificação de conteúdos para um público específico através de novos sites
como o http://www.swingersoncamera.com e o http://www.couplesoncamera.com/ . Filmes ao vivo e ação em
tempo real são os itens mais procurados... porque nunca se sabe o que acontece
a seguir. O voyeurismo tecnológico
tem um custo de €39,95, o que dá acesso a um arquivo com 9 mil vídeos.
A TV é outra ramificação do negócio. “Pode ganhar-se
bom dinheiro com programas de televisão mas não é fácil arranjar um contrato e
exige outra estrutura.” Com programas a serem transmitidos em Itália, Reino
Unido e Irlanda, o Big Sister continuará a explorar este filão inaugurando
brevemente um estúdio ao nível das melhores estações de televisão do mundo.
“Vamos ter um reality show — com pessoas reais — sempre com algo pré-gravado, e
convidar pessoas a participar, entrevistar. Depois se vê o que acontece.” A
procura de novos parceiros comerciais nas comunicações móveis tem sido bem
sucedida em países como Itália, Israel, Reino Unido e Eslováquia. Expandir o
negócio internacionalmente é um dos objetivos do Big Sister, também atento ao
nicho de mercado dos canais televisivos para redes de hotéis. Próximos passos?
Manter a orientação inicial, não esquecer que a alma do negócio é a atração
pelo real e fazer chegar este realismo a todo o planeta.
Vai ver-me na TV!